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Blogs e redes sociais são aliados dos escritores. Porém…

15/04/2011

Na revista e muito ampliada área de livros do site do jornal inglês “The Guardian”, a escritora de romances históricos Sara Sheridan passa uma reprimenda severa (em inglês, acesso gratuito) em todos os colegas que resistem a ter uma presença ativa em blogs e redes sociais. “Me entristece ver esses escritores – comunicadores profissionais – ficarem distantes de um meio que clama por suas habilidades e que é, comprovadamente, a melhor forma de comunicação com os leitores”, escreve ela.

Sheridan tem uma dose de razão, claro, mas acredito que os recalcitrantes também tenham. Deixando de lado fatores prováveis como ranzinzice e acomodação, é razoável supor que grande parte deles sinta medo de, caindo feito Alice nessa toca de coelho, para usar uma imagem de Margaret Atwood, acabar sem tempo ou cabeça para escrever algo além de posts e tweets.

Escritores talvez sejam enquadráveis, tecnicamente, na categoria de comunicadores, e sem dúvida sempre houve os que se notabilizaram mais pelo talento promocional do que pela qualidade do texto. Isso não muda o fato de que escrever requer uma medida de recolhimento, de silêncio mental, sem a qual é impossível distinguir o que é a própria voz e o que é a gritaria do mundo.

Quem não escreve talvez ache que isso é uma bobagem romântica, um resquício da velha torre de marfim. Com a razoável experiência de quem escrevinha diariamente em blogs, para não mencionar o Twitter e o Facebook, garanto que não é. Acredito que a maioria dos escritores, mesmo sem chegar a tais extremos, compreenda a motivação de Jean Cocteau, que certa vez declarou: “Não passo os olhos num jornal há vinte anos. Se introduzem um no aposento, saio correndo. Isso não é porque eu seja indiferente, mas porque não é possível seguir todos os caminhos”.

Vinda de um sujeito que seguiu uma penca de caminhos – foi poeta, dramaturgo, romancista, cineasta, desenhista e empresário de boxe – a frase de Cocteau merece reflexão. Hoje, seguir todos os caminhos é considerado não só possível, mas indispensável. E o pior é que talvez seja mesmo. Escreva-se com um barulho desses.

10 Comentários

  • daniel barcia 15/04/2011em15:35

    È dificil é incomprencivel,cuanto mas queremos nos aproximar
    mas distantes estamos,o medio de comunicação é fantastico mas,
    nuestra cultura é muito limitada,comunicação aberta mas muito
    controlada pela propia comprenção de nos leitores,muitas vecez
    queremos expresar é comentar escrito da mesma maneira que xingamos
    o cachorro do vicino,cuando nos educaremos para conviver melhor?

  • Claudio Soares 15/04/2011em22:55

    Sergio, 2 (não, 3) conclusões:

    1) Blogs e redes sociais não são aliados, mas a redenção dos escritores;
    2) Sara perde tempo. Certos escritores jamais entenderão que as redes sociais mudam tudo [até processos de criação e escrita]; E ninguém deve lamentar isso.
    3) Cocteau era um grande mentiroso.

    Em poucos dias, inicio a publicação de uma “narrativa baseada em redes sociais”. Isso significa usar o próprio “DNA” da rede social para publicar uma narrativa.

    Interessados, curiosos e supersticiosos poderão acompanhar e participar de KRAPOTKINWARE em O Livreiro, rede social de leitores do InfoGlobo.

    A propósito, Sergio, continuamos aguardando ansiosamente sua visita à “toca do coelho” de Nikolai Krapotkin, este assombrado pioneiro do hiper-romance no Brasil.

    Forte abraço,
    CSS

  • Raquel 15/04/2011em23:27

    Sérgio,

    trazendo essa sensação, ou atordamento, dos escritores para os leitores, às vezes penso que quanto mais leio na internet, menos leio de fato. Será rabugice minha?

    Não acredito em rabugice, Raquel. O tempo de cada um continua o mesmo, não? Só que dividido agora entre novas demandas. Um abraço.

  • zanzoreia 16/04/2011em09:46

    Gostoso de ler, porque não soa falso. Vemos isso por aqui: “Escritores talvez sejam enquadráveis, tecnicamente, na categoria de comunicadores, e sem dúvida sempre houve os que se notabilizaram mais pelo talento promocional do que pela qualidade do texto. Isso não muda o fato de que escrever requer uma medida de recolhimento, de silêncio mental, sem a qual é impossível
    distinguir o que é a própria voz e o que é a gritaria do mundo.”

    Quanto ao Cocteau: Faça o que digo mas não faça o que faço. Vai tomar banho!

  • Giselta 16/04/2011em22:09

    Reiterando…Hoje, seguir todos os caminhos é considerado não só possível, mas indispensável!

  • Augusto Treppi 18/04/2011em00:41

    Fato: As redes sociais aproximam o público, criam a interlocução com leitores. Pode refletir em “sucesso”.
    Fato: As redes sociais afastam o escritor do trabalho de produzir seus livros. Vou além, quanto mais ageis, ocupam inclusive lugar umas das outras. Facebock estaciona blog… tão rápido e eficiente falar por ali, pra que se desdobrar no esforço maior de um blog?
    Agora, o “sucesso” mesmo se faz com o boca a boca, que com certeza se potencializa com as redes sociais. Mas e quando os leitores consomem a sua produção escondidos? Pois é, acontece muito comigo, como rolar o boca a boca então? Difícil né? 🙂

  • Daniel Aço 18/04/2011em10:22

    Como tudo na vida, a internet é um mundo de encantos e desencantos. No mais, é território de ninguém. Mas tem certamente suas vantagens e a ampla vantagem para quem pesquisa e escreve a algum público, mesmo que aleatoriamente restrito e aparentemente desinteressado. É no mínimo patético o sujeito adotar uma postura, a priori e intransigente, de distanciamento e desprezo com relação à internet e às suas redes. Sem muitos conhecimentos, qualquer um pode dominar poucas ferramentas e fazer valer suas escrituras e potencial talento. Sempre tive vontade de escrever e agora, pela internet, sou editor de meus escritos, e sem maiores incômodos. Estou satisfeito com tal trajeto. Talvez até escreva algum livro, mas a internet, por enquanto, vem sendo minha editora. Não posso reclamar, mesmo que eu seja um grãozinho num deserto de ninguém, num território de todos. Se não ganho financeiramente e nem fama escrevendo pela internet, pelo menos sigo sem pagar e anonimamente livre. http://www.blogdecultura.zip.net

  • Fabio 18/04/2011em15:32

    Pois é… e eu que acabo de criar um blog – http://bibliotecadofabio.blogspot.com … gostaria de convidá-los.

  • Regina 18/04/2011em17:24

    Acho que Cocteau não estava mentindo ou tentando fazer apologia de algo apenas para outros seguirem. É uma questão de prioridades, ele seguiu vários caminhos, mas não havia tempo para seguir outros tantos. O noticiário ficou de fora. As mulheres, especialmente, têm grande experiência com a cobrança social por que sigam todos os caminhos, eu digo: impossível.