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Copa de Literatura Brasileira

24/07/2007

Um prêmio que se vende como capaz de escolher regularmente o melhor livro do ano não pode expor ao público nem os gostos dos seus jurados, nem as falhas do seu processo. Mas se a idéia é, como acredito que sempre seja, simplesmente falar de livros, por que não mostrar o processo por inteiro? Por que não dar voz e espaço a cada jurado para explicar sua escolha? E, se escolher o melhor é estatisticamente impossível, por que não tornar o prêmio mais emocionante com um regulamento em que, como nos torneios esportivos, os livros se enfrentam um ao outro até que reste apenas um?

Essa é a idéia da Copa de Literatura Brasileira. Dezesseis livros se enfrentam em quinze jogos. Cada jogo é decidido por um jurado, que explica e justifica sua decisão para o público. O campeão talvez seja o melhor romance brasileiro do ano, talvez não. Provavelmente não. O importante é que o campeonato seja divertido e o debate, inteligente.

Taí, gostei. Muito antes de ser um dos 16 concorrentes, sou um membro da enorme tribo dos que nunca entenderam por que o Brasil simplesmente não consegue criar prêmios literários – com a possível exceção do Portugal Telecom, mas convém aguardar mais um ou dois anos para ter certeza – que tenham relevância cultural, que não sejam meros joguinhos políticos entre editores e livreiros, que mobilizem leitores. Desejo sucesso e vida longa à divertida idéia que Lucas Murtinho acaba de lançar em seu blog Bom dia, França. A relevância cultural eu não garanto, mas o potencial de barulho parece bom.

21 Comentários

  • Mr. WRITER 24/07/2007em19:33

    Pois é… quem sabe essa não é uma daquelas iniciativas de longo praza da qual iremos colher bons frutos?
    Também concordo no que se refere á relevãncia cultural, pode até não ter nenhuma (como quase tudo que se faz no Brasil em relação aos livros e a literatura), mas que vai ter muita gente reclamando e choramingando isso vai. Principalmente os perdedores…

  • Mr. WRITER 24/07/2007em19:36

    Digo:
    “prazo”
    “relevância”

  • Olivia 24/07/2007em21:10

    também porque para saber se um escritor é ou não melhor que o outro acima de qualquer gosto e crítica, só mesmo se a gente fosse vez qual escritor é melhor que o outro no boxe, ou no salto em distância.

    eba!

  • Tibor Moricz 24/07/2007em21:48

    E os jurados serão compostos por quem? Aqueles “críticos” citados pelo Cerveja? Melhor que sejam leitores comuns. Esses não tem critérios nem parâmetros. Votam no que gostam.

  • persia 25/07/2007em00:31

    animado será, competições agitam, e legal que se assuma o gosto, a preferência, que se tenta esconder com bandeira da imparcialidade, com ahãn peso dos nomes dos jurados.

    e gosto sempre de indicações de leitura, pq as publição são incontáveis, o tempo não é tudo isso, a grana então.

  • persia 25/07/2007em00:32

    publicações, claro.

  • Flávio 25/07/2007em10:18

    A idéia é bem interessante. Só tenho medo que se decida alguma peleja de orelhada, literalmente, visto que acho complicado que alguém tenha lido os 16 livros.

  • Felipe 25/07/2007em11:32

    Tomara que dê certo!

  • Bemveja 25/07/2007em11:58

    É uma boa idéia, mas o Brasil não produz 16 bons livros de ficção por ano. Além disso, um bando de blogueiros criticando autores não faz sentido.

  • C. Soares 25/07/2007em12:45

    Podem até não gostar dos comentários do Bemveja, certamente, não por serem ilógicos, desrespeitosos ou levianos, talvez, por colocarem o dedo na ferida. O verdadeiro espírito da internet está salvo nos seus comentários! Vida longa e próspera a Bemveja!

  • Rafael 25/07/2007em13:03

    É duro reconhecer isto, mas vamos lá: a literatura, no Brasil, tem pouquíssima relevância cultural, por motivos sobejamente conhecidos: o universo de leitores é pequeno, a “elite” política, econômica e até cultural não é dada à leitura, os livros aqui publicados não têm repercussão alguma no exterior (salvo, é claro, os da lavra de Paulo Coelho). A conseqüência disso é inelutável: o Brasil não tem condições de criar prêmios literários que tenham relevância cultural.

    Qualquer modificação introduzida nos critérios de julgamento dos prêmios literários será cosmética e quase nada acrescentará que seja verdadeiramente influente no cenário descrito no parágrafo anterior.

    A idéia de Lucas Martinho é válida, porém de resultado prático próximo a zero.

    De resto, seria realmente possível imunizar os prêmios culturais dos “joguinhos políticos”? O prêmio literário mais famoso, o Nobel, não raro é norteado menos por critérios estéticos que por critérios de conveniência política. É verdade que o Pulitzer e o Booker Prize são honrarias menos sujeitas à politicagem, mas são duas exceções notáveis que só frutificaram porque caíram no solo fértil do mundo anglo-saxão com sua venerável tradição literária e crítica.

    Desejo boa sorte ao projeto de Lucas Martinho, sem, no entanto, conseguir reprimir meu sentimento de ceticismo.

    P. S.: Alguém aqui já leu “The Battle of Books” de Jonathan Swift? Aquilo sim é que foi um campeonato divertido…

  • C. Soares 25/07/2007em13:25

    Rafael: e com um começo realmente inesquecível: Whoever examines, with due circumspection, into the annual records of time, will find it remarked that
    War is the child of Pride, and Pride the daughter of Riches…

  • Ana Z. 25/07/2007em13:27

    A idéia é boa. O potencial de barulho eu já não sei. A publicidade entre o público freqüentador de blogs de literatura pode funcionar, mas será que a coisa vai além disso? Em todo caso será divertido, aguardemos.
    A propósito, Sérgio, você sabe como o Lucas chegou aos dezesseis livros escolhidos?

  • Sérgio Rodrigues 25/07/2007em13:37

    Só perguntando a ele, Ana.

  • Lucas Murtinho 25/07/2007em13:52

    Ana, o processo de escolha dos livros foi semi-democrático, semi-autoritário e totalmente esculhambado. Sugeri uma pré-lista para os jurados, que acrescentaram outros livros à lista, e depois todos os jurados votaram nos 16 livros que para eles deveriam participar. Deu na lista que está no site.

    Flávio, na verdade os jurados não precisam ler todos os livros. Cada jurado lê dois livros e escolhe um para passar à próxima fase, como na Copa do Mundo ou nas finais da NBA. No jogo final, todos os jurados votam.

    Para quem estiver interessado, a Copa é plágio descarado do Tournament of Books, organizado pela revista eletrônica Morning News: http://www.themorningnews.org/tob.

    Rafael, meu nome é Murtinho, com u. Sou parente distante do ministro que no fim do século XIX provocou a maior recessão econômica da história do Brasil.

  • Ana Z. 25/07/2007em14:04

    Muito obrigada pelo esclarecimento, Lucas.
    Aguardo, curiosa, o início do campeonato. Que seja um sucesso!

  • Rafael 25/07/2007em14:24

    Lucas,

    Escrevi currente calamo. Espero que você perdoe essa minha escorregadela ortográfica. Sei como é: meu sobrenome, Micheletti, é uma sopa de letras, fonte inesgotável de toda sorte de cacografismos…

    Cláudio,

    Bem lembrado: o parágrafo inicial da “Batalha dos Livros” é memorável. Aliás, você sabe se há (ou houve) alguma tradução para o português? Os que não sabem inglês estão perdendo uma das peças satíricas mais divertidas de todos os tempos.

  • Tibor Moricz 25/07/2007em15:03

    Um dia será Lucas Mortinho…

  • Kleber 25/07/2007em16:25

    Gostei. Só participei de um concurso literário na vida, o Nascentes da USP. Só dizem que você não ganhou. Não há comentário algum sobre. Inclusive, retirei os originais que tinha fornecido para a avaliação e, sinceramente, fiquei com sérias dúvidas que alguém colocou as mãos neles. Não que eu devesse ganhar, meu romance era ruim mesmo, mas acho que nem leram. Concursos, principalmente para inéditos, deveriam ter uma função mais “pedagógica”, por assim dizer. Você escreve para ter retorno, saber o que acham, o que está errado, o que é bom e pode ser melhorado… Com escritores já publicados e conhecidos é mais complicado, há a questão do ego e tal, mas mesmo assim vale o risco.

  • cintia moscovich 30/07/2007em13:08

    Olá, Lucas. A idéia da Copa é do bem e absolutamente fantástica. Como é que vai ser o sistema de, digamos, competição? Como autora, sei que não devo me meter. Mas posso ajudar, já que torço por pelo menos dois livros que não são de minha autoria.
    Beijos,
    Cíntia

  • Lucas Murtinho 30/07/2007em13:57

    Bom você ter gostado da idéia, Cintia. Quem sabe ano que vem, se a Copa pegar, você não participa como jurada?

    Sobre a competição: a cada “partida” entre dois livros, um deles é eliminado e o outro passa para a fase seguinte do campeonato. Então, na primeira fase temos 16 livros e 8 jogos; na segunda fase, 8 livros e 4 jogos; na terceira, 4 livros e dois jogos. Cada um desses jogos é decidido por um jurado, que explica e justifica a sua decisão para o público. Na grande final, todos os jurados votam, e se houver empate eu dou o voto de Minerva.

    Estou aos poucos dando mais informações sobre a Copa lá no meu blog. Ainda nessa semana devo anunciar a tabela com os primeiros jogos, os cruzamentos e os jurados responsáveis por cada jogo. Mas aviso que, infelizmente, você vai encarar uma pedreira logo na primeira fase 🙂 Abraços e boa sorte,

    Lucas