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Copiar

06/12/2008

O velho verbo copiar, do latim medieval copiare (“reproduzir em grande número”, como os copistas faziam com seus manuscritos), tem uma nova aplicação. Estamos falando da acepção ainda não dicionarizada – embora isso pareça ser questão de tempo – que se usa num contexto de troca de mensagens eletrônicas e que tem como objeto direto uma pessoa (“estou copiando você”).

O sentido aqui não é, claro, o de imitar, plagiar, muito menos o de fazer em laboratório uma clonagem do indivíduo em questão. O novo copiar quer dizer incluir (alguém) no circuito de uma troca de informações. Trata-se de um subproduto lingüístico da internet, família de palavras que não pára de crescer. “Como o assunto diz respeito ao departamento como um todo, estou copiando todos os usuários”, diz o chefe ao encaminhar o memorando a uma lista de destinatários maior que a original. Ou em registro mais informal: “Tô copiando o Orelha e a Vê, bjusss”.

Talvez haja um impulso de condensação na origem dessa mudança. Como copiar uma pessoa significa simplesmente fazer uma cópia para ela, a alteração básica seria o fato de a preposição não ser usada. Se a frase fosse “estou copiando (a mensagem) para você”, não seria preciso mexer nos velhos sentidos do verbo. Por outro lado, haveria um gasto maior de palavras.

Outra possibilidade é que se trate de uma simples cópia literal do inglês. É um fato que surgiu primeiro na língua de Bill Gates uma frase como I’m copying you (on this), e de seu nascimento parece ter participado apenas o já consagrado uso informático de copiar – e colar – o endereço de alguém na mensagem. Seja como for, não há motivo para alarme. Línguas são assim mesmo, criativas, e se lhes falta criatividade, copiam. Há indícios de que o novo copiar vem sendo usado com desenvoltura suficiente para vingar em nosso vocabulário.

Publicado na “Revista da Semana”.

7 Comentários

  • Fábio 07/12/2008em14:14

    Sérgio,

    Outra origem, talvez a mais provável, para a nova aplicação de “copiar” pode vir do famoso “CC”, o “Carbon Copy”, presente em todos programas de e-mail. Assim como no quase extinto papel carbono, a idéia do CC é criar uma cópia, daí a acepção do termo “copiar” em nossa língua.

    As boas práticas no envio de e-mail dizem que que a pessoa “copiada” no CC não deve participar da discussão dos e-mails, apenas tomar conhecimento das mensagens.

    Um abraço de seu leitor invisível.

  • Harry 07/12/2008em16:49

    Olá, Sergio

    Concordo com o Fábio. No meio corporativo é muito comum alguém pedir para ser “copiado” ou para que “copiemos” alguém ao passar alguma informação, com a acepção de que esta pessoa não será a destinatária principal da mensagem mas deverá ter ciência do que se passa.

    No trabalho, vejo com bastante freqüencia “Please copy Ms Burton” ou mesmo “Please inform Fulano (Cc’d in this message)”

    Abraço!

  • Sérgio Rodrigues 07/12/2008em20:36

    Fabio, obrigado pela tese do Cc, que parece realmente boa. O problema com seu raciocínio é derivar da simples idéia de “cópia” a nova acepção do verbo, quando na verdade ela inclui um malabarismo – o copiado é o destinatário, não a mensagem. Mas a linha do Cc seria um bom elo perdido.

    No mais, me parece que a sutileza da etiqueta do “leia mas não comente” já dançou faz tempo, vítima do próprio sucesso de massa do novo copiar. Copia-se uma pessoa para incluí-la ativamente numa discussão o tempo todo.

    Harry, obrigado pelos exemplos, mas faz tempo que esse uso de copiar transbordou do “mundo corporativo”.

    Abraços.

  • Francisco 08/12/2008em02:27

    Não é por nada não, mas meu pai tinha radio-amador lá pelos idos de mil novecentos e setenta e bola de maia e ninguêm que fala-se em rádio amador dizia outra coisa, quando recebia a mensagem inteira e claramente.”Copiar”, portanto, era algo relativo a “a informação que você tem, agora eu tambem tenho (uma cópia)”. A internet não pariu o mundo.

  • Sérgio Rodrigues 08/12/2008em11:44

    Francisco, a gíria “copiou?” ou “copiado?” das conversas radiofônicas (amadoras ou não) é realmente velhinha e tem o sentido de “ouviu, compreendeu?”. Não guarda relação alguma com o “copiar fulano” da internet. Que realmente não pariu o mundo, mas esta acepção parece ter parido sim.

  • Daniel Brazil 08/12/2008em20:24

    Talvez a história dos rádio-amadores dê uma outra pista, Sérgio. O significado de “copiou?” pode ser entendido também como “registrou?”. Nesse caso, “copiar” uma pessoa teria a mesma acepção, de registrá-la, colocá-la nos registros.

  • Marcelo Melgaço 04/01/2013em09:35

    Me parece cabível a hierarquia do vocabulário dos “walktalks”. Em uma busca rápida encontrei antigos, mas não datados, indícios do uso por pilotos e até mesmo uma sugestão da era dos telégrafos, quando um operador ia escutando os longos e curtos do código Morse enquanto interpretava e “copiava” a mensagem em papel. De toda forma, realmente fabulosa a “metamorfose ambulante” que é a comunicação humana.