O leitor Daniel Brazil pergunta de onde vem o arco-da-velha, hoje presente quase exclusivamente na expressão “do arco-da-velha”, que significa “inacreditável, inverossímil, fantasioso”. Bem, arco-da-velha é simplesmente um dos nomes tradicionais do arco-íris. É sinônimo de arco-da-aliança, arco-celeste, arco-da-chuva e arco-de-deus. Como todos esses termos, anda em desuso.
E por que da velha? O que uma senhora idosa tem a ver com o bonito fenômeno meteorológico? “Ainda não se deu explicação suficiente”, anota o filólogo Silveira Bueno, para em seguida apresentar uma explicação: “A maioria pensa que seja em referência do fato bíblico: após o dilúvio, quando Noé oferecia um sacrifício a Deus, apareceu o arco-íris, sinal do termo da velha aliança e do começo da nova aliança”.
Embora no cristianismo, diferentemente do que afirma Bueno, a expressão “nova aliança” seja empregada em relação ao Novo Testamento (a de Noé era, portanto, a velha), é verdade que as alianças referem-se aos pactos que, segundo as Escrituras, Deus estabelece com os mortais. Registre-se que arco-da-aliança é um dos sinônimos de arco-da-velha.
Quanto ao sentido de coisa inverossímil, fantástica, bem – mesmo que se deixe de lado a própria história de Noé, o arco-íris, com sua beleza impalpável e fugaz, sempre se cercou de fabulações delirantes, do pote de ouro à mudança instantânea de sexo.
Isso liquida a questão, certo? Não exatamente. Acontece que “arco” tem muitos sentidos e um deles é “baú, arca”, o que pode trazer a expressão para um campo semântico bem diferente. Uma história do arco-da-velha seria, assim, apenas tirada “do baú da anciã”, quem sabe “da bruxa”. A palavra “carochinha”, também usada nesse papel, veio de “carocha”, regionalismo português que quer dizer “mulher velha, feiticeira”.
Entre a Bíblia e o paganismo, o arco-da-velha balança. E o bacana da etimologia, embora seja também meio desconcertante, é que as duas interpretações podem ter contribuído ao longo do tempo para o sucesso do expressão.
Publicado no NoMínimo em 1/12/2006.
28 Comentários
Agora posso comentar, Sérgio?
Vou arriscar.
Bem, nunca havia pensado nisso, mas diante de sua postagem posso arriscar?
“Arco da velha”, poderia ser “Arco da Velha Aliança”.
Jesus, é a Nova Aliança no Sangue dEle.
O Arco Íris faz parte da Arca ( proteção) na Antiga Aliança, prometendo não mais acabar o planeta com dilúvio. E o Arco ìris seria para lembrar isto ao homem. Bem, não foi alguém que disse. Está escrito.
Seria mais interessante que disséssemos Arco da Antiga…
Assim como muitos dizem Velho Testamento, mas o certo é Antigo Testamento.
Teria muito a dizer sobre isso. Mas quero respeitar seu espaço.
Ficamos assim, quando o assunto se referir ao meu, entro e comento, tá? E tem mais… comento só o necessário.
AFinal quero ser Jornalista, e estou aprendendo…
será q faz sentido teologizar o arco da velha?? viajamos na maionese etimologica… hehehe http://www.luizvcc.wordpress.com
Estava aqui pensando, Sérgio! Para ficar mais correto, não vou comentar nada sobre Literatura, e sim sobre a Palavra é.
Você deixa eu participar do Palavra é? Prometo não sair do assunto e prometo não fazer nada tendencioso.
Ok.
Obrigada.
Um abraço,
Rosângela
Ah… fala para o Tibor e Rafael ficarem de bem comigo. Fala para eles que estou aprendendo ainda. Estava muito bruta, estou sendo lapidada.
O comentário sobre o Arco da Velha foi até explicado, mas não foi justificado.Vou pesquisar outras fontes.
Tai, gostei da forma como você clareia aos incultos (assim como eu), o sagrado mistério do “arco-da-velha”. Jamais iria imaginar que alguém se propusesse com este tema, digo: com uma palavra composta; composta de mistério até então insignificante para mim.
VALEU.
Sérgio, achei muito interessante a etimologia de arco-da-velha que apresentaste. Consta na Bíblia, Antigo Testamento, a aliança que Deus fez com os homens de não mais exterminar a humanidade com água, aliança essa que foi expressa cvom um arco no céu. A propósito, em relação à frase de Gore Vidal, pelo menos fora de um contexto, não concordo com ela. Romance ainda é muito importante, como criação, como meditação, inspiração. Obrigada.
valeu o esforço mas realmente não convenceu…
de qualquer forma obrigado.
keep walking johnny walker…hehehe
não convenceu mas de toda forma valeu pelo esforço…
abração
Prezado Sergio,
Tenho o significado de “do arca da velha” como algo antigo, do passado, diferentemente do que mencionaste no artigo.
Entretanto, confesso: agora você me deixou na dúvida.
Sucesso sempre.
É uma explicação pausível. Quem não ficou convencido que apresente outra explicação; até lá, ficarei com a do autor.
Parabéns!
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Para mim a vida toda achei que a expressão significava coisa ou fato muito antigo; “do arco da velha”….
A expreção arco da velha.
Exemplo. Ele faz coisas do arco da velha.
Se relaciona ao fato da velha ser arcada pela idade.
Nada mais que isso.
Caros leitores:
Do Houaiss: arco da velha – que pertence ao campo do espantoso, do inacreditável, do inverossímil. (Não consta a acepção de antigo, embora nada a impeça de também existir na língua viva, talvez em ingênua ligação direta com “velha”.)
Também não sei a que diabos se refere quem diz que o texto “não convence”, uma vez que ele apresenta basicamente todas as possibilidades que cercam a palavra – não acredito que tenha escapado alguma mas, se tiver, espero que me iluminem.
Mas que alguns comentários são do arco-da-velha, são.
Abraços a todos.
Prezado Sérgio, desde criança eu aprendi com meus pais, na zona rural de Minas Gerais, exatamente isso que você explica. Não por acaso, a Bíblia é dividida em Velho e Novo Testamento, o mesmo que Velha Aliança e Nova Aliança. A primeira foi feita com Noé; a segunda, em Cristo.
Não sei se pode ser impressão minha, ou não, que o assunto do blog passado pode ter ficado ainda ecoando um pouco aqui. Então me reservei o direito de também dar um toque no Daniel Brazil. Olha, meu, eu só fiquei incomodado, porque aqui no Brasil a gente ainda vive numa democracia e ninguém é obrigado a ter uma opinião só – principalmente sobre alguém – com o que você falou sobre ser uma crítica inválida porque o autor do comentário, no caso eu, seria preconceituoso com GGM só porque ele seria “de esquerda”. Até onde eu saiba, aqui no Brasil a esquerda é múltipla. Alinha-se aqui ou ali. Portanto não é propriedade sua, nem minha. No entanto, se ficou faltando explicação de qual esquerda eu me referia, fica aqui a dica: aquela alinhada com Cuba.
Será que eu estou enquadrada ali na finalização do Sérgio? iiiii
Sobrou… rsrs
Obrigado pelas explicações, Sérgio. Acho arco-da-velha uma expressão encantadora. Mesmo depois de dissecada, mantém o charme.
Marcelo ac, achei uma bobagem você afirmar que que ter lido GG Márquez foi “pura perda de tempo”. Está claro agora? Nada a ver com política, mas com gosto literário.
Daniel, valeu! Só que acho difícil dissociar o escritor do homem, o intelectual do artista. As coisas estão muito imbricadas, mexe muito com o imaginário de um povo, de toda uma sociedade. E aí, então, dependendo do caso, entra muito o aspecto da ética. Não sei, mas acho que o assunto não dá para ser discutido aqui.
Faça uma forcinha, Marcelo. Você conseguirá!
Proponho o seguinte exercício: Faça uma lista dos dez escritores que você mais admira, de todas as nacionalidades e épocas.
Agora, classifique por ideologia. Quem apoiava o rei, quem era contra, quem era religioso, quem era ateu, quem foi de direita ou de esquerda, etc.
Viu? A qualidade literária está acima dessas coisas.
Daniel, sua proposta é irrecusável. Pelo homem brilhante que você é, fico com a famosa frase de Marx: Por trás de toda obra há uma ideologia. Você pode gostar mais, ou menos, do que eu falei, não importa – ela baliza um pouco a discussão. No entanto, você pode usar também a cultura e seus produtores culturais para a “construção da realidade” que os pós-modernos propõe (ou ex pós, seja como for). Também pode usar o “constructo” da psicologia, o diabo a quatro. Só o que não vai acontecer é a continuidade desse diálogo. Não sou maluco de defender tese em post nenhum, nem de querer ser mais ou menos brilhante que você. Minha contribuição está aí, faça o que quiser, pense o que quiser. Nâo vou voltar mais ao tema, seja qual for a sua argumentação. Coragem, o silêncio também é legal.
Na verdade, até onde sei, a aliança de Noé é a Velha Aliança e não a nova que só viria a ser consolidada com Cristo. Sendo assim, ficaria mais clara a expressão Arco da Velha (a que achei mais verossímil.
Sem dúvida nenhuma você está certo, Vinícius. Tudo indica que Silveira Bueno entendia mais de etimologia que de catolicismo. A expressão faz ainda mais sentido neste caso. Um abraço.
Achava que “do arco da velha” significava coisa muito antiga… 🙁
“Antigo” não é o sentido tradicional e dicionarizado da expressão, Emerson, mas também se encontra por aí, provavelmente por um desenvolvimento mais recente puxado pelo termo “velha”.
Aqui no interior de sampa significa coisa antiga.
sei que essa postagem é muito antiga mas a definição que você passou sobre o tema não condiz com o coloquialismo da minha região (vale do paraíba). Aqui, arco da velha se refere a alguma coisa antiquíssima.
Leia as respostas que dei aos comentarios acima.