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Dieta

30/01/2008

Eis uma das lições que o estudo da origem das palavras nos ensina: somos menos moderninhos do que imaginamos. Dada a obsessão de nosso tempo com o corpo esbelto e saudável, quase se poderia desculpar quem, sem parar para pensar muito, imaginasse ser a palavra “dieta” uma invenção do século 20, quem sabe até adaptada do inglês diet. Quase se poderia desculpar – se não fosse um erro imperdoável.

Em português, “dieta” nasceu no século 15, mas sua matriz chega perto de se perder num passado imemorial. A palavra veio do latim diaeta, “parcimônia à mesa”, um dos requisitos da mens sana in corpore sano, “mente sã em corpo são”. Diaeta, por sua vez, era derivada do grego díaita, “modo de viver”. Convém não esquecer que o culto ao corpo esbelto e saudável nasceu na antiga Grécia, e que talvez fosse ainda mais importante para eles que para nós.

Não surpreende que a primeira acepção de dieta em velhos dicionários já tivesse, portanto, fumaças científicas. Tratava-se do regime pregado por uma certa corrente da medicina, visando ao equilíbrio total do organismo. Incluía, além de comida e bebida, “o exercício, a quietação, o ar que respiramos, as paixões d’alma, as evacuações e retenções cotidianas” (dicionário de Rafael Bluteau, início do século 18).

Ao longo da história a palavra se espalhou por sentidos correlatos: conjunto de alimentos ingerido habitualmente por uma pessoa ou grupo de pessoas, abstenção alimentar e até, por metonímia, assembléia política (derivado de reuniões realizadas à mesa, segundo a maioria dos filólogos). Nada disso obscurece a ligação entre os primórdios do vocábulo e o sucesso das atuais dietas de grife, como as de Atkins, Sonoma, South Beach, Beverly Hills, Hay e até Jesus. A mudança foi de método e escala, não de substância. Como se disse, somos menos moderninhos do que imaginamos.

Publicado na “Revista da Semana”.

12 Comentários

  • Uma 30/01/2008em19:04

    A palavra é…”carnaval”…

  • Brancaleone 30/01/2008em23:44

    Agradeceria uma força para este pessoal aqui. Poetas, escritores e cineastas mambembes e idealistas. Vão lá e dêm um forcinha:

    http://www.expediciondondemiras.blogspot.com

  • marcus 31/01/2008em03:40

    este blog já foi interessante. lamentável.

  • Sérgio Rodrigues 31/01/2008em10:13

    Como prestação de contas a todos – e para fazer justiça aos novos leitores que têm desembarcado por aqui aos magotes: críticas construtivas como essa aí do Marcos à parte, tudo indica que, desde o fim do NoMínimo, nunca tantas pessoas acharam o Todoprosa tão “interessante”.

    Embora a renovação venha sendo feita, momentaneamente, no esquema dia-sim-dia-não, a audiência do blog cresce sem parar: esta semana está sustentando uma média de 1.300 visitantes e 2.700 pageviews por dia.

    Muito obrigado aos leitores velhos e novos, e um ótimo carnaval para todos.

  • Mr. WRITER 31/01/2008em11:30

    Sergio,
    bom senso, bom gosto e inteligencia não foram feitos para todos…

    Paciência né mesmo?
    Tudo tem seu preço, inclusive ter terreno aberto em caixa de cometário.
    Mas veja o lado bom, assim temos alguma coisa engraçada da qual rir…

  • Tibor Moricz 31/01/2008em11:49

    Obrigado, Sérgio. Detesto Carnaval, mas aprecio bastante o período de descanso que ele proporciona. Você vai sair em que escola de samba? 🙂

  • Daniel Brazil 31/01/2008em17:13

    A que mais influenciou o mundo foi, certamente, a Dieta de Worms…

  • persia 31/01/2008em17:21

    Dieta e moderação, ai! Viva (a)o carnaval!

  • Cezar Santos 31/01/2008em17:50

    carnaval? o que é isso?

  • Brancaleone 31/01/2008em23:31

    Dizem que a dieta do milho é infalível e saudável. Eficientíssima, elimina a gordura e enrigesse a musculatura. Se feita de forma correta e completa, bronzeia!!!

    É facílima de ser feita.

    Cria vergonha na cara, pega uma enxada e vai capiná sem camisa uns dois ou tres alqueires de terra e plante milho nos dois ou três alqueires…
    Vai emagrecer que é uma beleza, pegar um bronze criar uns músculos e não fica aqui, lendo burrices como esta que está lendo agora…

  • Carlos Magno 31/01/2008em23:56

    Brancaleone:

    Quem mora no Rio de Janeiro não pode “capiná”, ou “carpir” como você lá do Paraná sugere. A gente olha para os lados e só vê asfalto (também assaltos, mas deixe isso pra lá!)

    Aqui tem dois caminhos. Ou suar feito camelo de carga do Saara, numa das praias da zona sul, dando vez por outra uns mergulhinhos para não morrer desidratado, ou enfrentar o trabalho a 40 graus, de paletó e gravata.

    Aqui a gente não planta nem colhe milho, mas tira minhoca do asfalto, isto é, antes ou depois de ir a praia.

  • Brancaleone 01/02/2008em22:07

    Num é por nada não Carlos Magno, mas vida de carioca é um saco nénão?