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Faustini

03/06/2008

Qualquer um que acompanhe com um mínimo de atenção a literatura brasileira sabe que o escritor mato-grossense Manfredo Faustini se especializou em escrever sobre o Tinhoso nas mais variadas formas: mulheres, crianças, capitalistas, políticos, animais, espíritos, todas as suas engenhosas histórias giram em torno de personagens que se revelam diabólicos em algum momento. O sucesso de público e crítica veio depressa. Um dia um amigo lhe perguntou como era possível que, com todos os demônios, ele nunca tivesse escrito nada sobre o tema do escritor que vende a alma ao Rabudo em troca de glória. Faustini desconversou, contrariado. O amigo estranhou: achava a idéia soberba, tinha antecipado uma reação bem diferente. E Faustini deve ter ficado irritado mesmo, porque depois disso a amizade deles esfriou e não demorou a morrer.

37 Comentários

  • C. S. Soares 03/06/2008em10:23

    Pois é Sérgio, como já escreveu Rudyard Kipling (aqui, um demônio metafórico, mas sempre um demônio): “Quando o seu demônio está no comando, não queira pensar conscientemente. Solte-se, espere e obedeça”. Aos outros (os demônios, o inferno enfim, são os outros), exorcizai-os… exorcizai-os…

  • clara lopez 03/06/2008em10:56

    Interessante paráboloa, Sérgio. Não contente, fui ver se o tal Manfredo Faustini existe ou existiu mesmo, o google não reporta, então não existe e se trata mesmo de fábula. Mas se existir, e for invisível ao google, continua boa estória.
    um abraço,
    clara lopez

  • Tibor Moricz 03/06/2008em11:47

    Faustini vendeu a alma ao diabo. É alemão embora negue e qualquer menção ao trato (mesmo que sob disfarce ficcional) o irrita. Tem um gato chamado Mefistófeles e é amigo de Sérgio Rodrigues com quem faz seus desabafos.

  • Chico 03/06/2008em12:46

    Achei esse conto um pouco fraco, Sergio. Falta o knockout do qual o Cortazar falava. Mas nao leve a mal, pois ja elogiei outros teus com essa mesma siceridade de leitor.

    Quanto a discussao do Rulfo, interessante ver como o Octavio Paz sacaneou, prosaicamente falando, o Rulfo e muitos outros escritores vetando-os e vetando quem falasse sobre eles na Vuelta por considera-lo um amanuense inculto.

    Encontrei esse artigo antigo que ateh me fez lembrar a questao do nome do Concurso do Estado de Sao Paulo, que para alguns chega a ser irrelevante.

    http://observatorio.ultimosegundo.ig.com.br/artigos.asp?cod=358AZL001

  • André Gonçalves 03/06/2008em14:09

    Sérgio, será mesmo preciso vender a alma ao diabo para fazer sucesso? E o que é “sucesso”? Fico lembrando (já que o post abaixo era sobrefutebol/literatura) dos peladeiros: tem tanto craque na várzea, e tanto perna de pau na Seleção… Será que, por não conseguir chegar a uma Copa do Mundo, os peladeiros devem parar de jogar futebol?
    Em tempo: acontece, em teresina, a 6ª edição do SALIPI – Salão do Livro do Piauí. Ignacio de Loyola Brandão, Zuenir Ventura, frei Betto, Assis Brasil, estão por aqui. Entre os locais, a eterna choradeira: as editoras, o mercado, os novos, os sem chance… Abraço!

  • Chato 03/06/2008em15:25

    Gostei desse “Fausto em versão aperitivo”.

  • erico 03/06/2008em16:38

    Esse é o problema da literatura de sacadinhas, depois do “aahhh” não sobra mais nada. Mal Sérgio.

  • erico 03/06/2008em16:39

    Concordo contigo chico..aliais quanto ao espanto de alguns leitores quanto a “veracidade” do Faustini, bem, nada que o borges não já tenha feito uns vinte anos antes, ok?

  • Sérgio Rodrigues 03/06/2008em16:53

    Érico, você tem razão num ponto: Borges é realmente melhor do que eu. Mas há vinte anos já estava morto.

  • C. S. Soares 03/06/2008em16:55

    Borges, Nabokov etc, e daí, Erico? Isso pouco importa. Ou vc que os mestres citados eram totalmente “originais”? Escritor reescreve seus gostos como leitor. Isto é fato. O próprio argentino (um dos meus prediletos, mesmo que fosse torcedor do Boca) confessou, por exemplo, que seu “O Livro dos Seres Imaginários” foi “inspirado” no ótimo “Vidas Imaginárias” de Marcel Schwob. Assim é a vida.

  • C. S. Soares 03/06/2008em16:56

    * “ou vc ACHA que os mestres…”, para ficar mais inteligível.

  • C. S. Soares 03/06/2008em16:57

    Sérgio, discordo, Borges não morrerá, jamais. 🙂

  • C. S. Soares 03/06/2008em16:59

    Sérgio. o conto é ótimo. Do modo como vc o escreveu, tb me deixou a dúvida sobre a existência ou não de Faustini. Parabéns!

  • Sérgio Rodrigues 03/06/2008em17:19

    Valeu, Cláudio. Você, que já andou me perguntando sobre isso, talvez tenha reparado que este é o miniconto mais mini da história dos Sobrescritos. Me fez entender melhor aquela frase de um especialista no “gênero”, acho que argentino: “O miniconto só pode ser lido de soslaio”. Se não tiver sido isso que ele disse, é parecido.

  • erico 03/06/2008em17:48

    Sérgio: haha vinte anos.. dá nisso falar sem pensar. C.S. Soares: você deve ser destes que acham que tudo já foi feito, né velho?
    Sou novo no Todoprosa, então ainda não entendi qual a proposta do Sobrescritos… me parece pura diversão do autor do blog. Então, tá.

  • Euterpe 03/06/2008em19:15

    Hihihihi…fiquei pensando: “p.q.p…devo ser uma alienada total mesmo…nunca ouvi falar desse Faustini…”

  • El Torero 03/06/2008em19:22

    Lendo a primeira frase, pensei: Ué!!! começou a repetir os contos também,”começos…” estão sendo-os mais antigos! Creio que pelo ritmo, me fez lembrar “O caso dos escritores Jerominho”, um dos que mais gostei desde que leio o “Todoprosa”. Parabéns por este também, gosto do ínicio-fim colados,grudados…para le-lo, somente de soslaio.

  • Felipe 03/06/2008em21:07

    Mas ninguém falou em Paulo Coelho? Tô estranhando a turma, Sérgio… 🙂

  • Léia Carvalho 04/06/2008em10:01

    Paulo Coelho? Li Paulo Coelho? rs
    Manfredo Faustini tem o “trancarua” em si com naturalidade. Ha quem tenha o dom de contruir o mal para destruí-lo com o igualmente criado bem…

  • Léia Carvalho 04/06/2008em10:04

    Ah! Precisamos da escuridão para enteder a luz (que piegas isso)

  • C. S. Soares 04/06/2008em11:45

    Erico, taí, não sei lhe responder isso. Penso e repenso essa questão, mas ainda não sei a resposta.

    Mesmo que algo (ainda) não tenha sido feito — observe que aqui considero o modus operandi, poderemos fazer tudo diferente se o mudarmos, claro –, trabalhamos com a Estatística e esta, obrigatoriamente, deve considerar os “pontos fora da curva”.

    Logo, há possibilidades. Mas em geral o “inovador” é mais resultado de nossa própria ignorância do passado.

    Aceitemos: muito já foi produzido. Seria no mínimo falta de humildade considerar-se “totalmente inovador”, até porque constrói-se sobre estruturas já existentes.

    Borges enfatizava a “entonação” do autor (mais importante do que a história contada, dizia). Sua entonação (Casares identificou) era de um articulista, de um ensaísta que escrevia contos.

    Estou lendo uma monografia (de uma russa) que compara a obra de Borges e Nabokov: ambos amantes da Ciência, no que não diferem (guardando as devidas proporções) de Verne, Doyle e Well.

    É curiosa a epígrafe da monografia: “Los contemporáneos estamos escribiendo todos el mismo libro”, Borges. Alguém aqui duvida?

  • C. S. Soares 04/06/2008em11:46

    Concordo Sérgio. E se o argentino não tiver dito isso, está valendo também, nem que seja como mais um miniconto 🙂 Abs

  • Chato 04/06/2008em13:54

    Sobre originalidade, penso que ela deve ser entendida como a fidelidade do autor a si mesmo (essa é, por exemplo, a visão do Kafka, vide o importante livrinho recém lançado, das conversas dele com seu jovem admirador Gustav Janouch).

    Quando o autor não faz concessões a gosto e expectativas alheias, e também encontra e consegue comunicar sua voz própria, ai, e só aí, ele é digno do adjetivo “original”.

    Quanto a forma, entonação, efeito e intensidade do texto, nada é realmente novo, e só um tolo acharia que existe (ou existiu algum dia) um escritor virginal, um Kaspar Hauser que do nada trouxe a lume toda uma nova escrita ou uma nova temática. Se aprendeu a ler e a escrever, tem influência.

    Assim, pra voltar ao tema real – o post do miniconto do Sérgio – penso que ele pode não ter inovado na forma (minoconto), nem no conteúdo (pastiche ou paródia de um texto clássico), como de resto todos os outros autores desta nossa época velha da humanidade (jovens foram os da época antiga), mas tem sua voz pessoal – além de possuir o mérito da síntese e da concisão – o que já faz, por conseguinte, a obra original.

  • clara lopez 04/06/2008em14:39

    oh, sergio, continuo me sentindo no seu site como se fosse “a mulher invisível” 🙂
    um abraço, bye,
    clara lopez

  • Sérgio Rodrigues 04/06/2008em14:44

    Mas por quê, Clara?

  • erico 04/06/2008em16:15

    C.S.Soares, penso que seja exatamente essa “entonação” de ensaísta, a que se refere Bioy Casares, o que fez de Borges um escritor inovador – ironicamente uma limitação sua como contador de histórias que o permitiu criar uma literatura nova (hoje, putrefata e fedendo, como muito bem nos lembrou o Sérgio Rodrigues com seu Faustini). Também considero uma questão difícil. Quero acreditar que ainda existam caminhos. abs

  • C. S. Soares 04/06/2008em16:25

    Erico, torço para que vc esteja certo. 🙂

  • Sérgio Rodrigues 04/06/2008em16:43

    Érico, não precisa gostar, não. Mas tente ser um pouco mais educado. Aprenda com o Chico a criticar com elegância e tente fazer comentários um pouco menos ressentidos e mais bem escritos, se quer mesmo continuar freqüentando esta casa. Como é óbvio, mas eu ainda não havia mencionado para não humilhá-lo mais do que já tinha sido obrigatório na questão dos “vinte anos atrás”, o Faustini só tem a ver com o Borges para um sujeito de referências literárias bem limitadas.

  • erico 04/06/2008em16:58

    Ok, você perdeu um leitor.

  • erico 04/06/2008em17:01

    Queria saber quais são as referencias que um cara limitado como eu perdeu, além do trocadalho do título, deixa ver..Goethe. Grande coisa, hein?

  • Sérgio Rodrigues 04/06/2008em20:18

    Caramba, dar bula de texto ficcional é o fim da picada, mas talvez não se possa estar na internet sem fazer certas concessões, então vamos lá. Não tem charada nenhuma, referência velada nenhuma, nada a ser “desvendado” nesse miniconto. O nome Faustini é uma citação tão óbvia que dispensa comentários. Só vale lembrar que o tema do Fausto, embora tenha ganhado projeção maior com Goethe, é muito anterior a ele. Trata-se de uma lenda medieval alemã, e suas traduções em obras a partir do Romantismo são incontáveis. O tom de understatement da narrativa em questão, vizinho da anedota cronística, tem muito mais de Verissimo que de Borges. E sua filiação à teoria do iceberg de Hemingway, me parece, salta aos olhos. Dito isso, não é nada de mais mesmo. Um exercício de ultracondensação, só isso. That’s entertainment, folks.

    Aos que ainda estão por aí depois dessa conversa desagradável, abraços.

  • Tibor Moricz 04/06/2008em20:39

    Abraços pra você também, Sérgio.

  • Tomás 05/06/2008em11:54

    Noooossa, Sérgio, vc perdeu um leitor!
    Vai conseguir dormir à noite?
    Se tiver algum problema posso falar com minha avó, que ela consegue uns remédinhos bons, ansiolíticos que só ela compra sem receita.

  • erico 05/06/2008em12:00

    É, Sérgio. Totalmente desnecessária a explicação, cara.
    Até para mim, que você julgou limitado. Quando você começou a cagar regras, pensei que tivessem segredos valiosos escondidos para além da minha pobreza intelectual e das tuas vírgulas no lugar. Mas é isso. Fica na paz. E lembra de mim quando for escrever o Faustine II – A Revanche.(PS:Cara, você não tem senso de humor?)

  • erico 05/06/2008em12:01

    Tomás…bom o resto você já sabe.

  • Sérgio Rodrigues 05/06/2008em12:01

    Tenho uma idéia melhor, Tomás: convença sua avó a dar uma chance ao meu texto, quem sabe ela gosta. E se ela for conservadora e não gostar de ler na tela, tem uns livros aí também. Grande abraço.

  • Tomás 05/06/2008em14:02

    Agora falando sério, acho que seria muito difícil convencer minha avó a ler qualquer obra sua, Sérgio.
    Até o ano passado ela nunca havia aberto um livro na vida.
    Por isso mesmo, minha maior felicidade profissional foi saber que ela leu, com gosto, quase metade do meu livro.
    Abraço!