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Filme de Saramago é um longa sobre a morte, diz diretor, que ataca o governo português

08/08/2010

Uma edição especial de José e Pilar, com 40 minutos de imagens que foram incluídas e de outras que ficaram fora do documentário sobre a intimidade do escritor português José Saramago e sua mulher, a jornalista espanhola Pilar Del Rio, fechou a programação da Flip neste sábado. Um sábado sem grandes acontecimentos. A mesa dos cartunistas underground Robert Crumb e Gilbert Shelton, que era uma das mais aguardadas da festa, decepcionou. A do poeta Ferreira Gullar constituiu mais uma homenagem que um debate. Também a sequência de cenas de José e Pilar foi morna. O filme parte da ideia de mostrar a intimidade do escritor. E acaba tendo seu ponto mais interessante na abordagem da morte – não só porque Saramago já estava doente durante as filmagens, mas também porque o olhar do diretor, o português Miguel Gonçalves Mendes, o conduziu a isso. “O filme é sobre os dias atuais e como lidamos hoje com a morte”, disse Mendes. “Esse é um tema forte para mim. Morro de medo de morrer.”

José e Pilar será contado em ordem cronológica, porque as 230 horas de gravação feitas por Mendes acabaram acompanhando o processo de feitura de A Viagem do Elefante, um dos últimos livros de Saramago. Aos 84 anos, o escritor conta que não tira férias há 20, e que não consegue parar, porque sente a proximidade da morte e a urgência de escrever.

Outro ponto forte da sessão foram as críticas de Mendes a Portugal, e em especial ao presidente Aníbal Cavaco Silva, que chamou de “idiota”. “O nosso presidente é um idiota, não foi ao enterro de Saramago. Mas, também, o que se pode esperar do homem que vetou a indicação de O Evangelho Segundo Jesus Cristo ao Prêmio Literário Europeu”, disparou Mendes, lembrando o caso que deixou o escritor desgostoso com seu país e o fez mudar para a Espanha. “E as pessoas em Portugal ainda o consideram traidor por causa disso. As pessoas são estúpidas.”

O filme também revela o papel importante de Pilar na vida do marido. A jornalista, que possuía uma carreira consolidada na Espanha, deixou tudo de lado para se dedicar a trabalhar para o escritor, acompanhando-o em viagens, ajudando na triagem dos convites recebidos e opinando sobre a sua obra. “Eles brincavam, a dizer que estavam juntos havia 60 anos, porque passavam todo o tempo juntos.”

Na verdade, Pilar e Saramago foram casados por cerca de 20 anos. Quando o escritor conheceu a jornalista, ele já tinha mais de 60 anos. O encontro marca a cena final do filme, por meio de uma apaixonada declaração do português para a espanhola. “Se eu tivesse morrido aos 63 anos, antes de te conhecer, teria morrido muito mais velho que agora.”

Maria Carolina Maia

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