A Flip 2008 teve altos, baixos e, sobretudo, médios, mas termina como um bom filme hollywoodiano: deixando no freguês a impressão de que, se a redenção do herói é possível, então existe justiça no mundo. O que, como se sabe, é apenas uma ilusão, mas disso também se vive.
Se o colombiano Fernando Vallejo, rei dos marqueteiros, tivesse conseguido roubar a cena de um escritor sério como o holandês Cees Nooteboom, na tarde-noite de sábado, o mundo estaria perdido. Ele bem que tentou, dizendo asneiras do tipo “toda literatura escrita em terceira pessoa é mentirosa; como o narrador pode saber o que se passa na cabeça de alguém?”. Nooteboom não perdeu tempo com isso: “O escritor é um mentiroso por natureza”. No fim Vallejo foi reduzido ao seu verdadeiro tamanho, e o sábado pôde caminhar para a apoteose da aula de Stoppard, que apresentei abaixo.
O domingo também teve sua nota redentora. A mesa sobre futebol, compartilhada pelos dois intelectuais brasileiros que dedicaram mais horas de reflexão ao assunto, Roberto da Matta e José Miguel Wisnik, foi uma espécie de confraternização final que ajudou a borrar com o diluidor da “paixão nacional” a geografia política de um evento que, mais que nos outros anos, carregou nas tintas de algo feito por e para São Paulo. Mas Da Matta é de Niterói, a camisa canarinho é de todos nós, e… The End!
Fora isso, a cidade estava adorável como sempre. Houve um nítido esmorecimento no número e na animação das festas-de-varar-a-noite, e no sábado as ruas estavam mais transitáveis (leia-se menos abarrotadas) que ano passado, o que deve ser natural num evento que vai perdendo o frisson de novidade para se firmar no calendário. E o papel de principal ponto de encontro do pessoal que circula em torno do livro no país parece estar consolidado.
A nuvem mais escura no céu pode ser apenas uma impressão minha, mas acho que convém investigar direito: há sinais de que o interesse despertado pela Flip no restante do público nacional – isto é, em todo mundo que gosta de literatura, mas por razões variadas não se manda para uma inflacionadíssima Parati – nunca foi tão baixo.
22 Comentários
Parabéns pela “cobertura”, Sérgio. Foi gostoso e interessante acompanhá-la pelo seu blog.
Senti falta de uma análise mais longa e pormenorizada.
Acho que o marqueteiro conseguiu roubar a cena. Dá para ler sobre ele em quase todos os sites que abri, ontem e hoje. Quanto ao holandês…só vi aqui.
Sérgio, gostei muito de seus posts a partir de Parati. E, olha, só não voltei à Flip por “culpa” da própria organização do evento. É muito chato ter de reservar pousadas caríssimas com antecedência, sem saber a programação da festa. E mais chato ainda se programar para ver tal e tal mesa sem conseguir comprar ingresso (vc mesmo contou da dificuldade que é). O interesse é grande, sim. Mas a (des)organização desanima. Abraço
Prezado Sérgio,
Acesso seu blog pela primeira vez, e estou adorando. Quanto à diminuição do interesse pela FLIP, penso que são os preços proibitivos praticados durante o evento a causa principal. Enquanto a FLIP não perder a etiqueta de “chic”, de evento pra elite endinheirada, ela não será incorporada pelo universo de leitores e interessados pelo país afora. Abraços e parabéns!
Off topics.
Do site do Marcelo Coelho:
“os livros da amazon em prateleiras
http://zoomii.com/#home
Não sei se é prático, mas é maravilhoso como tecnologia e gostoso de ver. Neste site, que tem link direto com a Amazon, você pode passear pelas prateleiras de uma livraria com o mouse, vendo capa a capa o que lhe parecer interessante. Livros “reais”, prateleiras “reais”, no computador.”
Todo o mundo falou da FLIP, onde só se vai gastar e pouco se pode debater, apenas ver os “medalhas” (merecidos) já conhecidos. Ninguém se dispõe a comentar a OFF FLIP, onde as conversas, debates e novidades acontecem. Onde estão esses comentários? O que, de fato, impede a imprensa a divulgar e acompanhar esse evento paralelo que tem crescido e se fortalecido a cada ano?
“O que, de fato, impede a imprensa a divulgar e acompanhar esse evento paralelo que tem crescido e se fortalecido a cada ano?”
Bem, imagino duas hipóteses:
(i) as grandes editoras, controladas pelos grandes conglomerados ianques de mídia, os mesmos que controlam toda imprensa brasileira, vedaram qualquer referência ao “off flip” (nome chic, não?).
(ii) as conversas, debates e novidades da off flip são tão desinteressantes que não chamam a atenção da imprensa, que prefere, como sempre, dedicar-se a assuntos que interessam ao público.
De um lado, uma grande teoria conspiratória, que envolve personagens poderossíssimos, dinheiro e poder; de outro, uma observação prosaica sobre esses eventos de gente afetada e aborrecidamente chata.
Cada um é livre para escolher a versão que lhe pareça mais verossímil.
inda bem que acabou.
Elitista e perversa com a população de Paraty – até o telão é cobrado – a Flip desencoraja também a compra de livros – todos caríssimos e vendidos em uma única livraria, que nem dá nota fiscal.
Por que não colocar telões por toda a cidade para os moradores e visitantes que não fazem parte da elite do país?
A única coisa boa e democrática é a Flipinha.
Por que ninguém falou no Guimarães Rosa?
E por que a Cintia (autora gaúcha do Mamãe, por que sou gorda?”), única brasileira da mesa final, não leu um trecho do Machado de Assis ou do Guimarães?
Neil Gaiman
Creio, Sergio, que há muita gente que gosta de literatura, Eu por exemplo junto com alguns amigos, mas que não entende, não estuda e não conhece gente como Cees Nooteboom,Tom Stoppard e muitos outros…cabeções, serios…mas que não nos atingiram ainda. Conversando sobre esta questão com leigos como eu, em mesa de bar evidentemente, perguntou-se ‘deve-se nivelar por baixo um evento destes?’. Não…mas também como esperar público para um assunto que escapa a muitos?
Foi a minha primeira FLIP e gostei muitíssimo do evento, das pessoas prá lá e pra cá, das discussões à mesa do almoço ou do jantar, do burburinho, da maioria das mesas que assisti. Estive na FLIP, e longe da cobertura dela. Portanto só a partir de agora vou poder ler outras opiniões como as tuas, Sérgio. Aliás, te vi umas duas vezes, na tenda dos autores, mas não quis te incomodar nem me incomodar com a preocupação de te incomodar.
Abraço.
Clara
Clara, a primeira Flip a gente nunca esquece. Mas você devia ter se apresentado.
El Torero, acho que não é preciso “nivelar por baixo” para aumentar o apelo da programação. Falando em tese, esse ponto de equilíbrio é até fácil de encontrar. Mas naturalmente bem menos fácil quando se trata de montar um elenco de verdade.
Abraços a todos.
Infelizmente a Flip é um evento que inflaciona e muito a cidade, sou morador da região e como muitos adoramos esse tipo de evento, só que somos afastados pelos preços altíssimos praticados por todos os comerciantes, no sábado dei uma volta pelo centro histórico e resolvi comer um bolo de aipim com coco, vendido naqueles carrinhos que ficam parados nas esquinas, bom….. quando não foi minha surpresa, fui pagar os dois reais que sempre paguei, desde que me conheço por gente e tive a surpresa de ser informado que tinha subido para dois e cinquenta, falei que não era turista, que era morador, dei meu endereço e o vendedor fez pelo preço “normal”.
Bom saber que a cidade não estava tão abarrotada de gente. Quando a FLIP chegar em níveis aceitáveis de seres humanos por m2, então decidirei ir.
Estava em Paraty esse fim de semana na Flip e achei que realmente falta uma organização maior em volta do evento, a estrutura em si é até bacana, mas deixa muito a desejar principalmente para a própria cidade que vive de eventos e datas para faturar.
=]
Bem, acabou…voltemos à literatura, pois…
Sérgio, compreendo o esforço e o parabenizo pela bela cobertura da FLIP 2008!
A propósito: quando será que as Jornadas Literárias de Passo Fundo, no RS, merecerão maior atenção por parte da imprensa ‘nacional’?…
Existe pessoas como o senhor Carlos Virgilio Nepomuceno que afirmam: “É bom ler esse livro, pois nao é bom ler e acreditar no primeiro pivro que aparece”.
Concordo PLENAMENTE, mas, como muitos outros criticos, só leem um livro de criticas e acham que aquele é o livro da verdade suprema, que nao pode ser contestado!
E eu tenho CERTEZA de que todos esses comentarios de criticas do senhor Carlos Virgilio Nepomuceno e dos demais, vieram de pessoas que leram O Segredo e depois Verdades e mentiras e acham que sabem bastante. Ora, leiam mais sobre esse assunto, e NAO ACREDITE na primeira coisa(critica) que voces leem.
Eu nao concordo 100% com O SEGREDO, mas concordo MUITO MENOS com esse professo PHILIP HILL.
Voces criticos precisam mais é de ler, isso sim.
Por acaso voces ja leram LOUISE L. HAY, NAPOLEON HILL, OS HICKS, e SOBRE RELIGIOES E A LEI DA ATRAÇAO?????
APOSTO QUE NAOO
CRITICOS BURROS! LEIAM MAIS POR FAVOR!
Como voces mesmo dizem: “nao acredite na primeira coisa que lerem”, pois é, digo o mes
Flip, ano 10: uma retrospectiva pessoal | Todoprosa - VEJA.com