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História com beija-flor

03/11/2010

O escritor moveu o dedo indicador e apagou o último arquivo com o último vestígio de sua extensa obra inédita. Levantou-se e andou até a janela. Nono andar.

Abriu a janela e, uma perna depois da outra, sentou-se no parapeito de frente para a rua, sem olhar para baixo. Olhou, em vez disso, para a janela do vizinho da esquerda. Esta tinha uma floreira onde adejava um beija-flor minúsculo, de bico longo e curvo, pretinho com umas pinceladas branco-fosforescentes na cauda.

Voltou ao computador e iniciou imediatamente uma nova obra. Foi salvo por aquele passarinho. Um beija-flor minúsculo, de bico longo e curvo, escreveu. Uma obra voltada para a beleza.

Esta foi igualmente extensa e também ficou inédita até sua morte por peritonite, trinta e sete anos depois, e por toda a posteridade.

4 Comentários

  • Rosângela 03/11/2010em15:02

    Que bom… que bom…

    Foi lindo o beija flor adiar a vida…

    Mas precisava da peritonite????

    Já sei… é que os escritores pós contemporâneos não podem ser românticos, né?

    Mas os pré-apocalipticos, DEVEM. De fato. Creia. Romantismo sem roma na eira é amor purinho…

  • Vinícius Antunes 04/11/2010em08:53

    Depois do comentário da Rosângela, joguei peritonite no google. E pergunto: se ele escreve, já não é por si só alguma espécie de romantismo? Será que não há algo de romântico em todos aqueles que buscam a ficção, mesmo nos mais antiromânticos?

  • zanza 05/11/2010em00:34

    Hum, Vinicius! Taí! Voce venceu! Gol!
    O Sergio escreve apocalipticamente romantico. ( O note aqui está sem acento…)

  • J.Paulo 13/11/2010em18:57

    E se ao invés do beija-flor, tivesse ele visto um corvo?
    Faria um poema tão belo e lúgubre quanto “The Raven”?