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Mais jornalismo, por favor

04/07/2009

Observações avulsas num fim de tarde de sábado, enquanto Gay Talese não sobe ao palco:

Cristovão Tezza e o mexicano Mario Bellatin fizeram uma mesa estranhamente desequilibrada ontem à tarde. O brasileiro, que veio à Flip a bordo de um veículo raro – um best-seller aclamado pela crítica – chamado “O filho eterno”, se viu escalado no papel de coadjuvante do convidado estrangeiro, uma figura certamente curiosa, com sua prótese em forma de falo no braço direito, para quem o mediador, Joca Reiners Terron, levantou cerca de 70% das bolas.

Senti algum desequilíbrio também na mesa que Milton Hatoum e Chico Buarque dividiram ontem à noite. Neste caso, não por falta de balanço entre os dois, que mostraram entrosamento ao se acusarem mutuamente de plágio (brincadeirinha), mas por uma concentração excessiva das perguntas do mediador Samuel Titan Jr. em detalhes de concepção e feitura de seus livros. Sobriedade e gentileza demais podem atrapalhar. Nada se perguntou a Milton, por exemplo, sobre sua polêmica condenação dos blogs literários. Nem se procurou saber de Chico como encara as críticas de machadianismo pesado feitas à sua novela “Leite derramado”.

Conclusão provisória, para a qual contribuem ainda as ótimas entrevistas feitas por Silio Boccanera com Richard Dawkins – já comentada aqui – e por Arthur Dapieve com o crítico musical Alex Ross, hoje de manhã: um pouco mais de jornalismo e um pouco menos de academia podem fazer bem à Flip.
 

5 Comentários

  • Carlos Eduardo 04/07/2009em17:34

    Pelo que leio esses dias a Flip parece ser decepcionante para quem gostar de ler e queira realmente ouvir seus escritores prediletos.

    De qualquer forma eu vi ontem, no Jornal Nacional, você, Sérgio. Matéria do Edney Silvestre; apareceu você, ao fundo, num telão. Estava palestrando.

  • Roberto 04/07/2009em18:05

    Eu perguntaria ao Chico por que ele, que sofreu com a censura nos 70, ainda apoia Cuba que faz seu povo sofrer com censura, repressão e prisões política…

    Mas quem faria a pergunta? O dogma é que Chico Buarque só serve para aplaudir e se maravilhar.

  • mariana sanchez 04/07/2009em20:06

    Sergio, assisti pela internet às duas Mesas que vc comentou (O eu profundo e outros eus, Sequencias brasileiras) e também tive essa impressão de um certo “favoritismo” ao Bellatin e o Chico Buarque – que na minha opinião não se sairam tão bem quanto o Hatoum e o Tezza. Talvez porque ambos, além de escritores excepcionais, são professores experientes, com ampla consciência de suas escritas. Por fim, odiei a mediação do Samuel Titan Jr.
    A do Terron foi mais interessante.
    Continuo acompanhando de longe. Abraços!

  • L. 05/07/2009em04:18

    Terron devia ter tido mais respeito com Tezza e com quem estava interessado em também ouvir o escritor brasileiro, tal como eu.

    Vamos dizer que o Terron beijou a mão de Bellatin.

  • diogo felix 06/07/2009em15:26

    A mesa do Dawkins foi ótima para quem nunca leu nada dele, porém repetitiva para seus leitores. O Silio Boccanera, jornalista do mais alto grau, praticamente fez perguntas cuja respostas estavam em Deus, um delírio. Isso só não é uma crítica porque a maioria da platéia certamente não conhecia sua obra.