Os dois são famosos por sua reclusão. Os dois são contistas maiores com muitas décadas de carreira. E, curiosamente, estiveram no noticiário esta semana desempenhando papéis opostos: Rubem Fonseca, o de mestre fofo e feliz da jovem escritora Paula Parisot; Dalton Trevisan, o de ex-mestre rancoroso e arrependido do escritor de meia-idade Miguel Sanches Neto.
As relações atribuladas entre mestre e discípulo no meio literário são tão antigas quanto a própria literatura. Virou lugar-comum recorrer a um enfoque psicanalítico – a necessidade de matar o pai, tal e coisa – para explicar por que tantas delas acabam mal. Como, em episódio relativamente recente, a do protegido Paul Theroux com o mestre V.S. Naipaul, que, consumado o rompimento, foi recapitulada pelo primeiro num livro nada lisonjeiro chamado Sir Vidia’s shadow.
A posição de Theroux é semelhante à do escritor paranaense Miguel Sanches Neto, que acaba de publicar pela Objetiva o romance à clef “Chá das cinco com o vampiro”. Nele, com pouca sutileza, transforma seu ex-ídolo Dalton Trevisan no egocêntrico contista Geraldo Trentini. A briga entre Sanches e Trevisan é velha de meia dúzia de anos: ao tomar conhecimento dos originais desse romance, o escritor famoso chamou publicamente o ex-discípulo de “hiena papuda” e outros mimos. O que desenterra agora a fofoca é o fato de o livro ser finalmente publicado.
Por coincidência, o requentamento da querela curitibana ocorreu no momento em que Rubem Fonseca saía do Rio para fazer em São Paulo uma rara – e resoluta, ainda que constrangida – aparição diante dos repórteres, dando força a uma performance de sua protegida Paula Parisot. Para promover o lançamento de seu novo livro, o romance “Gonzos e parafusos” (Leya), a autora – cujo estilo lembra demais o do mestre – exibiu-se por dias a fio na vitrine de uma livraria.
Fonseca, que já usou seu prestígio para dar um empurrãozinho na carreira de outras escritoras, como Ana Miranda e Patrícia Melo, mantinha assim um certo padrão. Esquentando a notícia, porém, o repórter Fabio Victor, da “Folha de S. Paulo”, publicou ontem a informação (em off) de que Parisot foi o pivô do mais rumoroso divórcio literário dos últimos tempos: a recusa da Companhia das Letras em publicar seu livro teria levado Fonseca a romper ano passado um relacionamento de vinte anos com a editora paulista, mudando-se para a carioca Agir.
É claro que nada disso tem lá grande importância em termos propriamente literários. Ocorre que bafos do gênero ostentam, no mínimo, o mérito de garantir um espaço cada vez mais raro no noticiário para escritores e suas maquinações crescentemente irrelevantes no cenário da cultura de celebridades. Além de darem aos pesquisadores do futuro mais material para um apetitoso livro sobre as relações entre mestres e discípulos no universo literário.
Estas, convém dizer, nem sempre acabam mal. Prova disso é a amizade vitalícia entre o discípulo Machado de Assis e o mestre José de Alencar. Sem entrar aqui no mérito da famosa maledicência de Humberto de Campos – que só um exame de DNA então inexistente poderia ter esclarecido – Machado teve o bom senso de matar o pai apenas simbolicamente, desmontando ponto a ponto o romantismo de Alencar na segunda e genial fase de sua carreira. Sanches foi menos polido em seu parricídio, enquanto Parisot não demonstra – ainda? – a menor intenção de abraçar o crime. Aguardemos os próximos capítulos.
20 Comentários
Acompanhei o caso Rubem Fonseca. Particularmente, não gosto da sua escrita e achei bem tosca a aparição diante da escritora de estilo BBB.
Excelente post.
A genialidade da escrita curta e objetiva de Rubem Fonseca fazem dele, em minha opinião de um seu leitor voraz e contumaz, o maior escritor vivo neste nosso patropi. A atitude de expor sua imagem diante de repórteres por ela famintos faz-me crer num sincero endosso ao talento de sua discípula.
Vivas ao rei!
Não tenho mestres nem discípulos. Caminho para o suicídio.
Agora só falta aparecer o Raduan…
Por que as escritorAs precisam do aval de escritores como Rubem Fonseca? E por que só mulheres? Nem um grande escritor como Rubem Fonseca deixa de cair no ridículo de velho babão…
Ponto para o Dalton. Lamento pelo Rubem.
Essa questão do apadrinhamento é complicada. É até legal ser apadrinhado por um grande autor, mas quando acontece isso, o talento – ou a falta de – do afilhado fica em segundo plano. Adoraria ler o livro dessa menina, só pra saber se tem algo de bom, mas todo esse bafafá em torno dela me deixou com uma preguiça…
Ambos os escritores exploram o submundo da sociedade. Pobreza, assassinos, bandidos, estupradores, pedófilos e toda a série de mostros morais. São ótimos contistas. Há muito o que falar.
Estou com o Rafael Rodrigues: até fiquei com vontade de ler o livro da moça (como fiz com a Patrícia Melo, que achei uma sub sub sub sub sub Rubem Fonseca), mas a preguiça é maior.
Ótima análise, Sérgio. Nunca li nada da Parisot (nome artístico? Paris?!), mas fazer performance é coisa de quem não está lendo ou escrevendo, o que se espera que um escritor faça.
Sergio,concordo com a Isabel Pinheiro e Rafael Rodrigues . Ai, que sono!! Gosto do verdadeiro talento de Mario Bortoloto…
A sacada do sanches foi bem mercadológica, penso eu.
X9.
Miguel Sanches Neto foi covarde.
Todos sabemos: Dalton Trevisan cultiva suas neuroses. E desvinculá-lo delas é maldade.
Sanches Neto sempre soube disso. E mesmo assim, fez o que fez.
” Judas que se vendeu por trinta lentilhas. ”
Boa.
Merecia mais, bem mais… talvez um tiro na cara.
Quem desonra os segredos de uma amizade, não merece ser amigo de ninguém.
F*da-se a literatura, f*da-se o jornalismo, foda-se todo mundo.
Um amigo não se trai.
Kaputt.
Mas, gente, o Rubem Fonseca ainda consegue comer alguém?
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Acho no mínimo curioso que ele só tenha protegidAs e nunca protegidOs… Ou será apenas coincidência? Será que não há por aí nenhum “aspirante a” com pênis no meio das pernas (pode ser um travesti) que mereça a atenção do Sr. Fonseca? Será que los hombres desaprenderam a escrever?
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Prefiro o Rubem Fonseca recluso e avesso às fotos e câmeras, tomando café às 8 da manhã com a Patricia Mello (ambos devidamente escondidos e anonimizados por trás de bonés e óculos escuros; oh Céus, como são ridículas certas vaidades literárias num país de analfabetos funcionais!) nos fundos do Pão de Açúcar de Copacabana. Me perdoe, Mestre (Mestre?), mas sua aparição pra dar apoio moral – e comida na bandejinha – pra sua discípula-BBB foi lamentável.
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Por força das circunstâncias, conheço muitos escritores e escritoras, e posso dizer com segurança de quem observou por longo tempo: escritor em geral é um pavão. São poucos os que não o sejam. Poucos, muito poucos, pouquíssimos. Morro de rir!!!
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Já me disseram que a Paula Parisot escreve mal, muito mal, pessimamente. Não li, não tive coragem de comprar o livro dela (e gastar meus caraminguás à toa). Alguém confirma?
Se se confirma ou não, não sei. Só sei que a babãozada em torno desse velho decrépto do Fonte Seca é imoral!!!
O poema que o Dalton escreveu para o Sanches Neto:
Hiena papuda necrófila
traveca de araponga louca da meia noite
mente na vírgula mente no pingo do i
mente no bico fechado mente na carta aberta
chorrilho merdoso de intrigas e falsidades
caráter sem jaça de escorpião
filhoi adotivo espiritual de Caim
delator premiado informa dedura
a desonra, ó cagueta, é o teu butim
fora, traidor do amigo! rua, olheiro maldito!
no teu coração pesteado
rondam lobos da inveja
na tua alma leprosa
uivam os chacais da infâmia
Judas que se vendeu por trinta lentilhas
uma corda uma figueira seca
se não for à figueira seca
a figueira e o laço da corda
fatal virão logo até você
Péssimo poema esse. Deve ter sido psicografado… rsrsrsrs.
Tudo viadagem da pior qualidade. Fonseca de fonte seca e a besterirada toda lambendo o vácuo!!!!!
Triste o país em que o Viagra e o Cialis tentam mudar o panorama da literatura.