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O livro, a árvore e o deserto

18/05/2006

Tenha um filho, escreva um livro e plante uma árvore, diz a velha receita da realização pessoal. Fórmula segura para que seu filho acabe lendo num deserto.

A editora Random House (do supergrupo de comunicação alemão Bertelsmann) anunciou a meta de usar em seus livros 30% de papel reciclado até 2010 – hoje a proporção é de 3%. Segundo os cálculos da empresa, o novo patamar corresponderá à salvação de 550 mil árvores por ano. A notícia está aqui, em inglês, mediante cadastro gratuito.

Enquanto isso, no Brasil, a discussão engatinha, a ponto de ter sido notícia, ano passado, a edição “ecologicamente correta” de “As intermitências da morte”, de José Saramago, pela Companhia das Letras. Por exigência do autor português, alinhado com uma campanha do Greenpeace, o livro foi o primeiro no Brasil a ganhar o selo internacional FSC, que atesta o cumprimento de boas normas ambientais – não necessariamente o uso de papel reciclado.

A questão da reciclagem é complicada. Por um lado, o custo de produção sobe. Por outro, abre-se para a promoção do livro um terreno de marketing que tende a ter cada vez mais ressonância, até num país ambientalmente atrasado como o Brasil.

Nem é preciso considerar que boa parte dos livros que circulam no mundo não valem um bom eucalipto para prestar atenção nessa tendência.

3 Comentários

  • Luiz Edmundo 18/05/2006em14:41

    Sergio,
    Sua nota é bem intencionada, mas incide num engano comum a pessoas não familiarizadas com a indústria de papel e celulose: a matéria prima para o papel de ler e escrever provém de florestas plantadas, portanto de árvores “feitas” para serem abatidas, tanto quanto o frango ou a carne de vaca que comemos são oriundos de fazendas ou granjas de criação. As florestas nativas, no Brasil e no mundo, infelizmente estão mesmo acabando, mas em função de outros fatores, não da produção de celulose. Na verdade, cortar o eucalipto com 5 a 7 anos de vida para a indústria papeleira é até ecologicamente correto, pois outra árvore vai ser plantada em seu lugar, ajudando a fixar o gás carbônico da atmosfera em seu processo de crescimento – contribuindo, assim, para atenuação do efeito estufa.
    PS – Conheço um pouco do assunto, mas não sou empregado, nem acionista, de nenhuma empresa de papel e celulose…

  • Leticia Braun 18/05/2006em15:19

    A gente sabe que livros saem de árvores “abatíveis”. O Sérgio se concedeu uma licença poética, vamos dizer assim. Mas que tem livro que não vale nem um eucalipto cultivado, há, isso tem aos montes!

  • Sérgio Rodrigues 18/05/2006em15:40

    Caro Luiz Edmundo, é verdade, as árvores são plantadas para o abate pela indústria de papel – ou assim deveria ser, embora haja formas de burla, ou um selo como o FSC não seria necessário. Mas me parece que os caras estão vendo mais longe quando tentam aumentar a participação da reciclagem nesse processo, não? Menos desperdício de papel, menos agentes químicos liberados na natureza em sua preparação, mais terra liberada para o plantio de alimentos – confere? Ou será que são todos uns malucos histéricos e nós, em nossa inconsciência, é que estamos certíssimos?