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O tamanho do luto

25/09/2008

O choque, o luto e o avassalador sentimento de perda que dominaram a comunidade da Stock Car após a morte, aparentemente por suicídio, do escritor David Foster Wallace levou a NASCAR a cancelar o restante da temporada de 2008 em respeito ao aclamado mas atormentado autor de Infinite Jest, A Supposedly Fun Thing I’ll Never Do Again e Brief Interviews With Hideous Men. (…)

“Estou sendo invadido por sentimentos de – à falta de um conceito melhor – incongruência”, disse Jimmie Johnson, piloto do Chevrolet número 48 da equipe Lowe, que é conhecido no mundo das corridas por seu hábito de presentear os fãs com exemplares dos livros de Wallace.

O trecho acima é do jornal satírico The Onion, um “Planeta Diário” americano que se recusa a morrer. Beirando o mau gosto, como de hábito, acerta, também como de hábito, na mosca ao ampliar pela lente da caricatura um sentimento generalizado de luto pela morte do escritor americano de 46 anos.

O Arts & Letters Daily de hoje compila 22 links, entre eles o do “The Onion”, que dão uma idéia do alcance dessa epidemia de tristeza, confusão e – sim, parece ser o caso – leitura e releitura de David Foster Wallace.

Sendo o mundo o que é, só um ingênuo negaria que esse estupor se deve em parte ao fascínio que prostra a humanidade diante de artistas jovens desaparecidos tragicamente. Mas tudo indica que reduzi-lo apenas a isso seria de um cinismo idiota.

O que parece estar em curso, com o auxílio inestimável da internet, é um informal mas intenso programa de revalorização de um talento maior – que nas palavras de Lindesay Irvine no blog de livros do “Guardian”, em post ausente dos links mencionados acima, está finalmente recebendo “a atenção e o reconhecimento de que não desfrutou em vida, com exceção da breve histeria em torno de Infinite Jest”.

Com a certeza incômoda de ter participado de alguma forma desse déficit de atenção, também tenho sentido a atração das leituras e releituras. E devo dizer que David Foster Wallace parece cada vez maior.

14 Comentários

  • Breno Kümmel 25/09/2008em12:46

    Pois é, ser escritor é uma atividade tão ingrata que o suicídio é ótimo pra sua carreira. Melhor que isso, só se for perseguido e torturado por uma ditadura.

  • Maria Mendes 25/09/2008em12:51

    Você já leu “Consider the Lobster”? Eu gostei muito.

  • Sérgio Rodrigues 25/09/2008em13:16

    Maria, você se refere ao artigo ou ao livro? O primeiro eu li (e achei ótimo, como todo o jornalismo do cara que já me caiu nas mãos). O livro não.

  • Maria Mendes 25/09/2008em13:50

    Eu me referia ao artigo mesmo, mas no livro há varios outros ótimos, como “Host”, que pode ser lido aqui. http://www.theatlantic.com/doc/200504/wallace
    Particularmente, além de gostar do tema, me diverti com as notas de rodapé virando janelinhas.

  • Sérgio Rodrigues 25/09/2008em15:46

    Obrigado pelo link, Maria. Esse tinha me escapado.
    E esse conto, você conhece?

    http://www.esquire.com/fiction/fiction/incarnations-burned-children-0900

  • Maria Mendes 25/09/2008em16:21

    Não conhecia, mas obrigada por isso! Muito bom…

  • Tibor Moricz 25/09/2008em17:41

    Venhamos e convenhamos, que bela jogada de marketing do David, não é mesmo?

  • Claudio Soares 25/09/2008em17:43

    Está morto: podemos elogiá-lo à vontade, diria Machado….

  • Mr. WRITER 25/09/2008em18:38

    David Foster Wallace fez o caminho de muitos escritores, grandes ou não. Escreveu, morreu e teve reconhecimento…

  • Breno Kümmel 25/09/2008em19:38

    Comentário desagradável e desnecessário, Tibor.

  • Tibor Moricz 25/09/2008em21:08

    Breno, sabia que seu sobrenome é nome de tempero húngaro?Com um nome desses não lhe cabe o destempero…rs

  • Tibor Moricz 25/09/2008em21:23

    Ops… o tempero é alemão. Heil!

  • Outro Paulo 26/09/2008em16:22

    Essa foto… sim, agora não tenho dúvidas: David Foster Wallace era EMO!

    http://simpleplanbrazil.com/cnews/data/upimages/new_shoot03.jpg

    Foi mal, não resisti!

  • Fabio Negro 26/09/2008em22:51

    Imagina quando o Paul Auster acidentalmente morrer de overdose de pílulas para dormir.

    Vai ter fila no sebo, vai ter choro no Congresso.