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Sobre o artigo de Italo Moriconi no ‘Prosa’

22/11/2010

Ao longo de três décadas, dos anos 60 aos 90, o ensino universitário da literatura desconstruiu o fetiche da “boa literatura” em nome de uma ciência/política geral dos discursos e da noção do texto como objeto do desejo estético, autorizado por disciplinas que iam desde a psicanálise e a antropologia até os marcos existenciais e estéticos de um contexto favorável ao anticonvencional, às experimentações, às vanguardas tardias ou pós-modernas, aos minimalismos antinarrativos.

Tudo isso mudou. As sucessivas levas de novos escritores surgidas nos últimos anos, com algumas exceções, não têm estado nem um pouco interessadas em desconstruir o signo literário ou questionar convenções de qualquer tipo, até porque esse questionamento já se tornara ele próprio convencional e repetitivo. Elas têm se mostrado interessadas em recuperar e praticar o valor positivo do fetiche literário enquanto algo pragmático. Sobretudo estão interessadas em buscar seu público não através da mediação da academia (como ocorrera em parte no caso da geração 70) e sim na relação direta com as clássicas instituições do mercado e da vida literária extra-acadêmica.

O imperdível artigo “A reinvenção do fetiche literário”, de Italo Moriconi, publicado no Prosa & Verso do último sábado, faz a necessária – ainda que tardia – síntese da dialética com cara de impasse que o mesmo caderno enunciou em abril deste ano, no embate entre uma violenta diatribe antiliteratura de Flora Sussekind e a resposta com críticas à crítica universitária que, citado nominalmente, publiquei lá – e aqui.

Na oposição pouco inteligente entre “academia” e “mercado” que caracteriza o ambiente contemporâneo de recepção e avaliação de livros, a tentativa feita por Moriconi, poeta e diretor da Editora da Uerj, de delinear o caminho de uma superação histórica é a melhor notícia a vir da universidade em muito tempo.

A discussão merece ir longe, e espero que vá, mas de saída gostaria de chamar a atenção para alguns aspectos da questão em que o texto de Moriconi me parece, talvez pela escassez de espaço, carecer de um olhar mais aprofundado:

Não acho justo dizer que os escritores brasileiros contemporâneos não estão “nem um pouco” interessados em “questionar convenções de qualquer tipo”. A percepção de que o tipo de questionamento favorecido pela crítica acadêmica tornou-se ele próprio convencional é precisa, mas faltou, acredito, dar um passo à frente e reconhecer o que pode haver de inquietação e novidade estética na fusão de gêneros, no diálogo com a cultura pop, nos jogos pós-modernos com a tradição literária e os pontos de vista narrativos – em suma, em tudo aquilo que a literatura contemporânea tenta fazer sem (eis o dificílimo pulo do gato) aborrecer mortalmente o leitor com exercícios datados de linguagem.

Por outro lado, ao dizer que os escritores dos últimos vinte anos buscam seu público na relação direta com o mercado, Moriconi deixa de observar – talvez por compaixão? – que na quase totalidade dos casos essa busca dá resultados magros. O ponto fraco da turma do “mercado” é justamente este: esnobado pelo pós-doutor, o escritor monta uma estratégia de ligação direta em que só o leitor pode salvá-lo. Isso teria tudo para dar certo se ao menos o leitor comparecesse ao encontro, o que raramente tem acontecido.

Corremos o risco de acabar, assim, num 0 x 0 tragicômico: de um lado o time dos críticos universitários que, de tanto desmistificar o “fetiche” literário, passaram a odiar a literatura; do outro, o time dos escritores que se autoproclamam paladinos do literário em nome de um leitor que não está lá.

22 Comentários

  • Antônio Conselheiro 22/11/2010em19:45

    Zzz…

  • Foguete de Luz 23/11/2010em06:19

    Quem sou para tal, mas acabo de dar 10 com louvor. Sérgio, ShoW!

  • Foguete de Luz 23/11/2010em06:22

    Eu diria que você é um lince… aquele bichinho que vê longe. Bem, não sei se você sabe, mas sou uma toupeira… pois é.

  • Rafael 23/11/2010em21:10

    Sérgio,
    Você diz que o debate é importante, mas minha impressão é que os leitores — os frívolos, com certeza; os graves, provavelmente — não dão a mínima para essa discussão, que só atrai o interesse de entediantes acadêmicos. A literatura é um universo maior que do supõe a vã filosofia da faculdade de letras.
    Eu mesmo, que levo muito à sério a literatura, não me sinto atraido por esse debate.
    Valete

    • sergiorodrigues 24/11/2010em09:21

      Rafael, o desinteresse dos leitores – não frívolos, mas certamente leigos – que você aponta parece evidente no pífio número de comentários. O que eu considero parte do problema e de forma alguma muda o fato de que o debate, mais que importante, é vital. O w.o. da crítica acadêmica contribuiu para a literatura brasileira ter se tornado uma pequena seita.

  • Afonso 24/11/2010em11:09

    Sobre academia/mercado – o descompasso que, por inúmeros motivos, leva um a mirar num alvo, enquanto o outro estabelece suas próprias regras (tão ao gosto neoliberal) merece ser debatido. Há muitas queixas sobre a academia não “conseguir” ultrapassar os próprios muros, estabelecer um diálogo mais presente com os autores contemporâneos. Estes, por sua vez, se não estabelecem vínculos “acadêmicos”, talvez nem consigam “publicar” (sem garantia nenhuma de sucesso no mercado)se não forem conhecidos, vamos dizer. E estarão condenados a criar o seu próprio mercado, incorrendo na discussão sobre o “leitor sem público” (O leitor está morto? de 08/11/10, aqui mesmo). Fica o ideal de uma convergência, de preferência em que prevaleça a literatura.

  • Pedro David 24/11/2010em14:39

    Sérgio,

    Tentando um outro ângulo: não há, por acaso, uma perda de terreno da academia como legitimadora da literatura ? Creio que novos autores não estão trocando a academia pelo mercado. Na verdade, a trocampor uma outra espécie de “grupo de notáveis”, formado aleatoriamente, a partir de valores intangíveis. São jornalistas, outros escritores, celebridades “intelectuais”. Lembro bem de um texto seu aqui, um dos
    “Sobrescritos”, que ironizava esse clube, uma espécie de seita em que escritores se auto-elogiam, legitimam uns aos outros.

    Um grande dado a favor dessa minha impressão é a existência de “escritores sem livro”, um fenômeno bastante comum hoje. Ora, um escritor sem livro é um objeto que se anula tanto para a academia quanto para o mercado, mas ele é importante dentro dessa “Academia-seita”, já que é mais um voto na hora de avalizar um “colega”.

    Ainda na mesma direção, alguém falou em faculdade de Letras. Salvo raríssimas exceções, entre as pessoas de minha geração, não é esse o curso procurado por quem quer ser escritor ou crítico. É o jornalismo. A faculdade é a primeira tentativa de ganhar o brevê de “intelectual-formador-de-opinião”. É o primeiro passo. Os outros devem ser dados pelas calçadas da Ataulfo de Paiva, lançamentos de livros, etc.

    É claro que em toda atividade humana há esse comportamento. Entre publicitários, advogados e músicos, não é diferente. Há as celebridades, os populares, os menos populares, os que querem entrar nos “bandos”, os que odeiam os que estão nos ” bandos”. Isso é normal.
    Entretanto, quando falamos de literatura, não podemos esquecer o de fora, o leitor, senão ela, a literatura, não existe. Uma vez já falei isso aqui, sobre a escassez do “leitor-leitor” no Brasil. Você vê um cara com um Dostoievski na mão, vai perguntar e ele é cineasta, jornalista, professor de literatura, escritor. E olha que estamos falando de um clássico. O que diríamos de novos autores ?

    E isso tem a ver com geração também. Minha mãe lê (tudo) e é enfermeira; vejo comportamento semelhante em gente mais velha. Acho que deveríamos criar o “Projeto José Mindlin para incentivo do leitor-leitor”, rs. É que quando penso que ele era, simplesmente, advogado…

  • Rafael 24/11/2010em14:46

    Sérgio,
    Não tenho a menor dúvida de que a crítica literária — quando séria e bem feita — presta inestimável auxílio tantos aos leitores quanto aos autores. Eu valorizo muito a crítica literária e só tenho a lamentar o declínio qualitativo dessa atividade ao longo das últimas décadas.
    O que eu quis exprimir não foi, de forma alguma, desprezo olímpico pela crítica. O meu desprezo é pelo conteúdo desse debate, dessa falsa oposição (que você mesmo qualifica de “pouco inteligente”) entre mercado e academia; entre literatura de vanguarda, que desafia as convenções & etc, e a literatura meramente comercial, de entretenimento, dos best sellers da vida.
    Tenho a convicção de que há livros bons e livros ruins; há livros medianos e livros sofríveis; que há autores melhores e autores piores; que há livros capazes de despertar o interesse das gerações futuras e livros que merecem, com toda a justiça, ser esquecidos. Mas isso nada tem a ver com mercado, com academia, com experimentalismo, com convencionalismo, com desconstrução do signo literário; tem a ver, isso sim, com estes elementos imponderáveis, o talento, a sensibilidade e o bom gosto, a imaginação, a autodisciplina, a inteligência, a percepção, o tato, a cultura, a instrução, o domínio do idioma (não confundir com domínio da gramática normativa); enfim, com aquilo que os românticos chamavam de gênio. O autor que reúne essas qualidades produzirá bons livros, os quais poderão convencionais ou experimentais; sérios ou cômicos; realistas ou fantásticos.
    E a crítica? Cabe a ela, como se fosse um mapa, ajudar os leitores a se localizarem em meio à selva de mediocridade em que se transformaram as livrarias. O bom crítico é um leitor qualificado, que leu muito, que formou o gosto literário após muito estudo. Com sua cultura — literária, histórica, humanística —, o crítico tentará discernir o que presta, tentará separar o joio do trigo. O crítico vale aquilo que vale sua cultura; se ela for nula, ele também será nulo.
    Não me parece que o meio acadêmico (ia escrever anêmico…) esteja à altura da tarefa.

  • Bastardo Inglório 24/11/2010em17:21

    Concordo com você, Sérgio. A crítica acadêmica abandonou a literatura, em grande parte por puro pedantismo (desculpe as aliterações), cedendo espaço ao oba-oba do compadrio, das panelas formadas entre autores, editores e redações, que elegem geralmente os mesmos favoritos.

  • Italo Moriconi 24/11/2010em23:21

    Caro Sérgio,

    Obrigado por comentar meu artigo. Sobre seu último ponto, eu diria que a olho nu a cena do literário parece ter mais escritor que leitor. Ou em termos econômicos: há um excesso de oferta sobre a demanda. O escritor anda a correr atrás do leitor. Mas quem é e como funciona o leitor de hoje? Acho interessante investigar esse tema. Eis aí um bom trabalho para universitários e para jornalistas da cultura.
    Quanto ao ponto anterior por vc levantado, talvez tenha razão no que diz, creio que seria importante citar os autores ou obras que vc tem em mente. (Como eu também.) Apenas acrescento que gostaria de investir num ponto de vista ambíguo em relação ao convencionalismo. Não me interessa apenas criticar o que vejo como convencionalismo nas letras contemporâneas. Com o tempo, vi que certo convencionalismo dos mais jovens, dos não-mais-filhos-de-68, representa ou representou uma reação saudável a certas doxas, e está geralmente ligado a um liberalismo existencial e político que eu acho legal.

  • Foguete de Luz 24/11/2010em23:48

    Esse aqui é aquele Rafael que brigava? Acho que não.

    Independente de que Rafael seja, concordo totalmente com o que ele escreveu. Muito bom.

  • sergiorodrigues 25/11/2010em12:20

    Caro Italo,

    Obrigado pela oportunidade de dar prosseguimento a essa conversa, que eu acho realmente importante e oportuna. Sim, o leitor de literatura brasileira contemporânea anda arisco. Se não temos ainda mais escritores que leitores, me parece certo que todo mundo que lê está de alguma forma ligado à “cena” (profissional, familiar ou amorosamente). Algo semelhante ao que se passava com o cinema brasileiro de uns anos atrás, a tal “seita” de que fala o Marçal Aquino. A responsabilidade de escritores e críticos por termos chegado a esse quadro é algo que também vale a pena investigar. Sem leitor há salvação?

    Sobre o tal “convencionalismo”, fico contente de saber que você tem uma visão mais nuançada da questão. Mais uma vez, invoco o paralelo com o cinema: os escritores brasileiros dos últimos anos me parecem interessados em aprender técnicas profissionais de montagem, iluminação, enquadramento, roteirização etc. que muitos de seus pares da geração anterior repudiaram em bloco como “burguesas”, preferindo deixar o microfone aparecendo no quadro, a imagem tremida, o som inaudível, os diálogos toscos, como se o mau acabamento em si fosse garantia de valor revolucionário. (Será por isso que o leitor brasileiro debandou para afegãos e outros, que são melhores artífices?) Fazer algo realmente novo dentro da moldura desse “convencionalismo” é mais difícil, claro, mas me parece mais desafiador também. Reconhecer esse movimento, que exige análises mais sutis e envolve mais riscos, é algo que a maior parte da crítica acadêmica me parece pouco disposta ou capaz de fazer, infelizmente.

    Um abraço.

  • sergiorodrigues 25/11/2010em12:39

    Caro Pedro,
    Concordo com suas observações. Só ressalvo que a necessidade de chancela do “grupo de notáveis” sempre existiu na literatura, e ainda hoje depende muito de pessoas de dentro da academia, embora em menor escala devido à proliferação de novas “autoridades” espontâneas que o meio digital propicia. O nó da questão é realmente a escassez na ponta do público leitor. Sem ele como balizador, como medida de bom senso, me parece que cresce indevidamente o poder das articulações grupais, de um jogo que é mais político que literário. Abraços.

  • umm leitor chamado Gurgel 25/11/2010em21:08

    Caro Sergio,
    gostaria de fazer uma pequena observação, creio que o seu texto em resposta/reação ao da Flora Sussekind incentivou muito a oposição que agora vem classifica como “pouco inteligente”. alguém se torna “Diatribe Antiliteratura” por não compartilhar dos meus valores? porque detesta os escritores que eu amo? essa é uma discussão de juizo de gosto num beco sem saída. felizmente outros pontos da discussão estão aparecendo mas não vejo dialética vejo muitas tensões nessa relação que vocês estão comentando. e tensões são bem vindas mesmo no mundo atual pop ou pós-pop. não é um mundo todo bem resolvido tampouco. acho importante não idealizar demais (nem demonizar) essa liberdade da nova geração nem naquilo que ela traz de diferente da geração anterior. a geração dos novíssimos se liberou de alguns paradigmas e se encerrou ou vai se encerrar em outros novos.
    abraços.

  • Silvia 26/11/2010em10:24

    tenho acompanhado essas discussoes aqui pois o assunto me interessa, mas sabe qual é o problema? enquanto você continuar acreditando e difundindo a idéia de que professores universitários odeiam a literatura contemporanea não vai dar pra sair do impasse. fico impressionada com a repetição dessas oposições simplistas. como se os limites entre o experimental e a linguagem narrativa que quer ser transparente tambem nao fossem flexiveis. nao adianta acusar de datada e ultrapassada a vontade de experimentar. porque assim como a vontade de narrar dentro dos moldes mais tradicionais ela nao vai acabar nunca. por isso a literatura argentina contemporanea é bem mais fertil do que a brasileira. la os escritores que querem contarhistórias não tem medo de experimentar com a forma e a linguagem e os que gostam de experimentar com a forma e a linguagem tambem nao tem medo de contar historias.
    abraços cordiais, Silvia
    Silvia

  • sergiorodrigues 26/11/2010em11:39

    Caro Gurgel:
    Ataques violentos geram reações violentas, é uma lei da física, e a opção por chamar o artigo da dita professora de “diatribe antiliteratura” me parece mais que embasada no meu texto-resposta. Fora isso, você se equivoca ao me ver numa posição radicalizada, que não é e nunca foi a minha. Pelo contrário, termino o referido artigo lamentando que a crítica universitária esteja, em grande parte, ausente do pega-pra-capar contemporâneo e dizendo que ela faz falta.

    Cara Silvia:
    Não falo nem poderia falar em termos tão genéricos que “professores universitários odeiam a literatura contemporânea”. Que muitos deles odeiam me parece, infelizmente, bem claro. E quando você fala de escritores que investem na narrativa e na textura da linguagem ao mesmo tempo, sabendo que essa fusão é não só possível mas desejável, fico feliz da vida, achando que temos esperança.

    Abraços a todos.

  • silvia 26/11/2010em13:07

    Caro Sergio, se esse cruzamento entre o experimento e o convencional é bem visto então por que insistir tanto em estigmatizar a experimentação em expressões do tipo “exercícios datados de linguagem”? porque mesmo com toda boa vontade, não vejo mesmo simpatia nos seus textos pela vontade de fazer algo que vá além do contar bem uma historia com competência. isso é ótimo (contar bem uma historia com competencia) mas o leitor são muitos e pode ter prazer onde voce tem desprazer. por isso o interesse em manter também aberta aos escritores uma criatividade que pode ir em varias direcoes, mesmo que divergentes.
    abraços cordiais, S

    • sergiorodrigues 26/11/2010em13:55

      Silvia, já escrevi bastante sobre isso, desculpe se não volto a recapitular tudo: num resumo tosco, a fixação acadêmica em exercícios puros de linguagem me enfastia, sim, assim como sua indiferença ou miopia diante de exercícios aplicados de linguagem beira, a meu ver, o criminoso. Não existe literatura de qualidade sem trabalho de linguagem, isso me parece tão óbvio que você deve me desculpar se não o friso a todo instante. Se nestes apressados posts de combate pareço pesar a mão para um dos lados, é só para tentar compensar o número de “autoridades” que pesa a mão do outro.

  • silvia 26/11/2010em15:09

    “Criminoso” neste fim de novembro de terrores é uma palavrinha que cai mal. nem como metáfora, embora ok entendo o seu fastio e os motivos. me desculpe se insisto mas quanto aos exercícios puros de linguagem, se você não oferece um autor ou livro que exemplifique claramente essa pureza enfadonha fica muito difícil levar adiante uma discussão. mas tudo bem, a internet não permite mesmo o aprofundamento, isso é claro.
    um abraço e grata pelos posts apressados

  • Antônio Conselheiro 26/11/2010em21:41

    Não sei. Mas todo esse debate, parece um discurso desesperado de quem está sendo atropelado no escuro.

    (ps: Rafael, gênio? Gênio só na lâmpada.)

    Concordo com Sérgio com a questão de que hoje a preocupação de inventar dentro de um certo limite, a técnica seja maior que uma suposta transgressão(Zzz…). E concordo com o Moricone quando diz que tem uma demanda muito maior de gente escrevendo e tal, apesar de ser uma constatação meio óbvia demais. Aliás, tudo que eu disse aqui foi óbvio. Isso que eu acho, acabamos discutindo obviedades com tom de importância, porque na verdade, não entendemos o que está se passando, exatamente porque estamos no meio desse devir, e tentantos encaixar teses à força pra cristalizar tudo bonitinho nas nossas pastas de segurança e conveniência. No fim das contas, é tagarelagem. Não sei o que pensar. Mas ao ler essas coisas, fica essa sensação de atropelamento no escuro.

    Enfim.

  • palomino 27/11/2010em14:23

    Se o “imponderável” (inteligência, sensibilidade, etc. e tal) é que responde pela qualidade literária, a teoria e a crítica estão com problemas. Por ser imponderável, o imponderável não se pode teorizar. Compreendo quem pensa assim, mas não concordo com isso, porque creio mesmo, sinceramente, que a crítica e a teoria, quando bem feitas, desempenham um papel importante para a literatura. O difícil é encontrar quais são os critérios que permitam ponderar a literatura, a arte, a cultura. O debate tem que ser travado aí, de acordo com o meu ponto de vista.

  • silvia 27/11/2010em20:40

    A experimentação não precisa necessariamente levantar a bandeira da transgressão. Acho deveras curiosa essa vontade de prescrever um limite para o que deve ser feito na literatura atual. sobretudo se o critério para a demarcação do limite se baseia nessa falsa oposição entre a preocupação com a linguagem x técnica(ZZZZZ). nem todo embate com a linguagem é vazio ou produz uma literatura tediosa. mas sem exemplos concretos sinto que o dialogo é vão. porque podemos estar usando os mesmos termos pra dizer coisas bem diversas ou termos bem diversos pra apontar mesmas questoes
    abraços a todos