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Wendy Guerra, o culto à primeira pessoa e o paternalismo

08/08/2010


Teve um público modesto a mesa “Cartas, Diários e outras Subversões”, que reuniu as escritoras Carola Saavedra, chilena naturalizada brasileira, e Wendy Guerra, cubana nunca editada em seu país. Com mediação do também escritor João Paulo Cuenca, elas conversaram sobre como a figura paterna – ou a figura masculina forte – está presente em seus livros (Nunca Fui Primeira-Dama, de Wendy, e Flores Azuis e Paisagem com Dromedário, de Carola) e sobre a exposição do escritor em sua obra. Wendy, que foi apresentadora de TV em eu país – “Uma espécie de Xuxa cubana” – disse que tem preferência pela narração em primeira pessoa.

“Tenho um trabalho performático em primeira pessoa”, reconheceu a escritora, que já posou e realizou performances nua em galerias de arte. Tudo pela arte, aliás. Wendy faz questão de dizer que não consegue separar a arte da vida, por ser filha e amigas de artistas – e possivelmente, vale a interpretação, por essa ser uma forma de transcender as regras restritivas do regime sob o qual vive.

Sobre a presença firme de Fidel Castro em Cuba, Wendy revelou sentir tanto objeção quanto fascínio. “Eu sou dupla. Uma vez, estive em dúvida sobre a minha paternidade e disse à minha mãe, que era uma escritora maravilhosa e nunca foi editada, ‘Cuidado para que eu não seja filha de Fidel, ou eu seria muito forte’”, disse, demonstrando sua admiração pelo cubano, para em seguida lembrar do que a desagrada em Cuba. “É uma sociedade em que oferecem tudo a você, saúde, educação, e é preciso pagar um alto preço por isso. Nós estamos paralisados, sempre esperando algo deles, vivemos assim, é muito paternalista.”

Cuenca – que abriu a mesa agradecendo ao governo cubano por liberar a escritora para a festa – contou que andou com Wendy de lancha em Paraty, e que teve medo da velocidade imposta por ela. “Eu gusto de sentir que posso controlar minha vida, algumas vezes”, comentou ela.

Já Carola Saavedra falou mais de sua obra, contando que busca formas diferentes de contar as histórias de sempre – já que uma história original é algo hoje difícil, se não impossível, de alcançar – e que sempre sente medo de não conseguir escrever o próximo livro. “Quando eu faço um livro, nada me garante que eu farei outro. Pode ser que aquela fonte misteriosa de ideias seque.”

Sobre o tema da figura masculina forte, Carola argumentou que a mulher não se apaixona pela figura física, mas pela figura de força psíquica – o homem que sabe algo, “de repente, algo sobre você mesma”. E disse que, no triângulo escritor-livro-leitor, o escritor é quem deve ser excluído. “Não interessa o que o escritor quer dizer em um determinado livro, interessa o que ele disse e o que o leitor entende do que ele disse. É a relação entre o livro e o leitor que interessa.”

Maria Carolina Maia

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