Clique para visitar a página do escritor.
Aqui está todo o Todoprosa
Posts / 22/12/2020

O Todoprosa é um blog sobre literatura que atualizei por dez anos, de maio de 2006 a outubro de 2016. Mesclava resenhas com notas, comentários, links. Por uns anos eu o renovei todo dia. A princípio no NoMínimo, depois no iG e em Veja.com, o TP virou referência e ponto de encontro quando as redes sociais ainda não dominavam o mundo. Não será mais renovado, seu tempo passou. Também não pretendo tirá-lo do ar. Foi um tempo bom....

Bob Dylan é o mesmo. O Nobel, não
Posts / 14/10/2016

Que o prêmio Nobel de literatura para Bob Dylan tenha deflagrado uma polêmica quente nas redes sociais não espanta ninguém. Polêmica em redes sociais, de preferência bem polarizada e estridente, é o novo padrão-ouro do sucesso no mundo digital. É provável que estivesse nos planos da Academia Sueca o quebra-pau entre a facção do “lindo reconhecimento a um gênio” e as hostes da “lamentável rendição ao pop”. Não de...

‘Todos os contos’: palmo a palmo, a medida de uma Clarice imensa
Resenha / 28/05/2016

Todos os contos de Clarice Lispector (Rocco, 656 páginas) é o livro-monumento que o país devia àquela que foi, ao lado de Guimarães Rosa, a voz mais original da ficção brasileira no século 20. De forma embaraçosa, a dívida foi paga com dinheiro emprestado: até na bela sobrecapa premiada de Paul Sahre, o volume de capa dura que chega ao leitor brasileiro é o que foi organizado pelo biógrafo e pesquisador americano Benjamin M...

Quixote, o maluco que inventou a liberdade
Resenha , Vida literária / 22/04/2016

Advertência: o fôlego deste artigo é pouco compatível com a brevidade internética. Ele foi escrito para a edição de papel da revista Veja que está agora nas bancas, como parte do material especial sobre os 400 anos da morte de Cervantes – completados hoje – e de Shakespeare, e dividiu as páginas com um texto igualmente extenso sobre o bardo assinado por Jerônimo Teixeira. Como se diz na Espanha: Vale. * A imagem é mais ve...

O inseto de Kafka era barata ou besouro?

A única resposta consistente para a dúvida enunciada no título acima, uma das mais resistentes de toda a literatura do século XX (e atualizada de forma fortuita por um imenso blatídeo que apareceu há pouco aqui no banheiro), é que não sabemos. O texto de “A metamorfose”, de Franz Kafka, simplesmente não nos fornece elementos suficientes para dizer. Foi mesmo uma barata, no entanto, o bicho que pousou no imaginário da maior...

Piglia, Tchekhov e a arte de narrar

Em seu lapidar ensaio Teses sobre o conto, publicado no livro “Formas breves”, o escritor e crítico argentino Ricardo Piglia resume assim o ponto de partida de suas reflexões sobre as histórias curtas – ou, em inglês, simplesmente stories: Primeira tese: um conto sempre conta duas histórias. Numa linguagem límpida e legível que não esconde a generosa – e rara – intenção de conversar com o maior número possível de l...

Escrever bem é ter o que dizer. E vice-versa

“Fulano escreve bem, mas não tem o que dizer.” Não lembro onde li a frase, muito tempo atrás – provavelmente numa resenha ou quem sabe em duas ou três, pois a verdade é que se trata de um semiclichê crítico. Junto com seu autor ou autores, minha memória deixou de registrar também o alvo ou os alvos da diatribe. Foi a frase em si que passou a me assombrar de tempos em tempos em meus primeiros anos de escritor tatea...

‘Viagem ao redor da garrafa’: por que os escritores bebem?
Resenha / 16/02/2016

Em Viagem ao redor da garrafa (Rocco, tradução de Hugo Langone, 320 páginas, R$ 44,50), a jornalista inglesa Olivia Laing promove uma curiosa – e nem sempre bem-sucedida – mistura de gêneros. Ensaio biográfico, crítica literária, memórias e relatos de viagem são jogados na coqueteleira para tentar revelar “por que os escritores bebem e que efeito essa mistura de bebidas teve sobre o corpo da própria literatura”. Se o o...

O que aprendi com Nelson sobre o diálogo

Este artigo é ao mesmo tempo o reconhecimento público de uma dívida pessoal e uma dica: talvez não haja lição mais importante que os escritores brasileiros do século 21 possam tirar da obra de Nelson Rodrigues (foto) do que o difícil aprendizado do diálogo. Falo de uma questão de forma. Isso não significa minimizar o famoso conteúdo rodriguiano, esse impressionante universo de tipos caricaturais da baixa classe média carioc...

Tempos e pessoas: viagem ao coração da literatura

Um dos conselhos literários mais importantes que já recebi – quase tão importante quanto aquele outro, o de desconfiar de todos os conselhos literários – me apareceu quando eu tinha vinte e tantos anos, lendo um artigo de Autran Dourado sobre seu método de trabalho. Se a memória não me engana mais do que o habitual, o escritor mineiro revelava, embora não com essas palavras, uma forma de dar vida nova a textos deficientes, i...

Como não começar um romance

As “franjinhas literárias” que foram tema de um post barthesiano aqui no blog – aqueles emblemas de literariedade que nada mais são do que uma manifestação do mau e velho clichê, da linguagem morta ou pelo menos artrítica – podem ser mais ou menos antiquadas. É claro que existem as franjinhas modernosas e até as vanguardistas, pois, nas palavras de Ricardo Piglia, “a modernidade é o grande mito da literatura contempor...

‘Era uma noite escura e tempestuosa’: sobre o clichê

Conversando com uma amiga, romancista talentosa que tem ministrado oficinas literárias, ela dizia que uma de suas maiores dificuldades é explicar aos alunos o que vem a ser um clichê. Fazer o orgulhoso autor de uma frase como “as ondas lambiam voluptuosamente a areia”, que tanto o agrada por sua carga poética, compreender que ela é inaceitável. Não apenas ruim mas desclassificante, algo que um leitor mais exigente tenderá a ...

McEwan, Zadie e o limite de quinze palavras por dia

Entre as muitas delícias da longa entrevista (em inglês, acesso gratuito) que Zadie Smith fez com Ian McEwan em 2005, publicada pela revista The Believer, minha preferida aparece já no texto introdutório da autora de “Sobre a beleza”. Zadie conta que, ainda universitária e aspirante ao mundo das letras, foi levada por uma amiga enturmada à festa de casamento de McEwan, já então um escritor estabelecido (embora ela confesse q...

A insustentável leveza de um golaço

Um jornal de Belo Horizonte pisou na bola da linguagem e, em chamada de primeira página, classificou de “ontológico” o gol marcado por Neymar aos 39 minutos e meio do segundo tempo da partida entre Barcelona e Villareal pelo Campeonato Espanhol, domingo passado (8/11), no Camp Nou. Acertou sem querer, como aquele centroavante tosco que arma uma bomba e, errando o chute, roça na bola tão de leve que ela engana o goleiro e desliza...

Poe e a filosofia da edição

Num debate na Biblioteca de São Paulo com a presença de outros finalistas do Prêmio São Paulo de Literatura, ano passado, um rapaz na audiência nos perguntou – a Adriana Lisboa, Michel Laub e Flavio Cafiero, além de mim – o que pensávamos do “método” de escrita defendido por Edgar Allan Poe em seu famoso ensaio “A filosofia da composição”. Foi um prazer inesperado ver surgir numa conversa literária de hoje, e traz...

‘Não é meia-noite…’: Lobo Antunes no labirinto da memória
Resenha / 07/11/2015

O novo lançamento do escritor português António Lobo Antunes no Brasil, o romance “Não é meia-noite quem quer” (Alfaguara, 480 páginas, R$ 59,90), publicado em Portugal em 2012, oferece munição tanto a seus fãs incondicionais quanto a seus detratores. Estamos falando de um velho emb...