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Cadê o Instituto Machado?

18/06/2009

O Brasil não está a fazer o que Portugal está a fazer, por exemplo. Portugal tem o Instituto Camões cujo objetivo é exatamente o de promover a língua portuguesa no mundo e o Brasil não tem nada equivalente. O Brasil, por exemplo, não dá apoio às traduções de seus autores no estrangeiro. Portugal tem uma política eficiente de apoiar tradução, apoiando inclusive autores africanos também e o Brasil não tem esta política. De vez em quando, a Biblioteca Nacional apoia uma ou outra tradução, mas não há uma política definida. O Brasil tem que fazer isso. O Brasil tem que entender que a cultura traz muito dinheiro ao país. (…) Tem que compreender que sua afirmação no mundo passa também pela afirmação da língua portuguesa e tem que criar estruturas de promoção da língua e tem que começar a apoiar seus escritores, seus cantores e seus músicos.

Sei que ninguém gosta de ver um estrangeiro apontando mazelas aqui dentro, mas está certíssimo o escritor angolano José Eduardo Agualusa, em entrevista à Rádio ONU. É imperdoável a miopia oficial para ações de afirmação cultural num momento em que o Brasil, embalado pela onda BRIC, quer ser reconhecido como potência mundial. Faltam bolsas para treinamento de tradutores de português de diversas nacionalidades, auxílio para viagens de autores brasileiros ao exterior, um trabalho mais competente em feiras internacionais de livros – a lista do descaso é gigantesca. E não custaria tanto assim: uma pequena fração do que escoa no ralo do Senado já dá para fazer uma festa.

21 Comentários

  • Thiago Maia 18/06/2009em13:56

    Acertado, corretíssimo, perfeito.

  • C. S. Soares 18/06/2009em14:06

    Vou mais além, Sérgio, e pergunto: qual o percentual autores nacionais publicados pelas editoras nacionais? Em um mundo globalizado (em que praticamente todos se comunicam pelo inglês), a única coisa que efetivamente nos diferenciará será a nossa ‘especialização’ em cultura brasileira. Se não fizermos um trabalho sério de divulgação lá fora, em breve, creiam, os autores nacionais estarão publicando diretamente em inglês, por editoras estrangeiras. Não que isso seja ruim, mas deveria ser um complemento.

    É importante frisar também, Sérgio, já que você citou o BRIC, que a literatura brasileira continua sendo, lá fora, a mais obscura das quatro letras da sigla. Falta-nos qualidade e tradição? Claro que não. Falta-nos divulgação. Mas tudo, claro, é um composto. Antes, precisamos fazer o dever de casa. As editoras nacionais precisam publicar mais autores nacionais. Sem divulgação interna, como haver uma externa? Se não houver uma preocupação em desenvolver seriamente uma literatura nacional não teremos a menor chance. Em breve, conheceremos mais a cultura indiana que a brasileira.

    Precisamos pensar para a frente, globalmente, planejarmos os próximos 5, 10, 20 anos. O governo deve fazer a sua parte, mas precisamos ser mais profissionais e empreendedores. Claro que a idéia de um “Instituto” é interessante, mas não resolve problemas estruturais, práticos.

    Estivemos (e estamos) todos envolvidos com a reforma ortográfica mas tem um assunto (importante) que não escutei ninguém comentar. Comento eu: quem olha pelo português que trafega na grande rede, dentro dos aplicativos que rodam na web? Isso é estratégico.

    Todos software que roda na internet processa o inglês. Logo, qualquer tarefa que envolva leitura na rede será mais fácil em inglês.

    Por que isso acontece? Explico: os aplicativos, principalmente os permitem comunicação em linguagem natural (ebooks ou ‘cloud publishing’ levará a leitura e a escrita para esta realidade nos próximos anos) que roda na web precisa ter acesso a um léxico.

    Bancos de dados do léxico inglês estão disponíveis em diversos sites, onde podem ser baixados gratuitamente e incoporados às nossas próprias soluções de software. Não temos o similar em português.

    O VOLP (digital), penso, deveria ser essa solução. Deveria ser colocado à disposição dos desenvolvedores de software nacionais para que essa base seja disseminada e mais e mais aplicativos nacionais sejam desenvolvidos e disseminando (através de nosso idioma) a cultura brasileira.

    Isso também é estratégico para a afirmação cultural e política do Brasil como economia emergente.

  • Sérgio K. 18/06/2009em14:11

    Sei que a sua intenção é a melhor Sérgio, mas passo a oportunidade… com meu dinheiro de impostos.

    Na prática, vamos ficar pagando traduções de livros Marcelino Freire, Férrez, Nazarian, Mirisola, Terron… Não quero envergonhar o meu país.

  • Rafael 18/06/2009em15:04

    O precedente aberto pela ABL é suficientemente ilustrativo da inutilidade de tais instituições em terra brasilis. Acredito que o pobre Machado, no além-mundo, deve sentir a infinita vergonha de ser o inaugurador dessa instituição decrépita atualmente ocupada pelos mais insignes e preclaros representantes da República das Letras: Sarney, Ivo Pitanguy, Paulo Coelho, etc. Para que manchar mais ainda sua reputação com uma nova instituição que carregará, ó suprema infâmia, seu nome?

  • Fernando Torres 18/06/2009em15:37

    Caro Sérgio K. prefiro uma tradução de qualquer um desses autores a um centavo dado à sobrinha de um político que veve na Espanha e recebe como funcionária do Senado.

  • Werner Plaas 18/06/2009em15:52

    Eu também já me fiz a pergunta. Dante, Camões, British Council e Aliança Francesa promovem bem suas respectivas línguas e culturas. Cadê o nosso Instituto Machado, caramba?

  • Kíssila 18/06/2009em16:36

    BRAVO!

  • C. S. Soares 18/06/2009em17:10

    No meu comentário anterior, preferi estabelecer um ponto de vista mais amplo para o tema, lembrando a responsabilidade de todos os players do mercado literário. Em relação à ideia (interessante) do Instituto, penso que a ABL teria todo respaldo, legitimidade e competência para implementar o projeto.

  • Fernando Torres 18/06/2009em17:13

    Por que não Instituto Guimarães Rosa? Por que sempre Machado? Já não basta a ABL?

  • kylderi 18/06/2009em17:30

    Por falar em Machado e em seu templo, a ABL, como ela se mantém? Se recebe dinheiro público, por que não tem uma ação mais eficiente no próprio Brasil? Ou só atua no Rio de Janeiro?

  • Tomás 18/06/2009em17:42

    Nossa, tomei um susto. Li a fala de Agualusa, o texto do Sérgio e o comentário do C.S Soares. Achei todos os argumentos óbvios. E isso não é uma crítica negativa. São óbvios no sentido de que não há como discordar deles. Evidente que o governo precisa arrumar uma maneira de investir em literatura.
    Deve haver uma forma de fazer com que o dinheiro de insenção fiscal não vá majoritariamente para comédias românticas vagabundas, que depois acabam gerando uma fortuna em bilheteria para seus produtores.
    E é claro que as editoras precisam perceber que sem produto nacional de qualidade, elas se tornarão meras franquias esquizofrênicas do Amazon.
    Mas o susto, vamos ao susto. O susto veio ao notar que há leitores deste site. Repito, deste site, que são contra gastar dinheiro com literatura nacional.
    Mais um sinal, portanto, que algo precisa ser feito. E logo.

  • gilvas 18/06/2009em18:40

    pequenas ações, neste panorama, trariam repercussão fabulosa.

  • ENY DE ARAUJO 18/06/2009em22:09

    Bom prosa quem fala é mineiro. Sou mineiro de uma cidade chamada Poço Fundo, vejo um desarranjo enorme nesta questão.
    Viso que no Brasil você querer chegar em algum lugar, tem que ter condições financeiras.
    E ter conhecimento de qualquer coisa neste país ou você corre atrás, ou fica vendo a novela das oito India sendo que o Brasileiro não sabe falar e nem escrver o seu idioma…………………

  • Samira 18/06/2009em22:44

    Realmente, Sérgio, a lista de descasos é gigantesca. Pra colocar mais uma coisinha na lista, vale lembrar do ensino de português para estrangeiros, deixado ao Deus dará em vários países, com professores trabalhando sem apoio nenhum – nem auxílio para se aperfeiçoarem – nada. Conheço vários casos. O Brasil manda professores (no caso, chamados de “leitores”) para vários países, mas em número insuficiente. Quem carrega o piano de verdade são os brasileiros – muitos sem formação específica – e os professores estrangeiros.
    Considerando que a procura pelo português é crescente, o descaso é inexplicável.
    Quando se fala em “cultura”, esquece-se o veículo dessa cultura – a língua.

  • Rodrigo O. 18/06/2009em23:16

    Instituto Paulo Coelho já!

    Concordo com a tradução de brasileiros para o exterior.
    Quem sabe assim alguém os leia!

  • isaac 19/06/2009em01:21

    disse tudo, sérgio, e o agualusa também.

  • Carlos Eduardo 19/06/2009em16:35

    Concordo plenamente com o que Agualusa falou e com o que o Sérigo Rodrigues comentou.

    Lendo alguns comentários ao post, vejo que a maioria está de acordo e enfatiza que a língua portuguesa precisa ser melhor divilguda no exterior.

    Mas acontece que a língua portuguesa não é conhecida nem mesmo no Brasil. Nosso idioma é hermético para a maioria da população.

    Que o Instituto Machado de Assis _ sim, sempre ele porque melhor que os outros somados _ comece por fazer o que a ABL não fez e nunca fará: tornar a língua portuguesa culta a mais falado e escrita do …. Brasil.

  • Satan-Clair Stockler 19/06/2009em21:03

    Sugiro a criação do Instituto Paulo Coelho ou então do Instituto José Sarney.

    rsrsrs

  • Satan-Clair Stockler 19/06/2009em21:21

    Alternativamente, pode ser também o Instituto Bruna Surfistinha ou o Instituto Zíbia Gasparetto. Viva las mujeres! rsrsrs

  • Mr. WRITER 22/06/2009em17:17

    O nome disso se chama Ditadura da Burrice…

    Se o “povo” for esperto, letrado a cultura promovida, logo todos os currais eleitores do país estarão em serio perigo… Resumindo, quer-se a cultura enterrada e os jumentos votando numa boa…

  • Ken Westmoreland 19/05/2010em21:13

    O Instituto Machado de Assis é o instituto cultural do país do futuro, e sempre será!