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Como a Coreia do Norte salvou a arte alemã e outros links

10/06/2013

Um fascinante artigo da Bloomberg Businessweek (em inglês, acesso gratuito) conta como um gigantesco ateliê norte-coreano de escultura e pintura em estilo realista-socialista, o Mansudae (que tem como principal cliente o próprio Estado, claro), foi a melhor opção da cidade de Frankfurt quando, há poucos anos, seus administradores decidiram reconstruir a Fonte do Conto de Fadas (foto), uma extravagância art noveau de 1910 que tinha sido derretida para alimentar a indústria bélica nazista na Segunda Guerra Mundial. Uma fábula real sobre como o tecido da história tem dobras surpreendentes em que o “atraso” estético pode virar vantagem competitiva:

Klaus Klemp, diretor do Museu de Arte Aplicada de Frankfurt, descobriu o Mansudae em 2004 e ficou tão impressionado com a qualidade de seu trabalho que convenceu a burocracia local a contratar o ateliê. “Foi uma decisão puramente técnica”, diz ele. “Os artistas de ponta na Alemanha simplesmente não fazem mais arte realista. Os norte-coreanos, por outro lado, não vivenciaram a longa evolução da arte moderna: estão meio que presos no início do século XX, que é exatamente quando a fonte foi construída.” O preço cobrado pela Coreia do Norte para reconstruir a escultura de bronze também foi atraente: 200 mil euros, transporte incluído.

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No artigo “Jornalismo cultural: promessas e impasses” (o primeiro de uma série), o crítico literário João Cezar de Castro Rocha dá prosseguimento, no jornal “Rascunho”, às mais lúcidas reflexões que tenho visto por aí sobre o momento crivado de sinais contraditórios que vive a cultura brasileira:

De um lado, verifica-se um movimento intenso na área da literatura, em particular, e da cultura, em sentido amplo. Festivais literários se multiplicam; jovens leitores criam blogs e vlogs para discutir suas leituras; autores se desdobram em oficinas e palestras; pequenas editoras surgem com propostas ousadas; o fenômeno da auto-publicação se firma no cenário das letras brasileiras, etc. etc..

De outro lado, escuta-se um coro orquestrado de teóricos, críticos e jornalistas decretando a decadência do momento atual, e, em casos extremos, diagnosticando o “vazio cultural” como a marca-d’água dos tempos que correm.

Ora, em meio ao tiroteio, que partido tomar?

No primeiro momento, partido algum. Trata-se de estudar o presente com uma dupla mirada, destacando as promessas, porém assinalando os impasses.
Em segundo lugar, deve-se analisar, concretamente, a cena contemporânea; caso contrário, como evitar o ridículo de uma frase que se ouve e lê com uma frequência preocupante? Eis: afirma-se que a literatura brasileira contemporânea pouco vale; e a crítica, nada conta. Nesse caso, pergunta-se ao casmurro magistrado: “mas que autores contemporâneos o senhor leu recentemente?”. A resposta, primorosa em sua perversão, encerra o diálogo, como se os famosos antropólogos de gabinete do século 19 retornassem sem constrangimento: “Eu? Nenhum, claro! Pois se a literatura brasileira contemporânea pouco vale…”.

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Uma imperdível reportagem de Lucas Ferraz na “Ilustríssima” conta a história da maior biblioteca especializada em sexo, drogas e contracultura em todo o mundo, com mais de 50 mil itens, muitos deles raridades. A coleção foi montada ao longo da vida pelo bilionário colombiano Julio Mario Santo Domingo Jr., morto em 2009, e cedida pela família a Harvard.

4 Comentários

  • Madre Dios 10/06/2013em15:46

    Sérgio, tu já publicaste alguma lista de obras que você tenha lido e gostado? Se não, poderias fazer uma? O que achas? Única regra: A lista deve conter mais de dez obras. rs. É claro que se eu for garimpar encontrarei uma lista neste blog, mas gostaria que fizesses uma, se não te fores incômodo.

    • sergiorodrigues 10/06/2013em19:08

      Madre, desculpe, mas vou passar. Depois de mais de sete anos falando de livros no Todoprosa, estou vendo cada vez menos sentido em listas desse tipo – ainda mais assim, sem recorte temático ou de época. Mas se você der uma busca na seção Que cena!, aqui do blog, terá uma relação interessante. Um abraço.

  • Thomas Almeida 10/06/2013em17:16

    Sergio, Estou perplexo, nao com a materia em si, que achei bastante curiosa. Minha perplexidade esta na expressao “…..estão meio que presos no início do século XX….”. Pensei que o tal do “meio que” fosse algo horripilante e abominavel….Pra mim continua a me doer os ouvidos esse tipo de expressao, assim como os “tipo assim”, “a nivel de” e por ai vai.

    • sergiorodrigues 10/06/2013em17:23

      Acho que você pode poupar sua perplexidade, Thomas. “Meio que presos” é uma construção coloquial que me pareceu a mais precisa tradução do original, igualmente coloquial, kind of stuck. “Meio presos”, naturalmente, não resolveria o problema, por ter sentido um pouco diferente. Um abraço.