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Lendas etimológicas: Larápio

27/06/2009

Com o fim da “Revista da Semana”, da editora Abril, a coluna que eu escrevia lá e republicava aos sábados no Todoprosa está momentaneamente suspensa. Mas a etimologia não vai sair do ar aqui. Começo hoje uma série retrospectiva sobre “lendas etimológicas”, aquelas historinhas engraçadas ou curiosas – embora provavelmente falsas – que muita gente ajuda a espalhar, inclusive autores de livrinhos populares sobre a origem das palavras. Garimpado no arquivo que “A palavra é…” acumulou em sua primeira encarnação, entre 2004 e 2007, quando era uma coluna diária no site NoMínimo, o texto abaixo foi publicado em 29/8/2005:

A origem da palavra “larápio” é um dos maiores motivos de quebra-pau entre os estudiosos da etimologia. Vale a pena perder algum tempo com o assunto: ainda que a palavra – que, como se sabe, quer dizer ladrão, gatuno – não tivesse triste atualidade, a controvérsia que provocou e ainda provoca seria o bastante para lhe garantir um interesse didático. Especialmente num momento em que certa “etimologia de almanaque”, que privilegia sempre as teses engraçadinhas sem consideração por sua consistência histórica, faz tanto sucesso editorial.

O respeitado etimologista brasileiro Antenor Nascentes foi buscar num livro popular chamado “Frases e curiosidades latinas”, de Arthur Rezende, a seguinte explicação para “larápio”: “Houve em Roma um pretor que dava sentenças favoráveis a quem melhor pagava. Chamava-se ele Lucius Antonius Rufus Appius. Sua rubrica era L.A.R. Appius. Daí chamar-lhe o povo larappius, nome que ficou sinônimo de gatuno”. Hmmm, será? O próprio Nascentes não parece pôr a mão no fogo: encerra o verbete com o famoso dito italiano: “Se non è vero…”. Mas o fato de ter dado abrigo à tese em seu prestigioso “Dicionário Etimológico da Língua Portuguesa” lhe valeu cascudos de colegas como o português José Pedro Machado e o compatriota Silveira Bueno, que anotou: “A imaginação, em ciência, nem sempre ajuda”.

E o que propõem os críticos de Nascentes no lugar da tese do pretor corrupto? Nada, esse é o problema. “Origem obscura”, diz-se nessas horas. O que pode ser – e é – um jeito mais rigoroso e sério de abordar o problema, mas certamente ajuda a entender o sucesso que fazem historinhas imaginosas como a de “larápio”, passadas de geração em geração. Entre a fria indeterminação e a mentira que consola, a humanidade nunca teve um segundo de dúvida.

5 Comentários

  • kylderi 27/06/2009em16:30

    Graças, Sérgio. Faria muita falta não ler semanalmente um texto sobre etimologia.

    PS: Num jornal local, Diário do Nordeste (é de Fortaleza-CE), um frei capuchinho publica às segundas uma página sobre origem das palavras. Algumas vezes é proveitosa; outras, nem tanto (descontando a pontuação dele).

  • Pablo 28/06/2009em03:05

    Que é engenhosa, ah, isso é!
    É sempre bom matar saudade daquela coluna do NoMínimo. Eu não perdia uma.

    Abraço,

    Pablo
    http://cadeorevisor.wordpress.com

  • Pablo 28/06/2009em03:06

    Que é engenhosa, ah, isso é!
    É sempre bom matar saudade daquela coluna do NoMínimo. Eu não perdia uma.

    Abraço,

    Pablo.

  • Pablo 28/06/2009em03:31

    Que é engenhosa, ah, isso é!
    É sempre bom matar saudade daquela coluna do NoMínimo. Eu não perdia uma.

    Abraço,

    Pablo

  • João Athayde 28/06/2009em04:19

    Sérgio, me desculpe fugir do tema em pauta, mas gostaria de saber se você vai participar de alguma mesa-redonda na FLIP.
    Um abraço.