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Depois de Nélida, Auster
Posts / 31/05/2006

O americano Paul Auster ganhou o prêmio espanhol de âmbito internacional Príncipe de Asturias das Letras, no valor de 50 mil euros (quase R$ 150 mil), que ano passado ficou com Nélida Piñon. Chegaram com Auster à final o também americano Philip Roth e o israelense Amos Oz. Notícia completa do site da Fundação Príncipe de Asturias aqui. Tomara que o prêmio ajude a dar fôlego novo ao escritor do Brooklyn. Não estou entre os que gostam de esnobá-lo – uma espécie de esporte intelectual da moda nos últimos anos – porque conservo vivo na memória o prazer que tive em minha fase “austeriana”, quando enfileirei avidamente títulos como “Trilogia de Nova York”, “Leviatã”, “Palácio da Lua” e “A invenção da solidão”. Mas reconheço que nos últimos anos o lado mais chato e autocomplacente do autor, que nunca esteve inteiramente ausente de sua obra, vem levando a melhor. Talvez significativamente, a notícia do prêmio encontrou Auster em Portugal, às voltas não com literatura mas com a filmagem de seu segundo longa-metragem como diretor, chamado The inner life of Martin Frost. O primeiro filme, “Lulu na ponte”, lembra seus piores livros: pose demais para pouca substância.

O escritor e o terrorista
Posts / 31/05/2006

Acho que me senti capaz de compreender a animosidade e o ódio que um fiel do Islã pode ter pelo nosso sistema. Ninguém está tentando ver as coisas por esse ponto de vista. Suponho que eu esteja arriscando o pescoço de várias maneiras, mas talvez seja para isso que existem escritores. Às vezes eu penso: “Por que fiz isso?”. Estou cavucando um assunto que pode ser muito doloroso para algumas pessoas. Mas quando essas sombras me cruzavam a mente, eu dizia: “Eles não podem exigir um retrato mais simpático e, em certo sentido, mais amoroso de um terrorista”. John Updike, 74 anos, um dos principais escritores americanos vivos, fala de seu novo romance, que sai por lá na semana que vem, em entrevista a Charles McGrath no “New York Times” de hoje (cadastro gratuito). O nome do livro é Terrorist. A polêmica, como se vê, é garantida – uma polêmica mais política do que literária, certamente, e no meio da confusão pouca gente deve reparar que o ritmo de thriller é uma novidade surpreendente na carreira do autor. “Terrorista” conta a história de um rapaz de 18 anos, Ahmad, filho de uma americana riponga e de um estudante egípcio de…

Obra-prima cinqüentona: presentes
Posts / 30/05/2006

Nosso livro realiza um impulso difuso nos romances em geral, que em grandes obras do século 20 se torna uma espécie de marca fundamental: a vocação para a totalidade. Toda vez que pensamos nele, devemos pensar também no ‘Ulisses’, de Joyce; no ‘Em Busca do Tempo Perdido’, de Proust; no ‘Berlim Alexanderplatz’, de Alfred Döblin; no ‘Doutor Fausto’, de Thomas Mann; no ‘Quer Pasticciaccio Brutto de Via Merulana’, de Carlo Emilio Gadda; em algum romance de Faulkner; no ‘Século das Luzes’, de Alejo Carpentier, e em poucos outros mais. São obras que tentam dar uma súmula da experiência humana. O trecho acima é tirado do longo artigo que o crítico Davi Arrigucci Jr. escreveu para o magistral caderno especial Grande Sertão: Veredas – 50 anos, publicado sábado passado pelo “Estadão”. Quem puder ter acesso à versão de papel não deve titubear: só lá podem ser lidos os textos de Antonio Candido (escrito em 1956 e avaliando com precisão, em cima do laço, a grandeza da obra), Walnice Nogueira Galvão, Willi Bolle e Mario Sergio Conti, entre outros (ou na versão digital do jornal, para quem for assinante). Aperitivo: com acesso livre no site, além do artigo de Arrigucci, estão os…

Cristine Costa: os bastidores da escrita

O romancista Milton Hatoum, autor dos ótimos “Dois irmãos” e “Cinzas do Norte”, abre amanhã, terça-feira, às 18h30, no Centro Cultural Banco do Brasil do Rio de Janeiro, um ciclo de debates chamado Laboratório do Escritor, dedicado a discutir os bastidores da criação literária. Concebido pelas jornalistas Cristiane Costa e Valéria Lamego, que atuarão como entrevistadoras, o evento apresentará um autor por mês. Depois de Hatoum vão passar pelo CCBB, nesta ordem, Luiz Alfredo Garcia-Roza, Silviano Santiago, Luiz Vilela, João Ubaldo Ribeiro e Lygia Bojunga. A entrada é franca, com distribuição de senhas. Abaixo, Cristiane, autora de “Pena de aluguel – Escritores jornalistas no Brasil” (Companhia das Letras), explica a idéia. Por que pôr escritores para falar do seu processo de criação se os bastidores de um livro, com todo aquele escreve-rasga-reescreve, costumam ser um ambiente meio tedioso? – Em quase toda palestra de escritor a que já assisti, as pessoas acabam perguntando sobre esses assuntos, como uma idéia surge, como um personagem é desenvolvido. A curiosidade é muito grande, mas em geral isso acaba perdido no meio de outros temas e discussões. E achamos que, no final das contas, talvez seja o que mais interessa aos fãs de um…

Lista da Flip está fechada – confira
Posts / 29/05/2006

A lista dos autores que estarão em Parati de 9 a 13 de agosto está fechada. Ainda não há data marcada para a divulgação oficial, mas os últimos nomes, além daqueles que já estavam confirmados (Jonathan Safran Foer, Nicole Krauss, Benjamin Zephaniah, Uzodinma Iweala, Mourid Barghouti e Maria Valéria Rezende), andam vazando por todos os lados. Nem sempre as informações batem. Sábado, a “Folha de S.Paulo” divulgou uma lista (só para assinantes do jornal ou do UOL) com acertos e erros. Os principais acertos: Adélia Prado, o argentino Ricardo Piglia e os americanos Lilian Ross, jornalista, e Edmund White, ficcionista e crítico. Os maiores erros: não confirmar a presença da americana Toni Morrison, único Nobel e principal estrela da festa, que “O Globo” havia noticiado com um tiro na mosca (nota abaixo); e confirmar equivocadamente o nigeriano Chinua Achebe, que de fato foi convidado para compor uma mesa de literatura africana com o também nobelizado Wole Soyinka – mas nenhum dos dois fechou. Ausente das especulações até o momento, também virá a Parati o francês Olivier Rolin, que terá seu romance “Tigre de papel” lançado em breve pela Cosac Naify. Já o supercrítico americano Harold Bloom esteve muito perto de…

Edgar Allan Poe no dia do ‘nevermore’
Posts / 29/05/2006

O gênio americano Edgar Allan Poe inventou praticamente sozinho a literatura de mistério e um bom pedaço da ficção científica, além de ter se tornado pai e mãe do gênero policial ao criar um detetive voltado para a pura dedução, Dupin, que torna Sherlock Holmes pouco mais que um discípulo esforçado. Tudo bem, mas será que isso nos autoriza a imaginar que Poe concebeu o estranho enredo de sua própria morte, de modo a deixar um último mistério – insolúvel – para a posteridade? Ou essa idéia não passa de romantismo, fruto da inclinação que nós, leitores, temos por borrar as fronteiras entre vida e obra dos autores que admiramos? O fato é que Poe foi visto gozando de boa saúde em Baltimore, em 1849, até sumir de circulação. Passou cinco dias desaparecido, e sobre o que fez nesse tempo nada se conseguiu apurar. Quando finalmente o descobriram num hotelzinho-taberna chamado Ryan’s, estava de cama, em estado lastimável, e morreu logo depois. Tinha 40 anos. Charles Baudelaire, seu fã, nunca duvidou de suicídio. Será? A história está no livro The Poe’s shadow (“A sombra de Poe”), de Matthew Pearl, que acaba de sair na Inglaterra, e do qual o Telegraph…

Roberto Pompeu de Toledo: ‘Leda’
Primeira mão / 28/05/2006

O jornalista Roberto Pompeu de Toledo, colunista que há anos toma conta da última página da revista “Veja”, é dono de um dos textos mais literários – no bom sentido – da imprensa brasileira. Era talvez inevitável que acabasse experimentando o romance, como faz agora com “Leda “ (Objetiva, 160 páginas, R$ 27,90). O livro, que conta a estranha relação entre um escritor famoso e seu biógrafo, tem um subtítulo saboroso: “Relato romanesco em 13 capítulos e epílogo, contendo uma versão condensada de ‘A Busca Vã da Imperfeição’”. A seguir, o trecho que abre o romance: Chapéu… Sim, havia um chapéu, de fino feltro negro, elegante chapéu de proteger da friagem e do sol mas também de impor respeito, e os olhares em volta eram de admiração e reverência, quando não enamorados e suspirosos, ou… Não, não tão elegante, na verdade um chapéu pobre e roto, chapéu-coco à Carlitos, divertido, com que se brincava e ria, pondo e tirando, pondo e tirando, mas… eis que da última vez que pousa na cabeça ele começa a apertar, assim machuca, assim não é bom, tenta-se tirá-lo, e agora ele não sai… tenta-se de novo, puxa-se daqui e dali, experimenta-se um golpe mais…

Paulo Coelho esquenta a Sibéria
Posts / 27/05/2006

Nós já sabíamos que (Paulo) Coelho é popular. Suas histórias de busca espiritual venderam tanto no mundo inteiro que os números que costumam ser citados nos jornais (70, 80, 90 milhões?) fazem pouca diferença. Sua tradução é facilitada pelo uso rudimentar, ao modo das parábolas, que Coelho faz da linguagem. Mas mesmo ele e seus editores e divulgadores parecem ter sido apanhados de surpresa pelo entusiasmo despertado nas estepes. John Mullan escreveu no Guardian (em inglês, acesso livre), sem disfarçar o queixo caído, sobre a inacreditável recepção que as mais remotas cidadezinhas da Sibéria estão proporcionando ao escritor brasileiro, cercado por uma multidão sempre que desce de seus dois vagões particulares no expresso Transiberiano – modo de viajar que Mullan compara ao de um “monarca do século XIX”. A imagem procede: Paulo Coelho viaja com uma equipe numerosa que inclui dois chefs internacionais, embora só se refira à aventura como “peregrinação”. Sei não, mas a imprensa brasileira parece ter engolido uma mosca gigante.

Mundo cão
Posts / 26/05/2006

Eu sei que livros (assim como filmes) sobre cachorros sempre tiveram um cantinho seguro no mercado, mas a lista de mais vendidos do “New York Times” (mediante cadastro gratuito) sugere que a cinofilia literária está atingindo uma espécie de apoteose. Em primeiro lugar na lista de não-ficção está Marley & Me, do jornalista John Grogan, que conta a história da atribulada – mas no fim das contas inspiradora e terna, é claro – convivência de sua família com Marley, um labrador neurótico e hiperativo. Na terceira posição da lista de auto(?)-ajuda surge Cesar’s way (“O jeito de Cesar”), em que o apresentador de um programa televisivo de sucesso chamado Dog whisperer (“Sussurrador canino”, aquele que sussurra com cachorros), Cesar Millan, dá lições sobre a psicologia dos totós. Talvez não seja exagero imaginar que a tendência chegará ao ponto de invadir a ficção e nos brindar com novelinhas bitch lit estreladas por poodles cor-de-rosa. Eu seria leitor garantido de um romance policial ultraviolento sobre um serial killer da raça pitbull.

Nem os luandinistas entenderam
Posts / 25/05/2006

Resumindo a fúria dos luandinistas militantes que deixaram comentários na nota ali embaixo, sobre a recusa do Prêmio Camões pelo grande escritor angolano: também não entenderam nada, coitados. Não deviam se amofinar tanto. Ninguém entendeu. Curioso é pensarem que o direito – cristalino, sem dúvida – que Luandino Vieira tem de esnobar um prêmio de prestígio anula o do resto da humanidade de achar que, sem uma explicação razoável, a extravagância fica com cheiro de desfeita, e só. Não digo que seja sua intenção, digo que parece. Uma boa explicação seria, no mínimo, sinal de respeito a José Saramago, Jorge Amado, Pepetela, Miguel Torga, João Cabral de Melo Neto e Sophia de Mello Breyner Andresen, entre outros autores que já ganharam – e aceitaram, onde já se viu – o principal prêmio da literatura em língua portuguesa. Ah, sim: servia uma explicação “pessoal, íntima”, como a que Jean-Paul Sartre apresentou ao recusar o Nobel de Literatura de 1964: “Um escritor deve se recusar a ser transformado em instituição”.

Tirem as crianças da sala: Kurt Vonnegut está na área
Posts / 25/05/2006

Eis aqui uma lição de texto criativo. Primeira regra: Não usem ponto-e-vírgulas. São travestis hermafroditas que não representam absolutamente nada. Tudo o que fazem é mostrar que você esteve na universidade. Percebo que alguns de vocês têm problemas para decidir se estou brincando ou não. Por isso, a partir de agora, vou lhes dizer quando estiver brincando. Por exemplo, ingressem na Guarda Nacional ou nos Fuzileiros Navais e ensinem a democracia. Estou brincando. Estamos para ser atacados pela al-Qaeda. Acenem bandeiras, se as tiverem. Isto sempre parece afugentá-los. Estou brincando. Se querem realmente magoar seus pais e não têm coragem de se tornar gays, o mínimo que podem fazer é entrar para as artes. Não estou brincando. O livro “Um homem sem pátria” (Record, tradução de Roberto Muggiati, 160 páginas, R$ 34,90), coletânea de artigos e crônicas lançada nos EUA ano passado, mostra que o humor extravagante e o verbo afiado de Kurt Vonnegut continuam sendo páreo para Philip Marlowe – mas este era um personagem fictício. E olha que o homem está com 84 anos. Autor de pelo menos uma obra-prima incontornável da ficção americana no século XX, “Matadouro 5” (hoje mais fácil de encontrar por aqui numa edição…

Por que Luandino disse não ao Camões?
Posts / 24/05/2006

O escritor angolano José Luandino Vieira, 71 anos, recusou o Prêmio Camões, o maior da língua portuguesa, no valor de 100 mil euros (quase R$ 300 mil), informou hoje o Ministério da Cultura de Portugal. Luandino alegou “razões pessoais, íntimas”, o que é esquisito. Se a recusa fosse uma atitude política contra a ex-metrópole, seria uma coisa – e não surpreenderia ninguém que conhece a obra ou a vida do angolano, que foi preso pelo regime salazarista e passou oito anos num campo de concentração. Nesse caso, o gesto viria acompanhado de um belo discurso. Mas enjeitar uma grana dessas na moita, alegando razões íntimas, em vez de, digamos, aceitar o prêmio e doá-lo a alguma instituição séria de seu país miserável, é mais difícil de entender.

Vilma Arêas: ‘Clarice gostaria do título’

Embora avessa aos salamaleques da glória oficial, Clarice Lispector não recusaria a homenagem dos vereadores do Rio de Janeiro (veja nota abaixo). A opinião é da escritora Vilma Arêas, professora de literatura da Unicamp. Vilma é autora do livro de crítica “Clarice Lispector na ponta dos dedos” (Companhia das Letras, 192 páginas, R$ 35), lançado na Flip do ano passado, que teve a autora de “A paixão segundo G.H” como homenageada. Clarice teria ficado feliz com o título de cidadã carioca honorária? – Ela não ficava à vontade nessas ocasiões porque não gostava muito de falar em público, agradecer as homenagens e prêmios que recebia. Mas acho que gostaria do título, porque gostava muito do Rio. Mesmo sendo uma homenagem mais política do que literária, não acredito que recusasse. Como anda a cotação de Clarice entre os novos leitores? E entre os escritores, existe alguém que seja claramente influenciado por ela? – As novas gerações continuam lendo Clarice e, o que chama mais a atenção, estão representando muito os textos dela também. No circuito universitário de teatro, vi recentemente adaptações de “Uma aprendizagem ou o livro dos prazeres” e “A hora da estrela”. Esta, principalmente, era muito boa, com a…

Os improváveis Truman Capote e Harper Lee
Posts / 24/05/2006

O grande filme “Capote”, que tem como uma de suas melhores subtramas a relação complexa dos dois, ajudou a reavivar o interesse por algumas velhas questões. E se Truman Capote for o verdadeiro autor de “O sol é para todos” (To kill a mockingbird), de sua amiga Harper Lee? Ou num caminho inverso – e se a participação de Harper Lee em “A sangue frio” (In cold blood) tiver sido maior do que seu vaidoso autor era capaz de admitir? Aparentemente, nem uma coisa nem outra. Mas não admira que rumores como esses tenham ganhado corpo diante da absurda improbabilidade que Truman Capote e Harper Lee representavam: a de dois amigos interioranos de infância, vizinhos, que na adolescância dividiam a mesma máquina de escrever, se tornarem, cada um na sua praia, clássicos indiscutíveis da literatura americana. E para deixar tudo mais estranho – ele, absurdamente afeminado, sendo o negativo dela. Essas e outras histórias estão na boa resenha (em inglês) de Thomas Mallon na última “The New Yorker”, sobre uma nova biografia de Harper Lee, Mockingbird, de Charles J. Shields.

Clarice e os sinos sem som
Posts / 23/05/2006

Convite que circula no Rio: O Exmo. Sr. Presidente da Câmara Municipal do Rio de Janeiro, Vereador Ivan Moreira, tem a honra de convidar para a solenidade de entrega do título de Cidadã Honorária do Município do Rio de Janeiro, post mortem, à escritora Clarice Lispector, por iniciativa do Exmo. Sr. Vereador Eliomar Coelho, a realizar-se no dia 02 de junho de 2006, às 17:00 horas. Demorou, não? Clarice (1920-1977) merece todas as homenagens – mesmo uma de prestígio em frangalhos como essa dos vereadores cariocas –, mas é engraçado imaginar sua provável reação de desprezo a tal tipo de “glória oficial”. Lendo o convite, me lembrei de uma frase do finzinho de “A hora da estrela”, quando Macabéa morre: “Morta, os sinos badalavam mas sem que seus bronzes lhes dessem som”.

‘A voz do escritor’: vida não é obra
Posts / 22/05/2006

Chega esta semana às livrarias um lançamento útil para escritores, especialmente iniciantes, e críticos, além de divertido para os leitores mais cascudos de literatura: “A voz do escritor” (Civilização Brasileira, tradução de Luiz Antonio Aguiar, 160 páginas, R$ 28,90), do poeta, crítico e ensaísta inglês A.Alvarez. O lançamento tem algo de surpreendente. Trata-se de um livro menor de alguém que está longe de ser um nome vendedor no Brasil, embora tenha história. Ex-editor de poesia e antologista, amigo de Sylvia Plath e autor de um clássico sobre o suicídio (“Deus selvagem”, lançado aqui pela Companhia das Letras), A.Alvarez, de 76 anos, é também um ensaísta eclético que dedicou volumes inteiros a assuntos como pôquer e divórcio. Uma figura. “A voz do escritor”, baseado numa série de palestras proferidas pelo autor na Biblioteca Pública de Nova York em 2002, mergulha de cabeça num assunto nebuloso que, embora posto de lado como esoterismo por críticos mais “científicos”, é para muita gente que escreve profissionalmente a questão entre todas do ofício: como cada escritor encontra – ou não encontra – sua voz própria, inconfundível. Bem, para começar, que papo é esse de “voz”? Sinônimo de estilo? Para Alvarez, é mais profundo que isso….

Ludlum, a literatura como crime
Posts / 22/05/2006

A maior desonestidade literária do nosso tempo não é o plágio, essa velha praga que pode estar ganhando fôlego renovado na era digital e que a jovem copiadora de Harvard trouxe recentemente para o centro das conversas (veja nota abaixo). Pior do que isso, a meu ver, é o escritor-franquia, o escritor-marca, que nos últimos anos já não escreve sequer uma linha de seus livros. Como, entre outros, o best seller Robert Ludlum. Pelo menos em tese (pois há indícios de que alguns já não fazem nem isso), o escritor que não escreve se limita a conceber suas obras. Imagina um personagem como – digamos, num rasgo de imaginação – um agente da CIA. Em seguida, se sobrar tempo, talvez bole um fiapo de enredo de três linhas. O resto, ou seja, a tarefa lenta e penosa de escrever o livro, é trabalho para a “equipe” da dita celebridade. Esse sistema de franquia já operou pelo menos um prodígio quase sobrenatural. Ludlum morreu em 2001 e continua despejando nas prateleiras mais títulos do que a maioria dos escritores no auge da saúde. Edições póstumas? Não. Os livros são inteiramente póstumos, foram escritos depois que seu “autor” morreu. O último deles,…