O romancista americano (filho de nigerianos) Uzodinma Iweala, de apenas 24 anos, mais recente atração internacional confirmada na Festa Literária Internacional de Parati, de 9 a 13 de agosto, é um autor inédito no Brasil. Não por muito tempo: a Nova Fronteira prevê lançar em julho, às vésperas da festa, o livro com o qual Iweala estreou há dois anos, “Feras de lugar nenhum”. O caso é semelhante ao do veterano inglês Benjamin Zephaniah, inédito até que a Companhia das Letras publique, também em julho, o infanto-juvenil “Gangsta rap”. Será que toda essa correria para publicar desconhecidos (desconhecidos aqui) indica que a Flip está com dificuldade para fechar seu elenco internacional? Não seria surpresa – as edições anteriores foram tão vorazes nesse aspecto que não sobraram muitos nomões no caderninho. Isso não quer dizer que Iweala e Zephaniah sejam fracos ou que desembarcarão em Parati a bordo de alguma cota racial – ambos são negros. Nada disso: “Feras de lugar nenhum”, história de um menino africano transformado em matador por uma guerra civil, foi recebido calorosamente pela crítica internacional. E Zephaniah é uma figuraça, um agitador performático que pode até vir a perder todo o sentido na tradução, mas não…
Dando uma olhada na programação do festival de literatura de Hay, no País de Gales – aquele que serviu de inspiração para a nossa Flip –, não demoro a encontrar minha atração preferida: uma conferência da feminista australiana Germaine Greer. No próximo dia 27, sábado, ela examinará “a literatura como construção masculina, e a poesia, especialmente, como uma ‘forma espetacular de exibição de macheza’”. E mais: a intelectual quer descobrir “que estratégias podem adotar as leitoras e escritoras quando confrontadas com uma linguagem desse tipo, que ‘as objetifica completamente’?” A primeira e urgente estratégia seria, provavelmente, pedir com gentileza a dona Germaine que fosse catar little coconuts. E que, enquanto estivesse a catá-los, aproveitasse para refletir sobre algumas posições bizarras que vem adotando nos últimos tempos, e que causam mais estragos à imagem das mulheres do que cem gerações de poetas priápicos barbudos. Como sua defesa intransigente da mutilação genital feminina, com o argumento de que as sociedades africanas em que ela é praticada lhe atribuem um peso cultural que nós, ocidentais, não temos o direito de julgar. Aquela conversa mole de relativismo cultural, pois é. Substância literária eu não garanto, mas querem esquentar o debate nacional? Ainda dá tempo…
“Escritores de ficção científica não sabem nada”, declarou certa vez Philip K. Dick. No entanto, sendo um escritor de ficção científica, é possível que ele não soubesse nada. Por via das dúvidas foi criado na Inglaterra o SciTalk, um inacreditável serviço online de aconselhamento científico gratuito a autores que queiram criar coisas como universos paralelos habitados por mutantes com o sexo entre as sobrancelhas, mas deixando a imaginação trabalhar sobre fundamentos físicos e químicos sólidos. Está certo que o gênero de Fausto Cunha, Jorge Luiz Calife e – às vezes – Braulio Tavares está longe de ser o preferido dos escritores brasileiros, mas nunca se sabe quem pode fazer bom uso da dica. Um regime de mais pósitrons e menos pose até que não nos faria mal.