Enquanto os fãs brasileiros do escritor francês Michel Houellebecq aguardam o lançamento por aqui de seu quarto romance, “A possibilidade de uma ilha” – ficção científica sobre uma religião que vende vida literalmente eterna, fazendo cópias clonadas em série de seus fiéis –, talvez ajude a matar o tempo ler o que escreve sobre a edição americana do livro o escritor John Updike. A crítica (acesso livre, em inglês) está na última edição da revista “The New Yorker”. Preparem-se que lá vem paulada – assim caminha a literatura em países pouco inclinados ao morno compadrio em que nos espojamos: Para descrédito de Houellebecq, ou pelo menos em prejuízo de seu romance, todo o seu meticuloso ódio a – e estridente impaciência com – a humanidade em seus tradicionais sentimentos e ocupações o impede de criar personagens dotados de conflitos e aspirações com os quais o leitor se importe. O herói habitual de Houellebecq, cujo monopólio de auto-expressão suga a maior parte do oxigênio da narrativa, se apresenta sob uma de duas formas: um eremita consumido por tédio e apatia ou um inflamado astro pornô. Em nenhum dos dois papéis ele solicita – ou recebe – muita simpatia. Quem quiser ver…
Este blog, fiel a seu nome, não discute poesia. Fabrício Carpinejar, o talentoso e festejado poeta gaúcho de 33 anos que escreveu, entre outros livros pelo menos interessantes, “Um terno de pássaros ao sul” e “Cinco Marias”, pode ou não ter sua importância exagerada pelo momento pouco exuberante da poesia brasileira – isso não vem ao caso. O certo é que nada me preparou para o choque de encontrar nas suas crônicas, reunidas no volume “O amor esquece de começar” (Bertrand Brasil, 288 páginas, R$ 35), o trabalho de um desenvolto seguidor de Artur da Távola. Entre o livro de Carpinejar e um Távola clássico como, digamos, “Do amor – Ensaio de enigma”, as diferenças são adjetivas ou nem isso. Por exemplo, qual dos dois escreveu, com rima involuntária e tudo, que “no momento em que a gente ama, é difícil não sentir timidez ao mostrar a nudez. Quem não tem vergonha não ama”? E quem disse que “a mulher que perdeu o seu amor é alguém com óculos de ver eclipse na alma. Fica com olhar de rinoceronte e olho de cambaxirra”? Um deles escreveu que “o casado não suporta fazer relatórios de onde vai e quando volta. O…