Entre “críticas” que raramente são mais que resenhas apressadas, notinhas em blogs e entrevistas oba-oba, tudo emparedado por sólidos muros de silêncio comodista da universidade, volta e meia eu me vejo intrigado e perplexo com a recepção dada a nossos livros pela elite cultural brasileira – aquela fatia fina da população que se interessa por literatura a ponto de perder seu tempo escrevendo ou lendo sobre um assunto tão, hmmm, inútil. Não me refiro apenas ao modo como as relações de amizade e compadrio se sobrepõem freqüentemente aos critérios estéticos – isso é assunto velho, e talvez não possa ser diferente num mundinho tão pequeno e de ar tão viciado. Quando falo em perplexidade, penso mais na forma como certos juízos se espalham rapidamente, sem contraditório, numa inércia em que a baixa média geral de leitura parece se mesclar ao medo de contrariar o bando. Isso gera maluquices, distorções e injustiças que, até certo ponto, sempre fizeram parte do jogo. Verdade – literatura não é para quem tem pele sensível e desiste fácil. Meu temor é que, a partir de um determinado ponto, as maluquices geradas por nossos mecanismos falhos de avaliação e difusão de novidades literárias tenham o poder…
Tenha um filho, escreva um livro e plante uma árvore, diz a velha receita da realização pessoal. Fórmula segura para que seu filho acabe lendo num deserto. A editora Random House (do supergrupo de comunicação alemão Bertelsmann) anunciou a meta de usar em seus livros 30% de papel reciclado até 2010 – hoje a proporção é de 3%. Segundo os cálculos da empresa, o novo patamar corresponderá à salvação de 550 mil árvores por ano. A notícia está aqui, em inglês, mediante cadastro gratuito. Enquanto isso, no Brasil, a discussão engatinha, a ponto de ter sido notícia, ano passado, a edição “ecologicamente correta” de “As intermitências da morte”, de José Saramago, pela Companhia das Letras. Por exigência do autor português, alinhado com uma campanha do Greenpeace, o livro foi o primeiro no Brasil a ganhar o selo internacional FSC, que atesta o cumprimento de boas normas ambientais – não necessariamente o uso de papel reciclado. A questão da reciclagem é complicada. Por um lado, o custo de produção sobe. Por outro, abre-se para a promoção do livro um terreno de marketing que tende a ter cada vez mais ressonância, até num país ambientalmente atrasado como o Brasil. Nem é preciso…