Chega esta semana às livrarias um lançamento útil para escritores, especialmente iniciantes, e críticos, além de divertido para os leitores mais cascudos de literatura: “A voz do escritor” (Civilização Brasileira, tradução de Luiz Antonio Aguiar, 160 páginas, R$ 28,90), do poeta, crítico e ensaísta inglês A.Alvarez. O lançamento tem algo de surpreendente. Trata-se de um livro menor de alguém que está longe de ser um nome vendedor no Brasil, embora tenha história. Ex-editor de poesia e antologista, amigo de Sylvia Plath e autor de um clássico sobre o suicídio (“Deus selvagem”, lançado aqui pela Companhia das Letras), A.Alvarez, de 76 anos, é também um ensaísta eclético que dedicou volumes inteiros a assuntos como pôquer e divórcio. Uma figura. “A voz do escritor”, baseado numa série de palestras proferidas pelo autor na Biblioteca Pública de Nova York em 2002, mergulha de cabeça num assunto nebuloso que, embora posto de lado como esoterismo por críticos mais “científicos”, é para muita gente que escreve profissionalmente a questão entre todas do ofício: como cada escritor encontra – ou não encontra – sua voz própria, inconfundível. Bem, para começar, que papo é esse de “voz”? Sinônimo de estilo? Para Alvarez, é mais profundo que isso….
A maior desonestidade literária do nosso tempo não é o plágio, essa velha praga que pode estar ganhando fôlego renovado na era digital e que a jovem copiadora de Harvard trouxe recentemente para o centro das conversas (veja nota abaixo). Pior do que isso, a meu ver, é o escritor-franquia, o escritor-marca, que nos últimos anos já não escreve sequer uma linha de seus livros. Como, entre outros, o best seller Robert Ludlum. Pelo menos em tese (pois há indícios de que alguns já não fazem nem isso), o escritor que não escreve se limita a conceber suas obras. Imagina um personagem como – digamos, num rasgo de imaginação – um agente da CIA. Em seguida, se sobrar tempo, talvez bole um fiapo de enredo de três linhas. O resto, ou seja, a tarefa lenta e penosa de escrever o livro, é trabalho para a “equipe” da dita celebridade. Esse sistema de franquia já operou pelo menos um prodígio quase sobrenatural. Ludlum morreu em 2001 e continua despejando nas prateleiras mais títulos do que a maioria dos escritores no auge da saúde. Edições póstumas? Não. Os livros são inteiramente póstumos, foram escritos depois que seu “autor” morreu. O último deles,…