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Por que Luandino disse não ao Camões?
Posts / 24/05/2006

O escritor angolano José Luandino Vieira, 71 anos, recusou o Prêmio Camões, o maior da língua portuguesa, no valor de 100 mil euros (quase R$ 300 mil), informou hoje o Ministério da Cultura de Portugal. Luandino alegou “razões pessoais, íntimas”, o que é esquisito. Se a recusa fosse uma atitude política contra a ex-metrópole, seria uma coisa – e não surpreenderia ninguém que conhece a obra ou a vida do angolano, que foi preso pelo regime salazarista e passou oito anos num campo de concentração. Nesse caso, o gesto viria acompanhado de um belo discurso. Mas enjeitar uma grana dessas na moita, alegando razões íntimas, em vez de, digamos, aceitar o prêmio e doá-lo a alguma instituição séria de seu país miserável, é mais difícil de entender.

Vilma Arêas: ‘Clarice gostaria do título’

Embora avessa aos salamaleques da glória oficial, Clarice Lispector não recusaria a homenagem dos vereadores do Rio de Janeiro (veja nota abaixo). A opinião é da escritora Vilma Arêas, professora de literatura da Unicamp. Vilma é autora do livro de crítica “Clarice Lispector na ponta dos dedos” (Companhia das Letras, 192 páginas, R$ 35), lançado na Flip do ano passado, que teve a autora de “A paixão segundo G.H” como homenageada. Clarice teria ficado feliz com o título de cidadã carioca honorária? – Ela não ficava à vontade nessas ocasiões porque não gostava muito de falar em público, agradecer as homenagens e prêmios que recebia. Mas acho que gostaria do título, porque gostava muito do Rio. Mesmo sendo uma homenagem mais política do que literária, não acredito que recusasse. Como anda a cotação de Clarice entre os novos leitores? E entre os escritores, existe alguém que seja claramente influenciado por ela? – As novas gerações continuam lendo Clarice e, o que chama mais a atenção, estão representando muito os textos dela também. No circuito universitário de teatro, vi recentemente adaptações de “Uma aprendizagem ou o livro dos prazeres” e “A hora da estrela”. Esta, principalmente, era muito boa, com a…

Os improváveis Truman Capote e Harper Lee
Posts / 24/05/2006

O grande filme “Capote”, que tem como uma de suas melhores subtramas a relação complexa dos dois, ajudou a reavivar o interesse por algumas velhas questões. E se Truman Capote for o verdadeiro autor de “O sol é para todos” (To kill a mockingbird), de sua amiga Harper Lee? Ou num caminho inverso – e se a participação de Harper Lee em “A sangue frio” (In cold blood) tiver sido maior do que seu vaidoso autor era capaz de admitir? Aparentemente, nem uma coisa nem outra. Mas não admira que rumores como esses tenham ganhado corpo diante da absurda improbabilidade que Truman Capote e Harper Lee representavam: a de dois amigos interioranos de infância, vizinhos, que na adolescância dividiam a mesma máquina de escrever, se tornarem, cada um na sua praia, clássicos indiscutíveis da literatura americana. E para deixar tudo mais estranho – ele, absurdamente afeminado, sendo o negativo dela. Essas e outras histórias estão na boa resenha (em inglês) de Thomas Mallon na última “The New Yorker”, sobre uma nova biografia de Harper Lee, Mockingbird, de Charles J. Shields.