Resumindo a fúria dos luandinistas militantes que deixaram comentários na nota ali embaixo, sobre a recusa do Prêmio Camões pelo grande escritor angolano: também não entenderam nada, coitados. Não deviam se amofinar tanto. Ninguém entendeu. Curioso é pensarem que o direito – cristalino, sem dúvida – que Luandino Vieira tem de esnobar um prêmio de prestígio anula o do resto da humanidade de achar que, sem uma explicação razoável, a extravagância fica com cheiro de desfeita, e só. Não digo que seja sua intenção, digo que parece. Uma boa explicação seria, no mínimo, sinal de respeito a José Saramago, Jorge Amado, Pepetela, Miguel Torga, João Cabral de Melo Neto e Sophia de Mello Breyner Andresen, entre outros autores que já ganharam – e aceitaram, onde já se viu – o principal prêmio da literatura em língua portuguesa. Ah, sim: servia uma explicação “pessoal, íntima”, como a que Jean-Paul Sartre apresentou ao recusar o Nobel de Literatura de 1964: “Um escritor deve se recusar a ser transformado em instituição”.
Eis aqui uma lição de texto criativo. Primeira regra: Não usem ponto-e-vírgulas. São travestis hermafroditas que não representam absolutamente nada. Tudo o que fazem é mostrar que você esteve na universidade. Percebo que alguns de vocês têm problemas para decidir se estou brincando ou não. Por isso, a partir de agora, vou lhes dizer quando estiver brincando. Por exemplo, ingressem na Guarda Nacional ou nos Fuzileiros Navais e ensinem a democracia. Estou brincando. Estamos para ser atacados pela al-Qaeda. Acenem bandeiras, se as tiverem. Isto sempre parece afugentá-los. Estou brincando. Se querem realmente magoar seus pais e não têm coragem de se tornar gays, o mínimo que podem fazer é entrar para as artes. Não estou brincando. O livro “Um homem sem pátria” (Record, tradução de Roberto Muggiati, 160 páginas, R$ 34,90), coletânea de artigos e crônicas lançada nos EUA ano passado, mostra que o humor extravagante e o verbo afiado de Kurt Vonnegut continuam sendo páreo para Philip Marlowe – mas este era um personagem fictício. E olha que o homem está com 84 anos. Autor de pelo menos uma obra-prima incontornável da ficção americana no século XX, “Matadouro 5” (hoje mais fácil de encontrar por aqui numa edição…