“Ler sempre foi e sempre será algo para uma minoria”, disse José Saramago ontem à noite, criticando o Plano Nacional de Leitura, um ambicioso projeto que os ministérios da Cultura e da Educação de Portugal apresentam hoje. Programa governamental de incentivo à leitura, para o autor de “Memorial do convento”, é algo que “não é válido, é inútil”. Notícia da Reuters aqui. A ministra da Cultura, Isabel Pires de Lima, reagiu assim que se recuperou do susto com a declaração politicamente incorreta da maior glória das letras lusitanas: “Não vejo como ações que tentam promover e democratizar a leitura sejam vistas como secundárias”. Tocaram, Saramago e a ministra, num debate interminável. É corajoso dizer o que disse o escritor, certamente com enorme dose de razão: programas de “incentivo à leitura” são ótimos para burocratas e rendem encomendas de grandes tiragens a editoras, mas costumam cair no vazio de um sistema educacional – e de um modelo de sociedade, sejamos francos – que simplesmente não valorizam isso. Por outro lado, se o fato – inegável – de que ler sempre foi para poucos conduzir ao imobilismo, será que esses poucos não serão cada vez menos? Isso me fez lembrar de uma…