Se, como disse o poeta W.H. Auden, alguns escritores são injustamente esquecidos mas nenhum é injustamente lembrado, o mineiro Lúcio Cardoso (1913-1968) está no primeiro caso. A crítica, mesmo acometida de alguma miopia e oscilando ao sabor dos modismos acadêmicos, acabou, de modo geral, por lhe reconhecer um lugar original na literatura brasileira do século 20. A falta de apetite do público, porém, não faz justiça às suas qualidades. E Lúcio Cardoso não é propriamente um escritor “difícil”. Sombrio, torturado, doentio, por vezes aterrador, sim – mas desde quando esses adjetivos, apregoados orgulhosamente em edições de terror, afugentam leitores? A boa notícia é que as obras de Lúcio vêm sendo relançadas com método nos últimos anos. Depois de “Crônica da casa assassinada”, “O desconhecido e mãos vazias”, “Inácio, o enfeitiçado e Baltazar”, “Luz no subsolo” e “Maleita”, é a vez de “Dias perdidos” (Civilização Brasileira, 406 páginas, R$ 60,90), lançado em 1943, que chega às livrarias no próximo dia 20. Há muitos anos esse romance triste e algo convencional sobre duas gerações de amor infeliz – entre Clara e Jaques e entre Sílvio e Diana – andava sumido. Visto pela última vez no catálogo da Nova Fronteira, precisava ser caçado…