Pergunte ao supercrítico americano Harold Bloom se ele concorda com a tese consagrada de que o fenômeno Harry Potter representa uma esperança para a literatura, para o futuro do hábito de ler bons livros. Paulo Polzonoff fez isso, e a resposta foi veemente: Não, não, não. Eu discordo. Isso é um desastre. Geralmente as pessoas que dizem isso argumentam que pelo menos as crianças estão lendo. E que no futuro, se elas criarem o hábito, lerão coisas melhores. Mas a resposta para este argumento já foi dada pelo “Harry Potter de adultos”, um escritor horrível, deplorável: Stephen King, que resenhou um dos livros de Harry Potter no “Sunday Times Book Review”, e disse: “É maravilhoso!”. Bem, se isso é o que as crianças estão lendo aos 9, 10, 11 anos, então aos 12, 13 elas estarão lendo Stephen King. É o que elas estarão preparadas para ler. A entrevista completa de Harold Bloom pode ser lida no site de Polzonoff, aqui. Quem quiser uma visão mais profunda de Bloom sobre o trabalho de J.K. Rowling pode achar instrutivo o artigo (em inglês) que ele publicou no “Wall Street Journal” em 2000, com o significativo título de “35 milhões de compradores…
A enquete ficou no ar perto de duas semanas aqui no Todoprosa: “Qual é o melhor filme brasileiro adaptado de uma obra literária (teatro não vale)?” A disputa foi cruenta entre os dois primeiros colocados, que se revezaram o tempo todo na liderança, e “Cidade de Deus” acabou levando a vitória sobre “Lavoura arcaica” no photochart. Pode ter influído no resultado aquele efeito geracional que favorece obras recentes em votações pela internet, mas vale registrar a força demonstrada por alguns clássicos. Segue a lista completa dos dez primeiros: 1) Cidade de Deus (20.00%) 2) Lavoura arcaica (19.52%) 3) Dona Flor e seus dois maridos (15.18%) 4) Vidas secas (11.33%) 5) Macunaíma (9.64%) 6) Memórias do cárcere (8.43%) 7) A hora da estrela (6.75%) 8) O beijo da Mulher Aranha (3.61%) 9) Bufo e Spallanzani (2.17%) 10) Lição de amor (2.17%)
Em 1938, o escritor americano John Steinbeck (1902-1968) tinha acabado de publicar “De ratos e homens”, mas ainda estava a um ano de distância de seu livro de maior sucesso, “As vinhas da ira”. Foi quando assinou um contrato em que cedia em caráter definitivo à editora Penguin os direitos de dez de seus títulos. Uma decisão judicial de primeira instância nos EUA acaba de devolver à neta de Steinbeck, Blake Smylle, os direitos sobre esses livros (notícia aqui, em inglês). O juiz alegou que o autor não tinha como saber, na época, a dimensão que sua obra viria a adquirir. E que, portanto, é justo permitir que seus herdeiros renegociem os contratos. A briga vale muito. Quase quarenta anos depois de sua morte, Steinbeck ainda vende cerca de 2 milhões de exemplares por ano.