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Campos de Carvalho: ‘Sou um crápula’
Primeira mão / 19/06/2006

Atendendo a pedidos, seguem os dois parágrafos iniciais de uma das crônicas sem título de Campos de Carvalho em “Cartas de viagem e outras crônicas” (veja a resenha na nota abaixo). Qualidade à parte, não é um trecho típico do estilo do autor. Este, para quem não conhece, está bem resumido na frase inicial de “A dama no paquete”, do mesmo livro: “A bicicleta é um boi volátil cujo epicentro se situa sob o esfíncter anal do pedalante”. Resolvi destacar o texto abaixo porque o olhar que se poderia chamar de “social”, no sentido mais atual e penetrante que se dê à palavra, chama atenção em quem foi estigmatizado como alienado pela esquerda. Em outro ponto do livro, diz Campos de Carvalho: “Não sou um animal político, para espanto e escândalo de muita gente. Em compensação eu me escandalizo justamente com a sua politização, que é como eles chamam a sua mania de catequizar e sobretudo de se deixar catequizar”. Sou um crápula. A mulher grávida de muitos meses carregando a enorme trouxa de roupa na cabeça, pobre a mais não poder e com um menino ao lado também equilibrando o seu volume. Chove e no chão escorregadio o menino…

Campos de Carvalho voltou da Bulgária
Posts / 19/06/2006

O Grande Escritor Injustamente Esquecido é um personagem fundamental em qualquer literatura. Mais até do que os nomes consagrados, é o Grande Escritor Injustamente Esquecido quem define os limites da leitura, lá onde não chega o senso comum e uns poucos conseguem vislumbrar tudo o que poderíamos ter sido, como nação leitora, e desgraçadamente não fomos. José Agripino de Paula, de “Panamérica”, é o Grande Escritor Injustamente Esquecido da moda: pega bem à beça citá-lo em rodinhas literárias, sobretudo as paulistanas. Há quem prefira ser mais original e se abrace ao Antônio Fraga de “Desabrigo”. Num terreno em que a glória é virada do avesso e a obscuridade se torna o valor supremo, suspeita-se até que escritores inventados em conversas de botequim – como o prosador vesgo Lucho Ventania, de Itapecerica da Serra, imbatível nos anacolutos – passem por Grandes Escritores Injustamente Esquecidos. E quem vai dizer que não? Eu prefiro Campos de Carvalho (1916-1998). Sem pensar duas vezes, fico com o autor de “A lua vem da Ásia”, mestre do nonsense e um dos grandes humoristas da língua portuguesa – humor entendido aqui como coisa seriíssima, ainda que impagável. Por preferir Campos de Carvalho, ando empolgado com a publicação…