Nos primeiros anos do século XX, escritores de grande importância no cenário intelectual do Rio de Janeiro deram vez a uma discussão que até hoje parece merecer nossa curiosidade. Com grande interesse, eles tentavam responder à seguinte questão: era o Brasil um país de leitores? O famoso cronista João do Rio, que costumava flanar pelas ruas da capital federal em busca de temas cotidianos e ao mesmo tempo provocantes para suas colunas nos jornais, dizia, ao observar o intenso movimento das livrarias e o número cada vez maior de mercadores ambulantes de livros, que o Brasil, de fato, lia. Inconformado com a análise do colega, Olavo Bilac, poeta, cronista e um dos fundadores da Academia Brasileira de Letras, discordava veementemente. Usando como prova os dados censitários que denunciavam o alto índice de analfabetismo em todo o país e a constante queixa de romancistas eminentes que mal conseguiam esgotar a primeira edição de suas obras, Bilac deixava clara sua opinião: o Brasil não lia, pela “razão única e terrível de não saber ler”. Assim começa o bom livrinho “O livro e a leitura no Brasil” (Jorge Zahar Editor, 76 páginas, R$ 22), da cientista social Alessandra El Far, lançamento da coleção…
Um dos editores do jornal literário “Rascunho”, Luís Henrique Pellanda, me envia uma mensagem cordial para defender a publicação – sem a menor pinta, digamos, internética – do folhetim de Fernando Monteiro, que critiquei na nota abaixo. “O projeto que nos foi apresentado pelo Fernando não era o de um romance online, mas o de um folhetim a ser publicado em papel”, explica Pellanda. “A publicação do material no site do jornal é uma conseqüência do que é publicado mensalmente no ‘Rascunho’, e serve como registro e consulta aos leitores que perderam capítulos anteriores. Ou seja, o Fernando não buscava desenvolver, para este projeto, uma linguagem específica para a sua publicação na internet.” Muito bem. Imaginei mesmo que fosse o caso, sendo o “Rascunho” eletrônico um mero espelho do jornal de papel, mas vale usar o clichezão – caiu na rede, é peixe. A crítica continua de pé e pode até ser reforçada, estendendo-se à internet brasileira como um todo: com exceções raras, ainda nem chegamos à fase de tentar tornar a rede algo mais do que um depósito de textos. Temos cabeça de papel.