O Grande Escritor Injustamente Esquecido é um personagem fundamental em qualquer literatura. Mais até do que os nomes consagrados, é o Grande Escritor Injustamente Esquecido quem define os limites da leitura, lá onde não chega o senso comum e uns poucos conseguem vislumbrar tudo o que poderíamos ter sido, como nação leitora, e desgraçadamente não fomos. José Agripino de Paula, de “Panamérica”, é o Grande Escritor Injustamente Esquecido da moda: pega bem à beça citá-lo em rodinhas literárias, sobretudo as paulistanas. Há quem prefira ser mais original e se abrace ao Antônio Fraga de “Desabrigo”. Num terreno em que a glória é virada do avesso e a obscuridade se torna o valor supremo, suspeita-se até que escritores inventados em conversas de botequim – como o prosador vesgo Lucho Ventania, de Itapecerica da Serra, imbatível nos anacolutos – passem por Grandes Escritores Injustamente Esquecidos. E quem vai dizer que não? Eu prefiro Campos de Carvalho (1916-1998). Sem pensar duas vezes, fico com o autor de “A lua vem da Ásia”, mestre do nonsense e um dos grandes humoristas da língua portuguesa – humor entendido aqui como coisa seriíssima, ainda que impagável. Por preferir Campos de Carvalho, ando empolgado com a publicação…
A efeméride dos vinte anos da morte de Jorge Luis Borges, na semana que passou, foi marcada pelo bordão de sua “influência crescente” – expressão que está na capa da revista “Entrelivros”, por exemplo, que dedica 19 páginas ao gênio argentino. Isso não existe, acredita o escritor brasileiro que mais gastou páginas para fazer de sua ficção um espelho borgiano do legado de Borges. Antonio Fernando Borges é autor de uma trilogia tão obsessiva quanto corajosa: “Que fim levou Brodie?” (Record, 1996), “Braz, Quincas e Cia.” (Companhia das Letras) e o recente “Memorial de Buenos Aires” (Companhia das Letras, 224 páginas, R$ 41,50) acertam contas, respectivamente, com Jorge Luis Borges, Machado de Assis e, por fim, os dois juntos. Os três são livros de leitura prazerosa se você aprecia um jogo de referências literárias – é o meu caso. Mas deixam no ar uma pergunta inevitável: quando Borges, o Antonio Fernando, vai sair da biblioteca que Borges, o Jorge Luis, jamais deixou? Ele garante que já saiu, e que seu próximo romance, em andamento, trabalhará sobre “as referências impuras da realidade”. Tem se falado muito que a influência de Borges é cada vez maior. É indiscutível que o velho virou…
O português Mário de Carvalho nasceu em 1944, dois anos depois de António Lobo Antunes, e talvez seja correto dizer que ficou meio ofuscado pelo estilo agressivo e flamejante de seu companheiro de geração. Os dois são escritores da linha de frente da literatura portuguesa hoje, mas Carvalho é mais clássico, de prosa mais contida. O livro que costuma ser considerado sua obra-prima, porém, “Um deus passeando pela brisa da tarde” (1994), tem uma legião de fãs ululantes, daqueles que não se incomodariam de se mudar para dentro da obra. No caso, para a fictícia cidade de Tarcisis, na Lusitânia do século 2, na qual o narrador Lúcio Valério Quíncio, magistrado romano, lida com duas ameaças ao mundo como ele o conhece. Uma é externa: a invasão dos mouros. A outra fermenta no próprio coração do povo: o crescimento de uma seita cujos adeptos têm por símbolo um peixe – o Cristianismo. Após uma edição brasileira pouco divulgada da Contraponto, “Um deus…” está sendo relançado esta semana pela Companhia das Letras (320 páginas, R$ 45,00). Poucos vestígios da razia são hoje aparentes. É difícil acreditar que estas casas foram reconstruídas, após terem sido em grande extensão arrasadas. Quando esta geração…
De todas as homenagens que recebeu nos vinte anos de sua morte, quarta-feira, esta deve ter sido a que mais o envaideceria: a inauguração da exposição “Borges, imagens e manuscritos” na Biblioteca de Alexandria, no Egito – não a que concentrou o conhecimento da antiguidade até ser destruída em ataques sucessivos, em torno de 16 séculos atrás, mas sua versão moderna, inaugurada em 2002. Reportagem do jornal argentino “Clarín”, em espanhol, aqui.
A neta de John Steinbeck andou levando cascudos dos leitores (veja a nota “De ratos e herdeiros”, abaixo), mas acho que foi vítima de uma injustiça. Seja como for, é inofensiva para a indústria editorial e para humanidade perto do neto do gênio irlandês James Joyce (1882-1941). Stephen Joyce, 74 anos, virou o pesadelo da comunidade de joycianos no mundo inteiro com seu modo discricionário de administrar o legado do avô, como mostra um artigo de D.T. Max no último número da revista “The New Yorker” (aqui, em inglês). A princípio, quando Stephen dizia coisas como “sou um Joyce, não um joyciano”, muita gente achava divertido. Até suas tiradas contra o excesso de teorização em torno da obra do autor de “Dublinenses” encontraram eco num certo antiintelectualismo bonachão: “Se meu avô estivesse aqui, morreria de rir”, é um de seus bordões. Menos engraçada foi sua confissão de que queimou um lote de cartas da família, assim como a suspeita de que pode ter feito o mesmo com cartas do punho do próprio Joyce. Sem falar na facilidade com que inviabiliza a publicação de estudos e outros projetos ligados ao avô, como a versão multimídia de “Ulisses” (pois é…) que um…
Pergunte ao supercrítico americano Harold Bloom se ele concorda com a tese consagrada de que o fenômeno Harry Potter representa uma esperança para a literatura, para o futuro do hábito de ler bons livros. Paulo Polzonoff fez isso, e a resposta foi veemente: Não, não, não. Eu discordo. Isso é um desastre. Geralmente as pessoas que dizem isso argumentam que pelo menos as crianças estão lendo. E que no futuro, se elas criarem o hábito, lerão coisas melhores. Mas a resposta para este argumento já foi dada pelo “Harry Potter de adultos”, um escritor horrível, deplorável: Stephen King, que resenhou um dos livros de Harry Potter no “Sunday Times Book Review”, e disse: “É maravilhoso!”. Bem, se isso é o que as crianças estão lendo aos 9, 10, 11 anos, então aos 12, 13 elas estarão lendo Stephen King. É o que elas estarão preparadas para ler. A entrevista completa de Harold Bloom pode ser lida no site de Polzonoff, aqui. Quem quiser uma visão mais profunda de Bloom sobre o trabalho de J.K. Rowling pode achar instrutivo o artigo (em inglês) que ele publicou no “Wall Street Journal” em 2000, com o significativo título de “35 milhões de compradores…
A enquete ficou no ar perto de duas semanas aqui no Todoprosa: “Qual é o melhor filme brasileiro adaptado de uma obra literária (teatro não vale)?” A disputa foi cruenta entre os dois primeiros colocados, que se revezaram o tempo todo na liderança, e “Cidade de Deus” acabou levando a vitória sobre “Lavoura arcaica” no photochart. Pode ter influído no resultado aquele efeito geracional que favorece obras recentes em votações pela internet, mas vale registrar a força demonstrada por alguns clássicos. Segue a lista completa dos dez primeiros: 1) Cidade de Deus (20.00%) 2) Lavoura arcaica (19.52%) 3) Dona Flor e seus dois maridos (15.18%) 4) Vidas secas (11.33%) 5) Macunaíma (9.64%) 6) Memórias do cárcere (8.43%) 7) A hora da estrela (6.75%) 8) O beijo da Mulher Aranha (3.61%) 9) Bufo e Spallanzani (2.17%) 10) Lição de amor (2.17%)
Em 1938, o escritor americano John Steinbeck (1902-1968) tinha acabado de publicar “De ratos e homens”, mas ainda estava a um ano de distância de seu livro de maior sucesso, “As vinhas da ira”. Foi quando assinou um contrato em que cedia em caráter definitivo à editora Penguin os direitos de dez de seus títulos. Uma decisão judicial de primeira instância nos EUA acaba de devolver à neta de Steinbeck, Blake Smylle, os direitos sobre esses livros (notícia aqui, em inglês). O juiz alegou que o autor não tinha como saber, na época, a dimensão que sua obra viria a adquirir. E que, portanto, é justo permitir que seus herdeiros renegociem os contratos. A briga vale muito. Quase quarenta anos depois de sua morte, Steinbeck ainda vende cerca de 2 milhões de exemplares por ano.
Você vai começar a ler o novo romance de Italo Calvino, Se um viajante numa noite de inverno. Relaxe. Concentre-se. Afaste todos os outros pensamentos. Deixe que o mundo a sua volta se dissolva no indefinido. É melhor fechar a porta; do outro lado há sempre um televisor ligado. Diga logo aos outros: “Não, não quero ver televisão!”. Se não ouvirem, levante a voz: “Estou lendo! Não quero ser perturbado!”. Com todo aquele barulho, talvez ainda não o tenham ouvido; fale mais alto, grite: “Estou começando a ler o novo romance de Italo Calvino!”. Se preferir, não diga nada; tomara que o deixem em paz. Você acaba de ler o primeiro parágrafo de “Se um viajante numa noite de inverno”, de Italo Calvino (Companhia das Letras, 1999, tradução de Nilson Moulin).
Os admiradores de Christopher Vogler, que não são poucos, dizem que seu livro “A jornada do escritor – Estruturas míticas para escritores” escapa do clichê tipicamente americano do “guia para ensinar qualquer um a se tornar qualquer coisa”. Bem mais do que isso, afirmam que o livro, ao propor para todas as histórias do mundo um passo-a-passo mitológico (a “jornada” propriamente dita) e, para os personagens, uma série de modelos baseados em arquétipos, torna-se uma ferramenta valiosa que ajuda até escritores experientes a refletir sobre aspectos estruturais mas normalmente nebulosos de sua criação – sobretudo em relação ao enredo e ao desenvolvimento de personagens. Os detratores de Christopher Vogler, que também não são poucos, afirmam que ele nada mais faz do que se apropriar das lições do mitólogo Joseph Campbell, seu conterrâneo e guru, e diluí-las com água e açúcar num livro que pretende ser uma pedra filosofal, um molde infalível para a criação de histórias cheias de ressonância. O que, obviamente, é apenas uma ilusão. Esses detratores vão mais longe e dizem que o livro acaba servindo de muleta para gente sem imaginação – basta dizer que é voltado em primeiro lugar para roteiristas americanos, os mesmos que têm…
A notícia, extra-oficial, tem todos aqueles ingredientes que andam levando os escritores a chamar mais atenção pelo privado do que pelo público, ou seja, mais por sua vida do que por sua literatura: o romancista australiano Peter Carey, de “Oscar e Lucinda” (Record), teria pedido a seus editores que apaguem das futuras edições de seus livros as quatro dedicatórias amorosas que fez para sua ex-mulher, Alison Summers, de quem se divorciou de forma litigiosa. Uma bobagem, é claro. Que jamais seria noticiada aqui se nesse gancho frágil o articulista John Shuterland, do jornal inglês “The Guardian”, não tivesse pendurado um texto saboroso e informativo sobre a história das dedicatórias. Afirma que o penduricalho se espalhou no século 18 como auxiliar na bajulação de mecenas e apenas nos últimos cem anos ganhou um caráter mais íntimo. A história de Saul Bellow (1915-2005) é uma das melhores: James Atlas, biógrafo de Saul Bellow, afirma que, para obrigar sua musa a trabalhar, o romancista gostava de trocar de mulher. Passou por cinco delas, e suas dedicatórias deixam uma trilha sanguinolenta dessa história conjugal. Seu último grande romance, “Ravelstein”, contém um retrato malévolo da Sra. Bellow número 4 (Alexandra Ionesco Tulesca, física romena) e…
O jornalista e escritor inglês (radicado nos EUA) Christopher Hitchens virá à Flip, informa a coluna do Ancelmo, no “Globo”. Isso deve bastar para garantir a diversão num festival não muito farto em estrelas. Hitchens, de quem a Companhia das Letras lançou este ano “Cartas a um jovem contestador”, é um provocador, um iconoclasta que acende um cigarro no outro e critica a esquerda e a direita com a mesma violência. Também já foi visto cometendo o pecado capital de xingar membros do distinto público em suas conferências. Uma boa amostra do estilo cortante e politicamente incorreto de Hitchens pode ser conferida em seu recente artigo (em inglês) sobre a história literária do fellatio, popularmente conhecido no Brasil como “boquete”, publicado na revista “Vanity Fair”, da qual ele é colaborador permanente. Quem esperar grosseria não sairá decepcionado. Mas os amantes da boa literatura encontrarão bem mais do que isso, como observações sobre a curiosa timidez verbal de Vladimir Nabokov ao tratar do assunto em seu escandaloso “Lolita”. E a tese de que “O poderoso chefão”, de Mario Puzo, deve seu sucesso tanto à precisão do retrato que fazia da máfia quanto à coragem de falar em blowjobs sem meias palavras.
Se, como disse o poeta W.H. Auden, alguns escritores são injustamente esquecidos mas nenhum é injustamente lembrado, o mineiro Lúcio Cardoso (1913-1968) está no primeiro caso. A crítica, mesmo acometida de alguma miopia e oscilando ao sabor dos modismos acadêmicos, acabou, de modo geral, por lhe reconhecer um lugar original na literatura brasileira do século 20. A falta de apetite do público, porém, não faz justiça às suas qualidades. E Lúcio Cardoso não é propriamente um escritor “difícil”. Sombrio, torturado, doentio, por vezes aterrador, sim – mas desde quando esses adjetivos, apregoados orgulhosamente em edições de terror, afugentam leitores? A boa notícia é que as obras de Lúcio vêm sendo relançadas com método nos últimos anos. Depois de “Crônica da casa assassinada”, “O desconhecido e mãos vazias”, “Inácio, o enfeitiçado e Baltazar”, “Luz no subsolo” e “Maleita”, é a vez de “Dias perdidos” (Civilização Brasileira, 406 páginas, R$ 60,90), lançado em 1943, que chega às livrarias no próximo dia 20. Há muitos anos esse romance triste e algo convencional sobre duas gerações de amor infeliz – entre Clara e Jaques e entre Sílvio e Diana – andava sumido. Visto pela última vez no catálogo da Nova Fronteira, precisava ser caçado…
É nisso que dá pedir a opinião do distinto público. Uma enquete online da revista especializada The Book Magazine para eleger o maior escritor britânico da atualidade terminou com JK Rowling, a criadora de Harry Potter (Rocco), disparada em primeiro lugar. Dona Rowling teve o triplo da votação do segundo colocado, outro escritor que se dedica ao público juvenil: Terry Pratchett, da série de fantasia Discworld, lançada no Brasil pela Conrad. Dá para imaginar a idade média dos votantes. Só na terceira posição aparece um autor adulto, e que autor: Ian McEwan, do soberbo ?Reparação? (Companhia das Letras), romance que, para muito leitor cascudo por aí, é barbada para o título de grande obra-prima da literatura mundial nos últimos anos. (Tendo a concordar. Se bem que ?Desonra?, do Coetzee…)
Depois dos melhores, dos menores, dos geracionais, dos transgressores, dos químicos, dos cruéis, dos escritos por mulheres, dos eróticos, dos menores eróticos, dos menores eróticos escritos por mulheres transgressoras, dos representantes da novíssima safra genial e dos que prenunciam a safra que virá depois da novíssima safra genial, pode-se imaginar que as editoras comecem a ficar sem assunto para novas coletâneas de contos. Antes que desanimem, o que poderia acarretar graves prejuízos à auto-estima literária nacional, aqui vão algumas modestas propostas: 1. “Terceira pessoa – Os melhores contos em que não aparece a palavra eu” – A ousadia do critério elimina a maioria dos escritores vivos. Por isso mesmo garante, paradoxalmente, uma abordagem mais pessoal do gênero. 2. “Contos de escritores promíscuos” – O fundamental é que os autores tenham tempo de se conhecer. Todos. Em esquema de duplas, mas também grupal. 3. “Os melhores contos de escritores baixinhos”, “Os melhores contos de escritores altos”, “Os melhores contos de escritores esqueléticos” e “Os melhores contos de escritores gordalhufos” – Coleção lúdica. A possibilidade de brincar com volumes de formatos e tamanhos diferentes deve garantir uma boa exposição em livrarias – o grande desafio editorial contemporâneo. 4. “Contos com diálogos indicados…
Uma observação do lingüista Sirio Possenti (veja a caixa de comentários da nota abaixo) desviou o foco da discussão: de Monica Ali e o multiculturalismo para a importância cada vez maior que as informações biográficas de um autor – nacionalidade, cor, orientação sexual, psicopatologias variadas – assumem na agenda da imprensa literária, enquanto seus méritos de escritor vão recuando para o segundo plano. O assunto levantado por Sírio é bem-vindo. O fenômeno parece ser global e não poupar nenhum ramo de atividade: nunca o mundo foi tão obcecado por celebridades, com seu recheio de pastel de vento e sua consistência de holografia. Ou foi? Saiu há poucas semanas nos EUA um livro que joga luzes interessantes sobre a questão: The economics of attention – Style and substance in the age of information (“A economia da atenção – Estilo e substância na era da informação”), de Richard A. Lanham, professor emérito de inglês da Universidade da Califórnia. Lanham, 70 anos, um vetusto especialista em estilo e retórica, caiu na vida digital nos últimos anos. Primeiro lançou um livro chamado The electronic word (“A palavra eletrônica”). Agora amplia o quadro para refletir, entre outras coisas, sobre as novas estratégias que a superoferta…
Poucos nomes da literatura inglesa foram mais festejados nos últimos anos do que Monica Ali, 39 anos, bengalesa radicada na Inglaterra – ou seria mais apropriado chamá-la de inglesa nascida em Bangladesh (na época, ainda parte do Paquistão)? Seu romance de estréia, “Um lugar chamado Brick Lane” (Rocco, tradução de Léa Viveiros de Castro, 472 páginas, 52 reais), lançado no Brasil no início do ano passado, trata de um tema que Monica conhece bem: a vida de imigrantes como ela na terra do Príncipe Charles. Foi o bastante para que passasse a ocupar, ao lado de Zadie Smith, o centro do palco mais iluminado da literatura inglesa atual: o de um multiculturalismo que, no ex-Império Britânico, é uma espécie de religião penitente. Não basta ter talento, ajuda a lot ter nascido numa ex-colônia ou ser de uma família vinda de lá. Assim, louve-se a coragem de Monica Ali, que justamente no momento crítico do segundo livro lança um romance que ninguém esperava dela. Chama-se Alentejo blue e é ambientado, como o nome indica, em Portugal. Seus personagens são portugueses e ingleses. O risco que Monica corre ao fugir do estereótipo é duplo: o de trair os que a admiram mais…