A grande sensação literária da Índia no momento, já traduzida para o inglês, é uma empregada doméstica chamada Baby Halder e seu livro de memórias, “Uma vida menos banal”. Halder teve vida miserável – abandonada pela mãe aos 4 anos, casada aos 12 com um supercanalha, mãe um ano depois – e só começou a escrever incentivada por um patrão, professor universitário aposentado, que lhe deu um caderno escolar e uma caneta quando descobriu que ela, sempre que tirava o pó da estante, aproveitava para bisbilhotar dentro dos livros (notícia completa do “Herald Tribune International”, em inglês, aqui). O mesmo professor a ajudou a “editar” mais tarde o material bruto. Consta que “Uma vida menos banal” é forte e emocionante a seu modo cru, mas isso contribui pouco para o fato de os quatro cantos do mundo estarem ouvindo falar do livro – inclusive, agora, os leitores do Todoprosa. Méritos à parte, é difícil não ver no caso de Baby Halder mais uma amostra do vício contemporâneo de tratar qualquer arte como um subproduto – não muito importante, aliás – da biografia do artista.