Um dos segredos mais bem guardados da literatura latino-americana acaba de ficar menos secreto. Faz sentido que o escritor e pianista uruguaio Felisberto Hernández (1902-1964) tenha sido admirado com ardor por Julio Cortázar e Italo Calvino, dois prosadores finos com quem tem afinidades evidentes. Mesmo o leitor escolado na obra dos autores de “Histórias de cronópios e de famas” e “As cidades invisíveis”, porém, terá motivos de sobra para se surpreender com os contos longos, alguns beirando a extensão de uma novela, reunidos em “O cavalo perdido e outras histórias”, segundo lançamento da coleção Prosa do Observatório (Cosac Naify, seleção, tradução e posfácio de Davi Arrigucci Jr., 232 páginas, R$ 45). Ressalvada a possibilidade de alguma edição nanica que a história não registrou, trata-se do primeiro livro de Felisberto publicado no Brasil. A notícia merece comemoração porque Felisberto, como disse Calvino, “é um escritor que não se parece com nenhum outro (…), inconfundível ao abrirmos qualquer uma de suas páginas”. No texto que serve de prólogo à edição, Cortázar discorda em parte, descobrindo pontos de contato entre o uruguaio e o cubano José Lezama Lima. Ambos, para ele, “se conectam com as coisas (porque de algum modo tudo é coisa…