Para o escritor inglês Tom McCarthy, não basta gostar de Tintim, o repórter aventureiro de topete louro criado por Hergé. Eu também gosto. O problema começa quando McCarthy resolve provar que os álbuns em quadrinhos de Tintim estão no mesmo nível da melhor literatura jamais escrita. Aí seu caso começa a ficar indefensável. Nada contra os quadrinhos, mas me parece fora de questão que eles não são – e só têm a ganhar se não tentarem ser – literatura. Além do mais, se desconfiei da onda teorizante que vinte e tantos anos atrás quis reduzir Tintim a um repulsivo agente do imperialismo francês, por que embarcaria agora na viagem de incensá-lo como o mais acabado herói produzido pela cultura ocidental desde Homero, aquele em que se cruzam algumas das tradições mais férteis da literatura de todos os tempos? O fato é que a editora inglesa Granta resolveu jogar seu prestígio nessa brincadeira, e não parece estar arrependida. Tem feito um certo estardalhaço o livro Tintin and the secret of literature (“Tintim e o segredo da literatura”). Abaixo, alguns fragmentos do livro – e aqui, em inglês, um maior. Personagens como o Capitão Haddock e Bianca Castafiore ombreiam com qualquer um…
O detetive Bart Lasiter estava em seu escritório estudando a luz que incidia da única janela sobre seu super-burrito quando a porta se abriu para revelar uma mulher cujo corpo lhe dizia que tinha acabado de comer seu último burrito por um bom tempo, cujo rosto informava que anjos existem, e cujos olhos denunciavam que ela seria capaz de fazer você cavar sua própria sepultura e depois lamber a pá até deixá-la limpa. Essas linhas, de autoria do californiano Jim Guigli, foram as vencedoras do prêmio literário Bulwer-Lytton de 2006. Criado em 1982 pela Universidade de San Jose, nos EUA, o concurso anual de “piores começos de romances imaginários” homenageia o autor inglês Edward George Bulwer-Lytton, que em 1830 começou de fato um romance, chamado “Paul Clifford”, com a frase que Snoopy e outros amantes de clichês ajudariam a tornar imortal: “Era uma noite escura e tempestuosa”. São horrorosas as primeiras linhas da história do detetive Lasiter, isso não se discute. Mas concordo com o blog londrino Culture Vulture, que encerrou a notícia da premiação com uma provocação aos seus leitores: sabemos que vocês podem fazer melhor do que isso – ou seja, pior. Quem se habilita?
Contudo, nunca foi bem estabelecida a primeira encarnação do Alferes José Francisco Brandão Galvão, agora em pé na brisa da Ponta das Baleias, pouco antes de receber contra o peito e a cabeça as bolinhas de pedra ou ferro disparadas pelas bombardetas portuguesas, que daqui a pouco chegarão com o mar. Vai morrer na flor da mocidade, sem mesmo ainda conhecer mulher e sem ter feito qualquer coisa de memorável. É certamente com a imaginação vazia que aqui desfruta desta viração anterior à morte, pois não viveu o bastante para realmente imaginar, como até hoje fazem os muito idosos em sua terra, todos demasiado velhos para querer experimentar o que lá seja, e então deliram de cócoras com seus cachimbos de três palmos, rodeados pelo fascínio dos mais novos e mentindo estupendamente. No início de “Viva o povo brasileiro” (Nova Fronteira, 1984), João Ubaldo Ribeiro anuncia de cara a morte (mas será mesmo?) do protagonista, como faz Gabriel García Márquez em “Cem anos de solidão”. Mas não fica nisso: baianamente, deixa claro que essa é só uma das vidas do sujeito. Fica apenas insinuada a sugestão de que vale a pena seguir cada uma delas. E vale mesmo. Não será…
Um dos segredos mais bem guardados da literatura latino-americana acaba de ficar menos secreto. Faz sentido que o escritor e pianista uruguaio Felisberto Hernández (1902-1964) tenha sido admirado com ardor por Julio Cortázar e Italo Calvino, dois prosadores finos com quem tem afinidades evidentes. Mesmo o leitor escolado na obra dos autores de “Histórias de cronópios e de famas” e “As cidades invisíveis”, porém, terá motivos de sobra para se surpreender com os contos longos, alguns beirando a extensão de uma novela, reunidos em “O cavalo perdido e outras histórias”, segundo lançamento da coleção Prosa do Observatório (Cosac Naify, seleção, tradução e posfácio de Davi Arrigucci Jr., 232 páginas, R$ 45). Ressalvada a possibilidade de alguma edição nanica que a história não registrou, trata-se do primeiro livro de Felisberto publicado no Brasil. A notícia merece comemoração porque Felisberto, como disse Calvino, “é um escritor que não se parece com nenhum outro (…), inconfundível ao abrirmos qualquer uma de suas páginas”. No texto que serve de prólogo à edição, Cortázar discorda em parte, descobrindo pontos de contato entre o uruguaio e o cubano José Lezama Lima. Ambos, para ele, “se conectam com as coisas (porque de algum modo tudo é coisa…
A grande sensação literária da Índia no momento, já traduzida para o inglês, é uma empregada doméstica chamada Baby Halder e seu livro de memórias, “Uma vida menos banal”. Halder teve vida miserável – abandonada pela mãe aos 4 anos, casada aos 12 com um supercanalha, mãe um ano depois – e só começou a escrever incentivada por um patrão, professor universitário aposentado, que lhe deu um caderno escolar e uma caneta quando descobriu que ela, sempre que tirava o pó da estante, aproveitava para bisbilhotar dentro dos livros (notícia completa do “Herald Tribune International”, em inglês, aqui). O mesmo professor a ajudou a “editar” mais tarde o material bruto. Consta que “Uma vida menos banal” é forte e emocionante a seu modo cru, mas isso contribui pouco para o fato de os quatro cantos do mundo estarem ouvindo falar do livro – inclusive, agora, os leitores do Todoprosa. Méritos à parte, é difícil não ver no caso de Baby Halder mais uma amostra do vício contemporâneo de tratar qualquer arte como um subproduto – não muito importante, aliás – da biografia do artista.
Todo jovem escritor deve guardar esta notícia para mostrar a seus pais quando eles vierem com aquela conversa de que “literatura não dá dinheiro”. Às vezes demora um pouco, mas dá. Um exemplar da primeira edição das peças reunidas de William Shakespeare, publicado em 1623, apenas sete anos após a sua morte, e cheio de anotações nas margens, foi vendido hoje num leilão em Londres por 2,8 milhões de libras esterlinas (cerca de R$ 11,4 milhões). Notícia completa, em inglês, aqui.
Mais uma vez, como já virou tradição, muita gente que se dispôs a encarar a gincana de comprar ingressos para a Festa Literária Internacional de Parati, postos à venda hoje ao meio-dia pela Ticketmaster, levou para casa um mico. Ou um micaço, se for levado em conta que esses aventureiros já pagaram pela pousada no balneário há semanas. Mazelas da pouca oferta para muita procura? Em parte, com certeza. Mas só em parte. Isso não explica que, no posto Ipiranga de Botafogo, no Rio, a mesa de Toni Morrison fosse dada como esgotada às 13h30 num guichê – e cinco minutos depois ainda se encontrasse ingresso para ela no guichê ao lado. O pessoal encarregado das vendas também não entendia o que estava acontecendo. Ligavam para supervisores o tempo todo. Continuaram no escuro. Na internet foi melhor? Não. Quem tentou comprar uma entrada para o show de Maria Bethânia pelo site da Ticketmaster foi informado de que, cinco minutos após a abertura das vendas, todas elas tinham evaporado. Danadinha essa Bethânia, não? É, pode ser… O ceticismo é justificado por um fenômeno que começa a ficar conhecido como a maldição dos ingressos da Flip. Ano passado uma confusão semelhante cercou…
A “Folha de S. Paulo” (aqui, mas só para assinantes do jornal ou do UOL) informa que Bogotá recebeu da Unesco, para ostentar ao longo do ano que vem, o título de Capital Mundial do Livro. A capital da Colômbia é a primeira cidade da América Latina a merecer a distinção, mas parece haver justiça nisso. Uma epidemia de leitura que a experiência brasileira torna difícil até de conceber estaria começando a mudar a imagem colombiana de país violento e ingovernável – ou pelo menos mostrando que ela não é exclusiva: Com 2,7 milhões de visitantes por ano, a Biblioteca Luis Ángel Arango, em Bogotá, é uma das mais visitadas do mundo. Recebe, em média, 9.000 pessoas diariamente. É mais do que a soma de visitantes de Masp (Museu de Arte Moderna de São Paulo), Biblioteca Mário de Andrade e Pinacoteca juntos por dia. Mantida pelo Banco Central do país, ela tem 2 milhões de livros e capacidade para 2.000 leitores sentados. Nos últimos anos, a BLAA fez escola: a prefeitura local construiu outras megabibliotecas pela cidade e criou diversos programas de leitura que visam formar leitores em massa.
Uma reportagem do jornal inglês “The Guardian” (acesso livre, em inglês) traz novas informações e contextualiza a situação de precária liberdade de expressão que tem atazanado a vida de escritores e jornalistas turcos – veja a nota “A Turquia ataca outra vez”, ali embaixo. A propósito da reabertura do processo contra uma romancista popular no país, Elif Shafak, por “ofender a turquidade” (na falta de palavra melhor), o jornal informa que mais de 60 pessoas foram processadas sob alegações semelhantes de um ano para cá, desde que se introduziu na lei um certo “artigo 301”. A maioria dos processos acaba girando em torno da questão do massacre – há quem prefira chamar de genocídio – dos armênios pelas tropas turcas durante a Primeira Guerra Mundial, que o país nega oficialmente. No caso de Elif Shafak, bastou que a palavra “genocídio” fosse pronunciada por um de seus personagens, aliás armênio, para que a autora fosse acusada. Algo como prender Flaubert pela morte de Emma Bovary. O jornal registra ainda uma interessante tese de Sarah Whyatt, diretora do PEN Internacional que acompanha o caso: mais do que um vício autoritário que a Turquia precisará abandonar em sua campanha para ingressar na União…
O romance “Tigre de papel” (Cosac Naify, tradução de José Bento Ferreira, 286 páginas, preço a definir), que chegará às livrarias no fim deste mês, é o passaporte do escritor e editor francês Olivier Rolin para a Festa Literária Internacional de Parati – onde ele estará dia 11 de agosto, ao lado do peruano Alonso Cueto e do gaúcho Luiz Antonio de Assis Brasil, na mesa “Prosa, política e história”. Trata-se de um belo passaporte. Estruturado como uma caudalosa falação de Martin, que foi militante maoísta na Paris de 1968, para a filha de Treize, um correligionário já morto, “Tigre de papel” é o acerto de contas de Rolin, nascido em 1947, com seu próprio passado politicamente ativo naquele tempo e lugar – ambos lendários. É também uma tentativa de traduzir as motivações da geração 68 para a jovem que o escuta e, com intervenções esparsas mas precisas, ajuda a evitar que o relato descambe para o puro saudosismo melancólico. Se este resumo apressado deu a entender que “Tigre de papel” é um romance pesado, denso, cabeçudo – ou seja, “francês” no mau sentido –, esqueça o resumo. Ambicioso, o livro tem uma verborragia atropelada e suja que o situa…
Na manhã em que a última filha dos Lisbon decidiu-se também pelo suicídio – foi Mary dessa vez, e soníferos, como Thereza –, os dois paramédicos chegaram à casa sabendo exatamente onde ficavam a gaveta das facas, o forno, e a viga no porão à qual era possível atar uma corda. Saíram da ambulância, como sempre andando mais devagar do que gostaríamos, e o gordo disse entre dentes: “Isso não é a TV, gente, mais rápido não dá.” Carregava o pesado equipamento cardíaco e o respirador, passando pelos arbustos que haviam crescido de forma monstruosa, pisando o gramado transbordante que fora liso e imaculado treze meses antes, quando os problemas começaram. Assim, entregando o fim para garantir desde a primeira linha que o leitor só abandonará o livro antes da hora se for ruim da cabeça, tem início a viagem poética e mórbida – praticamente neo-simbolista, pensando bem – de “Virgens suicidas” (Rocco, 1994, tradução de Marina Colasanti). Para quem se interessa pelas engrenagens da escrita, o belo romance de estréia do americano de ascendência grega Jeffrey Eugenides merece destaque ainda por um recurso inusitado: a narração é toda feita na primeira pessoa… do plural.
Leitura recomendável a todos nós, fetichistas do papel, para quem é absurda a idéia – defendida por tantos visigodos eletrônicos – de que o livro como o conhecemos seja menos que eterno, indestrutível, maior que a própria História. O jornalista e escritor argentino Marcelo Figueras escreve em seu blog no site El Boomeran(g) sobre uma relação com os livros que nada tem de rara. Talvez seja mesmo a mais comum das relações possíveis entre seres humanos e livros. Mas não é fácil encontrar quem assuma esse amor bandido: Cada pessoa se relaciona com o objeto livro de maneiras distintas. Sei de gente que os trata como se cada exemplar fosse um incunábulo: cuidando para que a sobrecapa e a capa não se amarrotem, abrindo-os de tal forma que não fiquem marcas na lombada, negando-se a sublinhar o texto a menos que seja com um delicado traço de lápis… Compreendo esse cuidado, porque expressa amor. Mas é claro que, como na vida, existem muitos tipos de amor. Amo meus livros, mas com um amor bárbaro. Ali estão os coitados, manuseados, gastos, sublinhados com tinta, cheios de papeizinhos que naquele momento serviram como marcadores… Meus livros se parecem bastante com a edição…
Começou na última terça-feira e vai até o dia 4 de agosto a World eBook Fair, ou Feira Mundial do Livro Eletrônico. Estão franqueadas por um mês as buscas e os downloads de arquivos – em pdf – numa biblioteca de cerca de 330 mil títulos em mais de cem línguas, com predominância do inglês. A feira comemora os 35 anos do Projeto Gutenberg, programa pioneiro de digitalização de clássicos, com o apoio e o acervo complementar da World eBook Library, que normalmente cobra pelos downloads uma assinatura de 8,95 dólares por ano, e mais um consórcio de iniciativas menores ligadas ao livro eletrônico. Quase todas as obras são suficientemente antigas para estarem em domínio público, ou seja, fora do alcance das leis de proteção aos direitos autorais. Decepcionante? Convém não esquecer que, embora mortal para quem acha que o mundo começou ontem, o critério não chega a excluir 5% dos maiores autores de todos os tempos. Isto é, em tese. Não significa que mais de 95% deles já estejam nessa feirinha, ao alcance de um clique. Chegaremos um pouco mais perto disso quando for atingida a marca, prevista para 2009, de 1 milhão de livros.
Eis um aspecto até certo ponto inesperado da discussão que abriu a semana aqui no Todoprosa, sobre o futuro do livro na era digital. “A palavra falada é o grande sucesso do mercado de livros digitais até o momento, graças ao fenômeno do iPod”, anuncia hoje uma reportagem do jornal inglês “The Guardian” (acesso gratuito aqui, em inglês): Peter Bowron, diretor da Random House, editora de ‘O código da Vinci’, diz que chegará o momento em que livros serão contratados com base em seu apelo de áudio, em vez de seu potencial nas prateleiras. ‘Veio o iPod e, de repente, o mercado de download de arquivos de áudio ficou muito maior… É uma das primeiras áreas do mundo digital em que, em vez de ficar apenas falando dela, estamos realmente ganhando dinheiro’. Depois disso, entende-se melhor a reportagem de ontem do “New York Times” (cadastro gratuito) sobre escritores que estão cuidando pessoalmente das gravações de seus audiolivros, convocando amigos e negociando horas em estúdio na base da camaradagem. Faz sentido. O que encarecia o produto, até pouco tempo atrás uma exclusividade de grandes vendedores, era toda aquela traquitana da vida real: suportes físicos, distribuição, estocagem nos pontos de venda. Quando…
Histórias de faroeste? Isso mesmo. Mas histórias de faroeste escritas por ninguém menos que Elmore Leonard, 80 anos, um mestre da narrativa veloz que é dono de um ouvido perfeito, imbatível na estetização da língua americana falada hoje e, por conta de tudo isso, um dos maiores prosadores vivos da língua inglesa. Quem acha que todos esses elogios não combinam com um escritor assumidamente comercial deve pensar de novo. Leonard não é um literato. É uma fábrica de histórias, do tipo que lança um livro por ano e vê muitas de suas tramas irem parar na tela grande – a maioria das vezes em filmes aquém de sua qualidade, mas recentemente em dois sucessos hollywoodianos, “O nome do jogo” e “Jackie Brown”. Mais conhecido como autor de romances policiais, foi escrevendo contos e romances do gênero western que Elmore Leonard fez sua carreira decolar, a partir dos anos 50. Vale conferir, em inglês, os aplausos com que o sisudo “Financial Times” comemora o lançamento de todos os seus contos de bangue-bangue num só volume, na Inglaterra, aqui. Os romances de faroeste de Elmore Leonard vêm sendo lançados no Brasil pela Rocco, que publica o autor há muitos anos – como…
O que tem a ver a Turquia com a União Européia? É o que muita gente tem se perguntado diante da reincidência do país nas restrições à liberdade de imprensa e opinião, um dos pontos fracos de sua candidatura a membro do clube. Ano passado, o escritor Orhan Pamuk foi submetido a um processo rumoroso por ter comentado, numa entrevista, aquilo que nenhum historiador sério nega: o massacre de cerca de 1 milhão de armênios pela Turquia, em 1915. Como Pamuk é um autor de renome internacional, a pressão da opinião pública, sobretudo a européia, levou o governo a desistir do processo. Mas Fatih Tas não é Pamuk. O dono da editora Aram, jovem de 27 anos que já é veterano de outros processos, anunciou numa entrevista divulgada pela agência France-Presse (mediante cadastro gratuito) que está enfrentando acusações de “denegrir a identidade nacional” e “incitar o ódio”, o que o sujeita a uma pena de até seis anos de prisão. Seu crime foi ter publicado, em março, uma tradução de Manufacturing consent: the political economy of the mass media, de Noam Chomsky e Edward S. Herman. Num dos ensaios do livro, Chomsky critica o tratamento dispensado pelo governo turco à…
A polêmica sobre o fim anunciado do livro ganha a adesão de duas vozes de peso. Umberto Eco comparece com a transcrição de sua palestra Da internet a Gutenberg, de 2003, traduzida para o português pelo professor catarinense João Bosco da Mota Alves (o link é uma contribuição do leitor Francisco Gonzalez). Comentando as infinitas possibilidades de “leitura ativa” que o meio eletrônico propicia, aquelas que seus propagandistas saúdam como o fim do “livro fechado” – hipertexto, interatividade, edição, colagem de fragmentos –, Eco defende o livro tradicional com sobriedade e elegância, apresentando um singelo argumento filosófico: Você é obrigado (como leitor de um livro) a aceitar as leis do destino, e constatar que não pode mudar o destino. Um romance hipertextual e interativo nos permite praticar liberdade e criatividade, e espero que tal tipo de atividade inventiva seja praticada nas escolas do futuro. Mas “Guerra e Paz” escrita não nos confronta com possibilidades ilimitadas de Liberdade, mas com as leis severas da Necessidade. Para sermos pessoas livres, precisamos também aprender esta lição sobre Vida e Morte, e apenas os livros ainda nos presenteiam com esta sensatez. A outra contribuição tem peso intelectual equivalente: vem do historiador francês Roger Chartier,…