Pronto, deu-se a mágica. Parati virou a capital brasileira da literatura do dia para a noite. Nessa hora importam muito pouco as críticas, que nunca estiveram em falta, às imperfeições do evento: começou, está começado. Enquanto as ruas de pedras irregulares são pisadas por exércitos de sapatos, sandálias e tênis fabricados nos quatro cantos do mundo, num assustador desafio à resistência de milhares de tendões, as quedas de luz na sala de imprensa fazem jornalistas experimentados perder de dez em dez minutos o trabalho escrito nos últimos dez minutos. Mas ninguém reclama. A prometida rede wi-fi? Amanhã, quem sabe, murmura-se nessa sucursal fluminense da Bahia. E daí, se você entra num botequim e encontra Luiz Schwarcz, editor da Companhia das Letras, ainda triste com a desistência de última hora de Ricardo Piglia? “O livro dele (‘O último leitor’) é a melhor obra de não-ficção publicada pela editora este ano”, avalia Schwarcz. Na mesa ao lado, o jovem autor angolano Ondjaki conta suas primeiras experiências com uma especialidade da terra: virou várias doses de cachaça e ficou de pé, garante. A voz firme e o equilíbrio passável confirmam a história. É pouco provável, porém, que a resistência do rapaz ao álcool…
Roubei o nome do blog do amigo Guilherme Fiuza para enfeitar o título acima, mas tenho uma boa razão. Isso não é necessariamente um defeito – embora possa ser, dependendo do gosto do freguês –, mas a desistência do argentino Ricardo Piglia parece ter sido o que faltava para fazer a balança da 4a Festa Literária Internacional de Parati, que começa hoje à noite com um show de Maria Bethânia, pender de vez para o lado dos temas políticos, deixando a literatura em segundo plano. A inclinação não deixa de ser condizente com um evento em que o autor homenageado é Jorge Amado, que em sua fase realista-socialista foi o escritor brasileiro que mais resolutamente subordinou sua ficção a diretrizes político-partidárias em toda a história. Não é este o melhor Jorge Amado. Também não é o melhor desta Flip, em termos literários, o paquistanês-britânico Tariq Ali, que na sexta-feira, às 15h, estará sozinho na mesa intitulada – justamente – “Literatura e política”. Romancista pouco inspirado, Ali goza de reputação melhor como ensaísta militante e porta-voz da cultura muçulmana. Tem tudo para dominar a cena, especialmente enquanto as bombas israelentes caem no Líbano. No outro extremo do arco ideológico – se…
Alguns outros resultados do Jabuti, em categorias que envolvem texto: Ruy Castro (“Carmen, uma biografia”) levou o prêmio de biografia; Marcelino Freire (“Contos negreiros”), o de contos e crônicas; Affonso Romano de Sant’Anna (“Vestígios”), o de poesia; Mamede Mustafá Jarouche (“Primeiro livro das Mil e uma noites”), o de tradução; Gabriel o Pensador (“Um garoto chamado Rorbeto”), o de infantil. Isso é só o começo da lista. E tem mais: cada categoria conta com um pódio de três ganhadores. O Jabuti é fortíssimo candidato a prêmio mais prolixo da literatura mundial.