A palestra de Toni Morrison, que terminou há pouco, revelou uma mulher sedutora, brilhante e engraçada que, de forma evidente, poderia ter sido mais bem aproveitada pelo público se sua obra fosse mais conhecida no Brasil. Para compensar o pequeno número de perguntas enviadas pelo público, a mediadora Maya Jaggi, inglesa, conduziu boa parte da conversa com uma seriedade acadêmica que contrastou à beça com o calor de sulista americana da conferencista. Abaixo, uma seleção de frases de Toni, Nobel de Literatura e autora de Beloved, recentemente eleito o melhor livro americano dos últimos 25 anos pelo “New York Times”. Imaginando uma entonação musical e às vezes lânguida – como é a própria prosa da autora, aliás -, a leitura fica mais fiel: Eu entendo o elogio implícito em dizerem que estou acima de questões de gênero e raça. O problema é que nunca ocorreu a ninguém dizer isso de Virginia Woolf, por exemplo. Prefiro me identificar como uma escritora mulher e negra mesmo. A ficção pode falar de coisas que a história não pode nem deve (sobre a importância de reelaborar o passado em seus livros). Eu vivo num país que adora não se lembrar do que aconteceu 30…
A leitura do manifesto pró-Líbano com que Tariq Ali abriu sua conferência hoje na Flip acabou por dominar o debate até o fim – como estava previsto. Nenhuma das perguntas encaminhada ao escritor pela platéia teve como tema qualquer questão ligada à literatura. E a verdade é que não fez falta. Melhor ensaísta e debatedor do que ficcionista, Ali protagonizou uma mesa vibrante, marcada aqui por aplausos de pé, ali por vaias, num clima de happening que esquentou – muito – a temperatura do balneário. Tariq Ali começou falando das relações entre literatura e política, que são profundas – uma verdade inegável. “Não há uma muralha da China separando literatura e política”, afirmou, citando autores previsíveis como Stendhal entre aqueles cuja obra tem motivação política e outros surpreendentes – como Proust – entre os que, mesmo sem essa intenção, produziram livros que admitem uma leitura política. Para provar que toda literatura tem algo de político – e também que não é “anti-americano”, um rótulo que diz odiar -, Ali elogiou o autor Cormac McCarthy, dizendo que seu Blood Meridian é “uma descrição perfeita da brutalidade do Império”. Aproveitou para emendar num elogio efusivo de “Cidade de Deus”, de Paulo Lins,…
Tariq Ali abriu sua palestra hoje na Flip pedindo licença para ler um manifesto, assinado por vários autores reunidos em Parati, pela imediata retirada das tropas israelenses do Líbano. Destaca-se entre os nomes o de Toni Morrison, americana e ganhadora do Prêmio Nobel. A seguir, a íntegra do documento: Nós, autores abaixo assinados, reunidos em uma festival literário na idílica cidade brasileira de Parati, não podemos deixar de pensar nas vítimas das guerras no Oriente Médio. A invasão israelense do Líbano é apenas o episódio mais recente de uma série de guerras e ocupações. A destruição deliberada da infra-estrutura social do Líbano e os massacres de Marwahin, Qana e Srifa devem despertar a consciência do mundo. Na ausência de qualquer apoio por parte da “comunidade internacional” ao povo libanês e àqueles encurralados no gueto de Gaza, conclamamos todos os cidadãos dotados de consciência a levantar a voz contra esses crimes, especialmente nos EUA, onde as redes de televisão censuraram as imagens de vítimas civis. O plano cínico de utilizar uma força internacional da ONU ou da OTAN para favorecer os objetivos bélicos de Israel não trará qualquer solução. Para que se possa chegar a uma paz duradoura na região, são…
O debate de alto nível sobre o fazer literário desembarcou em Parati com um dia de atraso, mas compensou a demora com a qualidade da conversa. Aconteceu na primeira mesa de hoje, que reuniu o francês Olivier Rolin, o peruano Alonso Cueto e o gaúcho Luiz Antonio de Assis Brasil. A erudição articulada do português Mario de Carvalho (“Um deus passeando pela brisa da tarde”), ontem à noite, havia brindado a Flip com frases antológicas como esta: “Os livros não acabam. Nós os abandonamos”. Mas, no caso da mesa de Carvalho, dividida com o mexicano David Toscana, não chegou a haver propriamente um bate-bola. Os dois são distintos demais, faltou uma base comum de referências. Hoje foi diferente. O tema eram as relações entre “Prosa, política e história”. Podia ter dado em nada, ou em bem pouco, como costuma acontecer nos casos em que o tema é tão genérico que deriva para clichês vazios como “por que escrever?”, “de onde vêm suas idéias?” e coisas do gênero. Podia, mas não foi o que ocorreu. Graças principalmente a Rolin, autor de “Tigre de papel” (Cosac Naify), apresentado no Primeira Mão mão aqui do Todoprosa, e a Cueto, cujo “A hora azul”…