A mesa que o poeta palestino Mourid Barghouti dividiu com seu colega brasileiro Ferreira Gullar, hoje de manhã, não foi abafada por temas políticos – embora o traço de união mais evidente entre os dois autores seja o exílio, que Ferreira Gullar experimentou durante a ditadura militar nos anos 70 e Barghouti durante três décadas, ao fim das quais visitou sua cidade natal e escreveu sobre essa experiência em “Eu vi Ramallah” (Casa da Palavra). Apesar da mediação confusa de Alberto Mussa, a leitura de trechos de poemas e o bom debate que se seguiu acabaram por revelar mais afinidades entre Barghouti e Gullar do que se suspeitava – inclusive, quem diria, estilísticas. O momento de maior voltagem da mesa, porém, ocorreu quando pediram a Barghouti que opinasse sobre uma frase de efeito do escritor israelense Amos Oz: que palestinos e israelenses precisam aprendem a conviver como cônjuges divorciados que continuam dividindo a mesma casa. A resposta do poeta deixou claro que a paciência dos palestinos com Oz – que há duas semanas defendeu a intervenção militar no Líbano – anda em baixa: A situação na Palestina está muito além do alcance de declarações de escritores. Nós, palestinos, estamos desapontados…
A agressividade de Christopher Hitchens (veja nota abaixo) lavou a alma de muita gente. Hoje de manhã – antes, portanto, da performance do inglês na Tenda dos Autores -, foi entreouvido na Praça da Matriz: “Está muito difícil ser judeu na Flip”.
Christopher Hitchens fez hoje na Flip o que dele se esperava, não só ao defender Israel e atacar o Hezbolá, assim como todos os movimentos políticos muçulmanos de inspiração religiosa, mas também ao expor suas idéias com uma agressividade até então inédita em Parati. Entre vaias e aplausos, como ocorrera com Tariq Ali, o crítico, jornalista e ensaísta inglês (radicado em Washington) chamou membros da platéia de idiotas e chegou a brindar seu companheiro de mesa, Fernando Gabeira, com o rótulo de “terrorista”. A frase foi dita em tom meio brincalhão, a propósito do fato de Gabeira até hoje não poder ingressar nos Estados Unidos por ter participado do seqüestro do embaixador americano Charles Elbrick. Hitchens se ofereceu para hospedar o deputado brasileiro no dia em que ele conseguir derrubar esse veto. “Tenho um quarto lá em casa reservado para terroristas simpáticos”, disse. Gabeira não retrucou. Não satisfeito, Hitchens partiu também para cima do mediador, o jornalista Merval Pereira: “Você não vai fazer nenhuma pergunta sobre literatura e reportagem?”. Merval disse que não. Não mesmo. Talvez inevitavelmente, a invasão do Líbano por tropas israelenses virou o grande assunto da 4a Flip, com fortes aspirações a ser o único. Depois do…