Ruth Lana, Mauro Munhoz e Liz Calder A 4a Flip, que está terminando hoje, custou 3,8 milhões de reais – incluindo apoios – e fez entre 12 mil e 13 mil pessoas circularem pela Tenda dos Autores, por onde passaram 37 escritores convidados. Os números foram divulgados hoje numa coletiva por Mauro Munhoz, diretor do evento. A Flipinha, programa educativo que encheu Parati de crianças, contadores de histórias e bonecos gigantescos inspirados – a maioria – na obra do autor homenageado Jorge Amado, foi um dos orgulhos da organização. Oito mil crianças de 36 escolas participaram da festa. A diretora de programação deste ano, Ruth Lanna, que participou da coletiva ao lado de Munhoz e Liz Calder, está de saída do projeto: acompanhará seu marido, o romancista Milton Hatoum, que vai passar todo o primeiro semestre do ano que vem na Universidade de Stanford, nos EUA, com uma bolsa de escritor. O nome do próximo diretor não foi divulgado. Para ouvir explicações de Munhoz sobre a sempre tumultuada venda de ingressos para a Flip, clique aqui; e sobre o espírito de um evento que faz questão de não crescer demais para não estragar, aqui. Talvez por ter sido realizada em…
CABEÇA “Interrompemos o fluxo das sentimentações agendadas, para que brote a visita de um afeto… Escrever é um combate para encontrar lugar no acolhimento. O acolhimento acontece quando o abismo recebe cidadania… Eu habito sempre entre o abismo e o clamor.” (Juliano Garcia Pessanha, autor de “Ignorância do sempre”, na mesa que abriu a Flip, quinta-feira.) MINEIRIDADE “Nó, mas o ser humano é miserável demais, gente!” (Adélia Prado, hoje de manhã, traduzindo sua descrença na espécie.) FOFURA “Eu não quero ter razão, eu quero ser feliz.” (Ferreira Gullar, ontem, irritando seu companheiro de mesa Mourid Barghouti.) CURTO E GROSSO “O que eu posso dizer para você? Existe uma coisa chamada ironia.” (Tariq Ali, em sua palestra de sexta-feira, quando alguém da platéia o acusou de ser homofóbico e anti-semita por ter citado um trecho de Proust em que o sionismo é criticado à luz da história de Sodoma e Gomorra.) CURTÍSSIMO E GROSSÉRRIMO “Aplaudam, seus f.d.p.! É Lilian Ross que está ali!” (Christopher Hitchens, aos berros na primeira fila da platéia da jornalista da “New Yorker”, exigindo que o público a reverenciasse no exato momento em que ela entrava no palco.) QUÍMICO “O cloridrato de fluoxetina me fez uma pessoa…
O veterano Edmund White e a noviça Nicole Krauss, ambos americanos, acabaram encontrando pontos de contato suficientes entre eles para transformar a mesa que protagonizaram hoje na Flip em uma conversa agradável. A maior dessas afinidades foi a reflexão sobre como o establishment literário os categoriza, ele como gay assumido, ela como mulher. Nicole – que é mulher de Jonathan Safran Foer, também na Flip (veja nota abaixo) – queixou-se da grande incidência de adjetivos como “adorável”, “delicado” e “lírico” em resenhas sobre livros escritos por mulheres. “Talvez a escrita dos homens tenha mais chance de ser levada a sério”, disse ela, que veio ao Brasil no vácuo do lançamento de seu romance “A história do amor”. Um livro lírico, delicado e, por que não dizer, adorável. A observação de Nicole Krauss fez Edmund White se lembrar de um clichê associado a gays pelos produtores de Hollywood. “Quando estão discutindo nomes de roteiristas e alguém sugere um que seja gay, a reação é sempre a mesma: ‘Não, esse aí é muito bom no desenvolvimento de personagens, mas para construir uma trama não serve’”, contou White, um homem europeizado e afável, autor, entre outros, de “Um jovem americano” e “O homem…
Ao lado do poeta palestino Mourid Barghouti, ontem, Ferreira Gullar enriqueceu com um bom punhado de frases de efeito o repertório da Flip. A última parece ter magoado Barghouti, que não luta por outra coisa senão o reconhecimento de que os palestinos têm razão. Mas o público aplaudiu delirantemente: A palavra não serve só para criar confusão. Ela serve também para esclarecer a confusão que a palavra cria. No fundo o que há é a linguagem coloquial, a palavra de todos nós. O poema é o lugar em que essa prosa vira poesia. Eu acho que nasci poeta. Há quem nasça ladrão, jogador de futebol… Essa história de ser lido daqui a duzentos anos, a gente não sabe. Se você não passa às pessoas alguma coisa de que elas necessitam, o livro não sobrevive. O povo carrega no colo as obras de arte. Depois de algum tempo, não tem mais o crítico amigo para dar uma notinha. Se o povo não gostar, dançou. Eu não quero ter razão, eu quero ser feliz.
A mesa “Nas fronteiras da narrativa”, ontem à noite, que reuniu dois dos mais festejados autores da nova literatura de língua inglesa, justificou as expectativas. O americano Jonathan Safran Foer (“Extremamente alto & incrivelmente perto”) e a escocesa Ali Smith (“Por acaso”) entabularam uma boa conversa focada nos bastidores do fazer literário, com direito a um protesto do primeiro sobre a politização excessiva da Flip: “Esse festival assumiu um ar político, o que eu acho um pouco triste. É a primeira vez que vou a um lugar cuja praça principal é devotada a fazer as crianças se apaixonarem pela leitura. Isso tem exatamente a mesma importância de qualquer coisa que façam políticos ou jornalistas”, disse Foer, um sujeito meio blasé que tem a maior cara de bom moço não apenas de Parati, mas de todo o litoral sul do Estado do Rio. Ali Smith (foto), que contrastava com seu parceiro de mesa esbanjando uma energia ao mesmo tempo elétrica e viajandona, o que contribui para seu jeitão de Björk das letras, preferiu trazer o tema da política para a conversa sobre o escrever: “A arte é inevitavelmente política, como tudo acaba sendo. O que não faz sentido é você ter…