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Manguelismo dos bons
Posts / 01/09/2006

Minha biblioteca é constituída, meio a meio, por livros que lembro e por livros que esqueci. Agora que minha memória já não é tão precisa quanto costumava ser, as páginas se esvaem na mesma medida em que tento conjurá-las. Algumas se apagam por inteiro de minha experiência, esquecidas e invisíveis. Outras me assediam tentadoramente com um título ou uma imagem, ou umas poucas palavras fora de contexto. Qual romance começa com as palavras “Numa noite de primavera de 1890”? Onde li que o rei Salomão usou uma lente de aumento para saber se a rainha de Sabá tinha pernas peludas? Quem escreveu aquele livro singular, Flight into Darkness, do qual só recordo a descrição de um corredor sem janelas, tomado por pássaros esvoaçantes? Em qual história li a frase “no despejo de sua biblioteca”? Qual livro tinha uma vela acesa na capa e desenhos a lápis no papel creme? Em algum lugar de minha biblioteca encontram-se as respostas a estas questões – mas esqueci onde. “A biblioteca à noite” (Companhia das Letras, tradução de Samuel Titan Jr., 304 páginas, R$ 45), lançado esta semana em São Paulo, é mais um exemplar inspirado daquele ensaísmo que, se não foi inventado, pode-se…