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Começos inesquecíveis: José Saramago
Posts / 08/10/2006

D. João, quinto do nome na tabela real, irá esta noite ao quarto de sua mulher, D. Maria Ana Josefa, que chegou há mais de dois anos da Áustria para dar infantes à coroa portuguesa e até hoje ainda não emprenhou. Já se murmura na corte, dentro e fora do palácio, que a rainha, provavelmente, tem a madre seca, insinuação muito resguardada de orelhas e bocas delatoras e que só entre íntimos se confia. Que caiba a culpa ao rei, nem pensar, primeiro porque a esterilidade não é mal dos homens, das mulheres sim, por isso são repudiadas tantas vezes, e segundo, material prova, se necessária ela fosse, porque abundam no reino bastardos da real semente e ainda agora a procissão vai na praça. “Memorial do convento” (Bertrand Brasil, 1998, 22a edição), que José Saramago publicou em 1982, é um livro do início da “fase madura” do autor português – aquela, prolífica, que lhe valeria sua enorme popularidade e o Nobel. Naquele tempo o estilo aliciador de Saramago, com traços viciantes, ainda era novo demais para criar anticorpos no leitor ou para ser acusado de repetitivo. Resultado: D. Maria Ana Josefa podia ser estéril, mas a prosa era a própria…