O relançamento de “O nariz do morto” (Civilização Brasileira, 384 páginas, R$ 44,90), livro publicado em 1970 por Antonio Carlos Villaça (1928-2005), dá à cultura brasileira a oportunidade valiosa de repor em lugar menos folclórico o nome do escritor carioca. Embora esse título, que costuma ser considerado seu melhor, tenha dado início a uma série de volumes de memórias como “O anel” e “Monsenhor”, entre outros, Villaça é mais conhecido – sem que para isso seja preciso lê-lo – como arquivo de anedotas dos bastidores da literatura brasileira do século XX, cuja intimidade freqüentou. Não é que tal juízo esteja errado. Apenas não faz justiça a um grande escritor. “O nariz do morto” acompanha a vida de Villaça do nascimento à idade adulta, com foco na inquietação espiritual que o levou a tentar a carreira religiosa, internando-se no Mosteiro de São Bento – apenas para sair correndo de lá, trinta quilos mais magro e mergulhado numa crise existencial que o acompanharia pelo resto da vida. Como monge, Villaça – ou Lelento, ou ainda Sigismundo, máscaras que ele vai assumindo ao longo da história – era um poeta. Como poeta, era monge. Nesse descompasso equilibrou sua vida. O livro foi definido…