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Tradução: visível ou invisível?
Posts / 31/10/2006

Minha escala em matéria de relações tradutor-autor oscila entre o zero absoluto, cujo protótipo foi Thomas Bernhard (o tradutor é um ser incompetente que faz um trabalho merecidamente mal pago), e Günter Grass, para quem seus tradutores são, como ele disse algumas vezes, a verdadeira razão para continuar escrevendo. Entre esses extremos eu situaria Salman Rushdie, que jamais interfere nas traduções de seus livros, mas responde em 24 horas qualquer consulta… Rushdie escreveu sobre Hitoshi Iragashi, seu tradutor japonês assassinado: “A tradução é uma espécie de intimidade, uma espécie de amizade, e por isso choro sua morte como choraria a de um amigo”. O resto dos escritores se situa em variadas alturas. Um DeLillo, por exemplo, está perto de Grass; um Kundera, mais próximo de Bernhard, ainda que com pretensões de entender de tradução. O bom artigo do espanhol Miguel Sáenz – tradutor de Grass e Rushdie, sorte dele – é um dos que debatem as agruras da tradução na última edição do suplemento Babelia, do “El País”. O assunto ganhou a capa do caderno, sob o título “O ofício invisível”. Invisível, claro, quando a tradução é boa. A visibilidade do tradutor é inversamente proporcional à qualidade de seu trabalho….