Nossa adorável, vulgar e humaníssima arte (o romance) está num de seus finais, se não estiver no fim. Mas isso não é motivo para não querer praticá-la, ou mesmo lê-la. De qualquer modo, como sacerdotes que já se esqueceram do sentido das preces que entoam, continuaremos por um bom tempo falando de livros e escrevendo livros, fingindo não notar, enquanto isso, que a igreja está vazia e os paroquianos foram embora para algum lugar a fim de venerar outros deuses, quem sabe em silêncio ou com novas palavras. A previsão pessimista sobre o futuro do romance é do escritor americano Gore Vidal, 81 anos, que está lançando nos Estados Unidos um novo livro de memórias, Point to point navigation: a memoir. Esse alarmismo soa batido em tempos internéticos, mas ganha frescor quando se sabe que o trecho faz parte de um ensaio, French letters, publicado em 1967. O prognóstico sombrio de Vidal é lembrado pelo resenhista Larry McMurtry em seu longo artigo (acesso livre, em inglês) sobre o novo livro do escritor para a última edição do “New York Review of Books”. Em 1967 eu tinha cinco anos. Hoje, aos 44, constato que a igreja, sem dúvida esvaziada, ainda tem…