Na 11a e última aula de sua oficina literária online no Portal Literal, o romancista pernambucano Raimundo Carrero, autor de “Os segredos da ficção” (Agir), faz um resumão do curso tomando como fio condutor a bibliografia comentada que usou nas aulas – aulas que também é possível revisitar no arquivo do site. O aproveitamento de “lições” desse tipo vai ser sempre idiossincrático, claro, ou não será aproveitamento algum. Há tópicos para assimilar, para refutar e para esquecer. No geral, porém, Carrero reflete com lucidez sobre o ofício de escrever ficção. Eis o ponto mais louvável de sua abordagem: o fato de tratar como ofício o que ofício é, sem dar bola para a mitologia da “irrefreável expressão do eu” que a era da internet, num curioso retrocesso, tanto reavivou. O autor de “Sombra severa” (Iluminuras) chega ao exagero de sustentar – como neste artigo publicado ano passado em NoMínimo, em resposta a uma crítica de Antonio Fernando Borges às novas gerações de escritores – que qualquer pessoa pode se tornar ficcionista, que talento é balela. Nesse ponto eu subo no caixote para discordar com a maior ênfase possível: acredito, como Nelson Rodrigues, que o sujeito precisa de talento até para…