Juan Carlos Onetti (1909-1994) é um dos menos conhecidos dos grandes escritores latino-americanos. Eu mesmo confesso que demorei demais a conhecê-lo. Mas que é um dos maiores – para muita gente mais nervosa no manejo dos superlativos, o maior – ficou claro para mim ao ler o romance “A vida breve”, na edição de 2004 da editora Planeta, com tradução impecável de Josely Vianna Baptista, que agora nos dá esses “47 contos de Juan Carlos Onetti” (Companhia das Letras, 448 páginas, R$ 42). O mais recente título da coleção de contos da Companhia – aquela com belas capas em estilo retrô de Jeff Fisher – traz todas as histórias curtas escritas por Onetti ao longo de seis décadas, de 1933, em Montevidéu, onde nasceu, a 1993, em Madri, cidade que adotou após ser exilado pelo regime militar, em 1975. Mestre da sutileza e do desencanto, com suas narrativas em que “nada acontece” ocupando quase programaticamente o pólo oposto ao das pirotecnias verbais e simbólicas do chamado realismo mágico, é até compreensível que esse uruguaio que se dividiu entre o jornalismo e a publicidade – sem jamais deixar de ser ficcionista – tenha sido mais lento que tantos de seus contemporâneos…