Em 2006 eu li muito, talvez nunca tenha lido tanto. Não é uma experiência de todo positiva. Ler por obrigação, tentando acompanhar o ritmo cada vez mais desembestado dos lançamentos, deve trair algum princípio formador do gosto pela leitura, desses que ficaram perdidos na pré-história da vida adulta. Tem algo de heresia nessa exasperação, nessa velocidade, e outro tanto de mau gosto e barbárie. Não me queixo. É até possível – embora por enquanto seja apenas uma suspeita a ser ponderada com calma em 2007, eis mais uma resolução para a lista – que tal modo de ler tenha a virtude de reproduzir numa escala individual a aceleração do fluxo de informações que é uma marca do nosso tempo, com todos os penduricalhos da diluição geral dos sentidos, da atenção curta, da impaciência do leitor etc. E por que isso seria uma virtude? Sei lá – porque mergulhar de forma suicida no Zeitgeist deve servir para alguma coisa. Nem que seja para descobrir onde fica o botão que desliga essa joça.