Grandes estilos representam a interface entre “mundo” e “eu”, e é na própria noção de ser tal interface diferente da nossa em espécie e qualidade que reside o poder da ficção. Escritores fracassam quando essa interface é feita sob medida para nossas necessidades, quando agencia as generalidades do momento, quando nos oferece um mundo que sabe que aceitaremos, por já tê-lo visto na televisão. A má literatura nada faz, nada muda, não educa as emoções, não redesenha circuitos interiores – fechamos o livro com a mesma confiança metafísica na universalidade de nossa própria interface que tínhamos ao abri-lo. Mas a grande literatura, esta o obriga a se submeter à sua visão. Você passa a manhã lendo Tchecov e, de tarde, dando uma volta na vizinhança, o mundo se tornou tchecoviano (…). Nunca li Zadie Smith, uma das mais festejadas jovens escritoras inglesas, que teve seus dois primeiros romances, “Dentes brancos” e “O caçador de autógrafos”, lançados no Brasil pela Companhia das Letras. Admito que, quando a imprensa começa a bater demais na tecla do “jovem gênio”, desconfio de marquetagem – quase sempre com razão. Mas com este longo e original ensaio sobre o que vem a ser literatura (acesso livre,…