Não tenha dúvida: o ato de escrever era infinitamente mais complicado (e sobretudo mais moroso) antigamente. O que não impediu que alguns praticantes lhe acrescentassem novos estorvos – que, para eles, deduzo, não eram propriamente estorvos; antes, um estimulante. Assim como o visconde de Valmont, o libertino personagem de Chordelos de Laclos, seu contemporâneo Voltaire, por exemplo, adorava redigir cartas e escritos menos íntimos sobre as costas nuas de suas amantes. Tão singular mesa de trabalho não lhe afetou a criatividade. Nem a saúde; muito pelo contrário: Voltaire produziu bastante e chegou aos 84 anos. É de se presumir que, ao rabiscar palavras sobre o dorso desnudo de uma dama, Voltaire vez por outra também estivesse como Deus o criou. Nisso não foi um inovador. Alguns gregos da Antiguidade já haviam feito a mesma coisa, não raro apoiando-se (e inspirando-se) na região glútea de um efebo. “Com a bunda de fora, eu nem sequer anoto um número de telefone”, revelou Truman Capote, que, apesar de tudo, não gostava de misturar os canais. Para ele, havia a hora de deitar com os efebos e a hora de deitar para escrever. “Sou um escritor completamente horizontal”, definiu, numa entrevista, citando Mark Twain…