Existem coisas que a gente só faz quando está sozinho. Caminhei até a estante reservada às primeiras edições dos meus romances e de suas traduções e acariciei as lombadas tão conhecidas. Depois, como se sob o efeito de uma compulsão irresistível, retirei, em primeiro lugar, o novo livro e, mais tarde, todos os outros, para dar uma espiada em certas passagens. No fim, passei a noite inteira em minha poltrona, além de todo o dia seguinte, até boa parte da noite, sem quase nenhuma interrupção, embora suspeitasse estar com febre. Reli toda a minha produção. A certa altura, sentenças inteiras que eu tinha escrito pareciam se desintegrar como as figuras num caleidoscópio, quando a gente gira o tubo, só que minhas palavras não se reagrupavam nem se fundiam em novas maravilhas de cor e desenho. Jaziam na página como cacos vulgares e odiosos de vidro. A conclusão a que cheguei resumiu-se ao seguinte: nenhum dos meus livros, nem o novo romance nem qualquer um dos outros que escrevi antes, era muito bom. Com certeza, nenhum deles tinha o mérito literário que a crítica lhe atribuíra. Nem mesmo meu segundo romance, o que ganhou todos os prêmios e sobre o qual…